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Anfavea acredita que a redução do IPI possa ter reflexos positivos

Fevereiro teve média diária de vendas de veículos maior, porém balanço do bimestre ainda é negativo. Guerra na Ucrânia preocupa


Fernando Miragaya, AB

A venda de veículos leves e pesados no Brasil continua em queda na comparação com o ano passado. Os dados foram divulgados nesta terça, 8, pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A entidade, porém, acredita que a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) possa ter reflexos positivos já nos números de março. 

Segundo o balanço da entidade, em fevereiro foram licenciados 129.275 unidades, o que significa uma discreta alta de 2,2% ante janeiro. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, porém, a queda é de 22,8%. No bimestre, o resultado também é negativo. Com 255.793 unidades entregues no acumulado, o desempenho ficou 24,4% abaixo do volume licenciado nos dois primeiros meses de 2021. 

Média diária foi maior em fevereiro

Na parte de automóveis e comerciais leves, foram 120.458 modelos comercializados, número 3,2% superior ao de janeiro, mas 24% menor que o de fevereiro do ano passado. 

Apesar da queda no bimestre, o desempenho de fevereiro pode ser considerado significativo, uma vez que o setor ainda enfrenta problemas no fornecimento de semicondutores e o mês é tradicionalmente o "mais curto". Mesmo com um dia útil a menos, a média diária foi de cerca de 6.500 unidades, contra 6 mil do mês anterior. 

“Em janeiro enfrentamos os desafios da variante Ômicron da Covid-19 e a falta de componentes. Em fevereiro tivemos um dia útil a menos e, mesmo assim, conseguimos aumentar discretamente o desempenho”, afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, durante apresentação online dos números.

Já o segmento de pesados registrou um comportamento oposto. Em fevereiro, foram 7.943 unidades de caminhões e ônibus vendidos no país, queda de 8,8% ante as vendas de janeiro. Porém, no bimestre, as 16.648 unidades configuram alta de 2,1% em relação ao acumulado no mesmo período do ano passado.

Reflexo do IPI menor deve movimentar o setor

Ainda de acordo com a associação que reúne as montadoras, os estoques de fevereiro somaram 6 mil unidades e o total chegou a 120 mil veículos. Considerando montadoras e rede, os estoques chegam a 27 dias. Com o recente anúncio da redução do IPI, a Anfavea acredita que março poderá ser um momento de retomada.

“Esperamos que março seja melhor. A média diária já está melhor e tem o impacto do IPI, que deve ajudar em um mês que não tem feriados e que tem mais dias úteis para ajudar os volumes do setor”, aposta Moraes.

A medida do Governo Federal, inclusive, foi elogiada e considerada “corajosa” pelo presidente da Anfavea. O executivo ressaltou que um grupo de trabalho da entidade criado há três anos atrás para analisar a reforma tributária vem discutindo a redução e a futura eliminação do IPI.

“Concluímos que o IPI não faz sentido dentro da reforma tributária e começamos a discutir com o ministro da Economia Paulo Guedes formas de reduzir de forma horizontal o imposto e caminhar para a reforma tributária. Já que o IPI não vai existir no futuro, por que não promover a redução do IPI para estimular o consumidor?”, explicou Luiz Carlos Moraes.

Guerra na Ucrânia e ICMS paulista

Só que a empolgação da Anfavea está comedida. Apesar da diminuição do IPI, a entidade ainda critica a manutenção do ICMS praticado em São Paulo (de 14,5%, contra 12% da maioria das demais unidades da federação). Para o presidente da associação, o estado paulista está na contramão.

“Isso não é compatível com o momento atual. Não faz sentido o maior estado do país penalizar o consumidor. Estamos entrando em uma fase difícil da economia e São Paulo já deveria ter reduzido o ICMS. Esperamos que o imposto volte ao patamar normal, pois isso é importante para a recuperação do setor automotivo do país”, criticou.

Por “fase difícil da economia”, entenda-se o conflito entre Rússia e Ucrânia. Além de afetar a indústria global como um todo, o conflito armado no leste europeu provavelmente vai respingar na economia brasileira e, especialmente, no setor automotivo.

Apesar de reconhecer que ainda é cedo para falar em números e impactos do conflito, Moraes elencou aspectos que preocupam a Anfavea, além das questões humanitárias que foram citadas durante a coletiva online da entidade. Desde a questão do fornecimento de fertilizantes - que podem impactar o agronegócio e, consequentemente, máquinas agrícolas e caminhões - até a questão de logística e do frete marítimo.

Ao mesmo tempo, ainda há o fato de que Rússia e Ucrânica são os maiores produtores de matéria-prima para a produção (já comprometida mundialmente) de semicondutores. E também o possível impacto no preço de commodities, como petróleo, aço, cobre, gás etc.

Tal impacto pode gerar uma pressão inflacionária que pode elevar, ainda, a taxa de juros no país. Neste sentido, Moraes diz que vê com muita preocupação as análises de economistas, que apontam que a taxa Selic pode ir para 13% ou 14% e defende que haja bom senso por parte das autoridades financeiras do país.

“O Banco Central precisa ter muita atenção na calibragem da taxa de juros. Tenho sérias dúvidas se a taxa de juros vai realmente impactar a inflação. Acredito que o melhor seja segurar um pouco a taxa para manter a economia rodando e admitir uma inflação em um nível aceitável. Aumento de juros vai impactar negativamente a atividade econômica, especialmente no segundo semestre. Se errarem a dosagem, podemos ter um desastre”, acredita o presidente da Anfavea.

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