Mercado de Filtros: Pandemia, cenário atual e perspectivas para 2022
Carla Legner - Edição Nº 113 - Novembro/Dezembro 2021 - Ano 20 -
A redução das atividades econômicas devido à pandemia e a necessidade do distanciamento social, para evitar o contágio do vírus, refletiu na economia como
A redução das atividades econômicas devido à pandemia e a necessidade do distanciamento social, para evitar o contágio do vírus, refletiu na economia como um todo. Como resultado, o PIB apresentou queda de 4,1%. Segundo a Abrafiltros – Associação Brasileira das Empresas de Filtros e seus Sistemas Automotivos e Industriais, alguns setores acabaram caindo ainda mais, porém isso não ocorreu de forma linear para todos.
Dentro dos diferentes segmentos que compõem o mercado de filtros, as áreas de filtros industriais, farmacêutica, cosméticos, alimentos e bebidas, usinas de açúcar, álcool e outras tiveram crescimento durante a pandemia, enquanto o setor automotivo registrou queda, a produção de veículos caiu 31,6% em 2020. “Estamos em um momento de recuperação, após o difícil ano de 2020 e início de 2021, no qual tivemos de enfrentar o período mais agudo da pandemia” – afirma João Moura, presidente da Abrafiltros.
Para maioria das empresas, a falta e o aumento dos custos de matérias-primas, a demanda dos clientes versus as entregas e o próprio enfrentamento da pandemia, com a implementação dos protocolos de saúde e segurança dos colaboradores, foram os principais desafios durante todo esse período.
“Outra questão importante foi manter todos os investimentos, ou seja, tudo que estava previsto precisou ser implementado e desta maneira nos manteve competitivos dentro do mercado. Atualmente temos um público interno vacinado bem considerável, o que nos permite mais segurança para todos, mas não flexibilizarmos os protocolos de segurança e saúde” - destaca José Augusto da Silva Moraes, diretor geral da Parker.
Para Cristian R Neto, CEO da Wega, a pandemia afetou de várias formas o setor. A primeira reação, negativa, foi o isolamento necessário. Este início trouxe a necessidade de evoluir e testar novas ferramentas, que talvez não seriam experimentadas fora dessa situação, como o home office e as reuniões por meio de plataformas virtuais. O que mais tarde se tornou positivo, permitindo em um mesmo dia contato com clientes de várias regiões do Brasil e com maior número de pessoas.
Por outro lado, pensando no cuidado, muitas pessoas trocaram o transporte coletivo pelo carro próprio, aquecendo o mercado de seminovos e realizando as manutenções preventivas para não ficarem na mão. “O maior desafio está em continuar atendendo o mercado com índices de entrega acima de 95%, procurando o equilíbrio de preços competitivos e rentabilidade para a empresa, e ainda lidando com um mercado cada vez mais diversificado diante de uma frota cada vez mais ampla de marcas e modelos, o que nos leva a um aumento considerável no portfólio de produtos” – destaca Neto.
De maneira geral, o que podemos dizer de concreto é que houve tanto aspectos positivos, quanto negativos. Da parte boa, é possível destacar ainda os investimentos constantes em comunicação com todos os elos da cadeia, já que devido a pandemia foi necessário diminuir algumas visitas físicas e ter um contato mais on-line. “Essas ações foram extremamente relevantes, uma vez que a comunicação vem tendo um papel importantíssimo na pandemia, não apenas nas vendas, mas também em esclarecer e levar informações qualificadas ao mercado” – afirma André Moura, CEO da DBD LAFFI.
A pandemia mostrou ainda áreas onde foi possível trabalhar em home office, e mesmo à distância manter a excelência no desempenho das funções. Isso porque, por ficarem mais em casa junto aos familiares, há colaboradores que se sentiram mais dispostos com a execução das tarefas, evitando deslocamentos e demais implicações. Isso foi possível através da internet, dos diferentes meios de interação corporativa e das redes sociais.
Do ponto de vista negativo, o distanciamento social impactou no desenvolvimento das relações interpessoais, resultando na necessidade de adaptação na forma de realizar contatos e estabelecer novos relacionamentos.
“Plataformas para a venda online, a flexibilização das relações trabalhistas, tais como a antecipação de férias, redução de jornada, suspensão temporária de contratos de trabalho e o trabalho remoto apresentaram benefícios incríveis, sem falar na redução de custo. A tendência é que isso continue mesmo depois de passada a pandemia” – ressalta Alexandre Augusto Domingues, Presidente da ABRAFIPA – Associação Brasileira das Empresas de Filtros, Purificadores, Bebedouros e Equipamentos para tratamento de água.
Alternativas para o setor e principais ensinamentos
Em geral, de acordo com a ABRAFIPA, a venda de aparelhos registrou uma redução de 20% em 2020, no auge da pandemia. Já a venda de elementos de reposição teve um aumento de 15%. Sendo uma oportunidade para que o setor encontrasse indícios de um retorno positivo em 2021.
Segundo Domingues, foi solicitado para várias esferas de governo (federal, estadual e municipal) que reconhecessem a atividade de manutenção e o comércio de elementos de reposição como atividade essencial. O Governo Federal expediu ofício reconhecendo isso, porém, dada a autonomia dos governos estaduais e municipais, esse parecer não pode ser aplicado em todo o comércio e serviços de manutenção, que teve de obedecer a decisões locais.
O setor automotivo, seguindo essa linha, com o crescimento da procura por seminovos também conseguiu encontrar um respiro como itens de reposição. Além disso, o mercado mobil - linha pesada, construção, agrícola e industrial - está conseguindo passar por essa pandemia de forma positiva. Segundo Moraes, o setor continuou forte devido uma autorização de continuação das atividades essenciais, por isso o consumo de filtros não diminuiu e sim aumentou.
“Apesar das restrições no fornecimento de matérias-primas e o aumento de custos, para o mercado da linha pesada automotiva (On e Off-Highway), o ano foi muito bom em volume de vendas” - complementa Leandro Figueiredo Perez, sales & marketing manager da Cummins.
Neto destaca ainda, que se tratando de números, está havendo um crescimento no setor, tanto pelo aumento da frota circulante reparável fora dos prazos de garantia das fábricas, até por uma mudança no mix de produtos. Os novos motores mais modernos e eficientes, como os motores pequenos com turbo, exigem mais tecnologia em filtragem e consequentemente utilizam produtos de maior valor agregado.
Além disso, cada vez mais há modelos de veículos com filtros de cabine, que ajudam a manter a imunidade melhor, uma necessidade imprescindível nesse momento. Sem falar dos novos segmentos de filtros, como os filtros para câmbio automático.
“Apesar disso eu tenho uma teoria que o mercado potencial é muito superior ao mercado real, já que ainda por falta de conhecimento, muitas pessoas ainda não realizam a manutenção adequada, ou seja, a troca completa de todos os filtros no momento que deveria” – enfatiza Neto. Segundo ele, do lado da empresa, estão trabalhando na conscientização, mostrando os benefícios reais desta troca completa.
Por outro lado, João Paulo Real Tardelli, Latin America marketing leader, da Pall Corporation, destaca que a queda de produção e de vendas no segmento automotivo ocasionou sim uma redução na venda dos elementos filtrantes. Nesse sentido, ele conta que para empresa o maior desafio foi manter a proximidade junto ao cliente a fim de atender todos as necessidades e oferecer suporte nesse período.
Ainda sim, Neto enxerga o setor com muito otimismo, visando um mercado crescente e mais diversificado, que embora gere muito mais trabalho para ser atendido acaba ajudando aquelas empresas que sabem investir no crescimento. “Sempre temos aquela questão de custos e falta de peças, para o qual estamos nos preparando, mas também aumentando o nosso portfólio e atendendo a segmentos que não atendíamos no passado” – enfatiza.
Para ele, exemplo claro disso é o aumento considerável nas vendas de filtros para linha pesada, incluindo caminhões e equipamentos agrícolas, de mineração e de construção, além do aumento das vendas para a linha de motos, setor que cresceu muito no pior momento da pandemia.
De acordo com André Moura, independente dos problemas, é preciso focar sempre na solução conforme o conceito de viabilidade econômica e continuar com os investimentos.
“O mercado de filtros continuará crescendo independente das turbulências, uma vez que é pautado pelas necessidades do próprio mercado e as exigências ambientais, que vão demandar cada vez mais aplicabilidade dos filtros e sistemas de filtração” – ressalta.
Ele afirma ainda que as dificuldades e os problemas continuarão em relação ao abastecimento de uma forma geral pela falta de matéria-prima, com o sobe e desce das bolsas de valores do mundo, as altas da cotação do dólar e as turbulências representativas do setor político e econômico. Mas, apesar de tudo isso, as leis e as exigências ambientais e hídricas irão gerar e exigir cada vez mais o uso e a aplicação dos filtros, desta forma o setor deverá continuar em crescimento para atender essas demandas.
E não podemos esquecer que o mercado de filtros e sistemas de filtração também cresce diariamente por ser uma área de importância vital relacionada à saúde. Um bom exemplo disso é o mercado de máscaras de proteção, outra oportunidade durante a pandemia.
“Tudo que nós aprendemos com a pandemia será usado e aperfeiçoado e isso sempre acaba gerando novas tecnologias. O desenvolvimento tecnológico caminha a passos largos para suprir as necessidades dos diferentes segmentos, e no mercado de filtros não é diferente. O mundo dos filtros vem trazendo novidades e avanços em todos os segmentos” – destaca o CEO da DBD LAFFI.
Perspectivas para 2022
Segundo a Abrafiltros, 2021 já está sendo de recuperação econômica, após o ano difícil de 2020. A associação espera uma recuperação mais rápida, mas sem esquecer que o vírus continua circulando e só será possível voltar a um ritmo de atividade normal quando os níveis de contágio estiverem realmente baixos e controlados.
“O setor industrial, na maioria dos seus segmentos já estão apresentando resultados bastante positivos e a expectativa macroeconômica é de que o setor industrial cresça quase 6% em 2021. Para o segmento de filtros, especificamente, as nossas projeções preliminares indicam que ficaremos com um número bem próximo disso, possivelmente em um patamar superior, o que significa que talvez já consigamos voltar ao nível de atividade pré-pandemia” – afirma João Moura.
Após o período de recuperação é esperado que o segmento continue crescendo em 2022 (cerca de 3,5%), um patamar um pouco mais baixo do que neste ano de 2021. Segundo o presidente da Abrafiltros, embora as perspectivas de curto prazo não estejam muito boas, como a crise hídrica e a possibilidade do apagão energético, acreditasse que o setor tenha perspectivas boas no médio e longo prazo.
Um bom exemplo disso, é que depois de muitos anos negligenciado, o saneamento ganhou novas regras em 2020, com a promulgação do marco regulatório (Lei 14.026/20) que, entre outros pontos, estabelece a universalização dos serviços: até 2033, 99% da população brasileira deve ter acesso a serviços de fornecimento de água e 90% a tratamento de esgoto. Para conseguir obter tal meta, estudos indicam que o País precisará investir quase R$ 753 bilhões até 2033.
“É uma necessidade do país, que só precisa se estabilizar, voltar a olhar para o futuro e se unir para voltar a crescer” – enfatiza João Moura.
A questão ambiental é parte intrínseca do saneamento, mas deverá conduzir a atuação dos mais diversos setores, pois é uma demanda fundamental para a continuidade da vida e da economia. E os filtros são essenciais nesse processo.
De acordo com ABRAFIPA, hoje, o mercado já superou a crise pandêmica e voltou ao patamar de anos anteriores. Para 2022 projeta-se um crescimento de 20%. Por parte da associação serão investidas ações para maior divulgação do Selo ABRAFIPA para os elementos de reposição, de modo que o consumidor busque produtos com este Selo e as empresas sejam incentivadas a adotá-lo, além da melhor fiscalização por parte do Inmetro, na apuração de denúncias de produtos irregulares no mercado.
De encontro com esses dados, Moraes destaca um aquecimento bem interessante da companhia em 2021 vs 2020, em torno de 22%, e comparando 2021 vs. 2019 está em torno 10%. Segundo ele, esses números refletem o ótimo trabalho de todas as áreas da empresa. Em 2020, a Parker terminou o ano de maneira positiva. Em 2021, o desempenho segue bem e há a expectativa de superar ainda mais essas médias de crescimento nos próximos meses, devendo finalizar o ano ainda melhor.
“Acho que o mercado chegou em uma estabilização em 2021, porém com crescimento menos agressivo que foi no ano passado em 2020, mas continua a tendência positiva em 2021 para nós, ainda no patamar de dois dígitos de crescimento. A nossa principal ação é continuar aumentando o nosso market share dentro dos clientes atuais como também aumentar a nossa participação em mercados emergentes” – afirma o diretor da Parker.
Nesse sentido, as expectativas para 2022 são muito boas, com tendências positivas e retorno esperado, para que novos investimentos sejam colocados em prática com o intuito de continuar crescendo no mesmo patamar. Moraes destaca que a empresa conta com muitos investimentos no pipeline e também vários produtos para serem lançados.
“Sentimos que o segmento começou a investir em modernizações e melhorias, mas que ainda não foram convertidas. As expectativas são de que o setor volte a crescer com o final da pandemia e pelos investimentos que observamos. A Pall vem sempre inovando seus produtos e a expectativa para 2022 é de novidades para o mercado” – complementa Tardelli.
Para Cummins, as expectativas não são diferentes. Perez afirma que para 2022 a empresa enxerga uma melhora nas condições da cadeia de fornecimento e um mercado aquecido com o arrefecimento da pandemia.
Apesar das situações positivas e negativas, o fato é que a pandemia interferiu drasticamente não só no setor de filtros, mas na economia mundial e na disponibilidade de insumos, que vem se ajustando no decorrer do tempo. “As sequelas devem perdurar por um bom tempo, até que tudo seja decifrado e esclarecido do ponto de vista da ciência, para que nós possamos voltar com segurança a uma vida normal sem medo” – completa André Moura.
Ainda há outros desafios
Por característica própria, o mercado de filtros é multifacetado, pois possui relações com os mais diversos setores da economia, como o de saneamento, mineração, siderurgia, celulose e papel, farmacêutica, indústria de alimentos e bebidas, entre muitos outros. Segundo João Moura, depois do período mais difícil, agora o setor está tentando recuperar o tempo perdido.
“Os setores dão respostas diferenciadas e estamos entre os que estão resistindo bravamente, pois o mercado de filtros não depende apenas do curto prazo, pelo contrário, ele pensa muito em longo prazo, com projetos que precisam de tempo de planejamento e maturação” – afirma. Nesse sentido, segue o enfrentamento com o problema da pandemia, ainda que com menor intensidade, e a crise econômica como um todo. E não podemos esquecer os desafios e as incertezas políticas com as eleições.
“O problema do custo do frete internacional não estará resolvido e ainda teremos um valor cambial alto, tudo isto levando para uma situação de inflação. Porém, indo para o lado bom da coisa, entendo que já teremos toda a população vacinada e ainda adotando mais o hábito do carro próprio e com uma vontade reprimida de viajar, onde eu enxergo um mercado bem aquecido para 2022” – lembra Neto.
Ele destaca mais uma vez o quesito conscientização da troca completa de filtros, mostrando que como sempre, a manutenção preventiva é muito mais em conta que a manutenção corretiva. Isso porque, diante de todo um descompasso de preços, o filtro é um item barato comparado, por exemplo, com os aumentos no óleo lubrificante.
“Acredito que se conseguimos passar com mais força esta mensagem de troca completa estaremos fazendo um serviço tanto para o dono do carro quanto para o meio ambiente. Por outro lado, sempre penso que a inspeção veicular, nunca deveria ter parado, pelo contrário, deveria ter se expandido para outros Estados, e isto iria trazer um crescimento gigante no nosso mercado de filtros. Tudo que pudermos fazer juntos neste sentido iria trazer muitos benefícios para todos os colegas e também para toda a população em geral” – ressalta o CEO da Wega.
Como balanço geral é possível dizer que nesse período foi necessário repensar hábitos, modos de vida e de gestão, os quais o setor e empresas já estavam acostumados, mas ao mesmo tempo pensar que são as dificuldades que trazem a necessidade da inovação e da renovação. Com isso foi possível otimizar os trabalhos, mesmo com o distanciamento, como foi o caso do home office.
Os processos também precisaram ser muito mais apurados, pois é nos períodos difíceis que as exigências aumentam. Atendimento ao cliente, negociação com bancos, relacionamento com funcionários, tudo teve de ser repensado. Segundo João Moura, é preciso destacar, sobretudo, a capacidade de reinvenção que algumas empresas tiveram na busca pelo desenvolvimento de novos produtos e processos, o que em tempos de crise tornou-se uma saída efetiva e salutar.
E nesse contexto é importante destacar que desde 2006, a Abrafiltros vem trabalhado para ampliar e consolidar a representatividade do mercado de filtros e áreas de atuação. Este ano, com a comemoração dos seus 15 anos de fundação, diversas ações estão sendo colocadas em práticas.
Além da consolidação dos resultados do Programa Descarte Consciente Abrafiltros (em 2021 já ultrapassaram a marca de 20 de milhões de filtros reciclados) e da implantação de seu Programa de Compliance, ISO 9001, Adequação à LGPD e da realização do 1° Seminário Brasileiro de Filtros, está sendo realizando um amplo levantamento estatístico e análise econômica para apurar os dados mais precisos do segmento. “A ideia é abordar as principais fontes, consultar as empresas do setor e especialistas do mercado” – finaliza João Moura.
Contatos
Abrafiltros: www.abrafiltros.org.br
Abrafipa: www.abrafipa.com.br
Cummins: www.cummins.com.br
DBD LAFFI: www.laffi.com.br
Pall Corporation: www.pall.com
Parker: www.parker.com
Wega: www.wegamotors.com