GWM deve se habilitar no programa Mobilidade Verde e Inovação
Automotive Business -
GWM deve submeter projeto até o fim do mês; autopeças aguardam regras para segmento
A montadora chinesa GWM deve se habilitar no programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) até o fim deste mês. Segundo o diretor de Relações Institucionais e Governamentais da empresa, Ricardo Bastos, a companhia está finalizando o alinhamento com a matriz do projeto de produção e desenvolvimento no país.
“Decidimos submeter o projeto por partes junto ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Não precisamos neste primeiro momento nos habilitarmos em todos os tópicos”, disse Bastos.
A GMW vai investir R$ 10 bilhões até 2032 e, segundo Bastos, os primeiros R$ 4 bilhões que serão aplicados na operacionalização da fábrica brasileira já estão validados com a matriz. O início da operação deve ocorrer no fim deste ano.
“Nosso cronograma foi adiado, pois tivemos que adequar o projeto à nova realidade do mercado brasileiro com o retorno da cobrança do Imposto de Importação. Além disso, esperamos a publicação do Mover para analisarmos em quais tópicos iríamos nos qualificar no programa neste primeiro momento”, afirmou o executivo.
Um dos tópicos, segundo Bastos, que a GMW deve ainda se habilitar é o que fala sobre a importação de linhas de produção usadas. Para o executivo, a companhia poderá trazer equipamentos para os testes de qualidade dos veículos elétricos, por exemplo.
“Existe o interesse em usar essa possibilidade. Poderemos usar uma linha complementar trazida da China, como os equipamentos para testes de validação e de qualidade dos veículos elétricos. Seria muito bom para operação na fábrica e na qualidade”, ressaltou Bastos.
Regras para autopeças ainda na gaveta
O Mover, no primeiro dia para habilitação, recebeu 23 pedidos de habilitação entre montadoras e empresas que estão ligadas diretamente ao setor automotivo. O programa federal prevê, entre outras medidas, créditos financeiros para quem investir em pesquisa, desenvolvimento e produção tecnológica que contribuam para a descarbonização da frota de carros, ônibus e caminhões.
Uma vez habilitadas, as empresas podem apresentar seus projetos e requisitar os créditos proporcionais aos investimentos – que variam de R$ 0,50 a R$ 3,20 por real investido acima de um patamar mínimo. Quanto maior o conteúdo nacional de inovação presente nas etapas produtivas, maior o crédito.
A busca por mercados externos também resulta em incentivos adicionais. Caso não realize os investimentos previstos, a empresa é desabilitada e tem de devolver os recursos recebidos.
As regras para a pesquisa e desenvolvimento para produção de autopeças, no entanto, ainda não foram publicadas. No último dia 15, Margarete Gandini, coordenadora-geral de implementação e fiscalização de regimes automotivos do MDIC, afirmou que será publicada portaria de habilitação do regime de peças não-produzidas no país.
Pequenos e médios fornecedores buscam habilitação
Os fornecedores, de todos os elos da cadeia, aguardam as regras para habilitarem projetos dentro do Mover. Segundo Luis Gonzalo Guardia Souto, diretor do Sindipeças para PMEs e Instituto de Educação Corporativa, no Rota 2030, dos 510 associados, 308 obtiveram recursos, sendo que 60% dessas autopeças eram pequenas e médias (PMEs).
“O setor automotivo tem relevância no país, hoje, representa 15% do PIB, mas já foi mais de 20%. Além disso, é uma cadeia longa e diversa. Para se ter uma ideia, a cada real investido pelas empresas do setor, R$ 4 voltam para a economia”, disse Souto. “Vejo com muito bons olhos essa neoindustrialização.”
Segundo ele, no entanto, o país carece de mais programas destinados às PMEs (pequenas e médias empresas). “Uma empresa grande pode conseguir mais facilmente os recursos, mas ela pode, indiretamente, demandar o fornecimento das menores. Isso faz com que toda a cadeia fique competitiva”, afirmou o dirigente.
PMEs já acessaram recursos no Rota 2030
A Selco, fabricante de autopeças usinadas e de peças de compressores alternativos, em 2019, foi habilitada para o Rota 2030 Empresarial, que é um recurso a fundo perdido, para a transformação digital da empresa. A empresa tem faturamento de R$ 60 milhões por ano e emprega 150 pessoas.
“Temos limitações técnicas, financeiras, tecnológicas, então, começamos a pesquisar mais recursos sempre tomando cuidado para não abraçar mais projetos do que temos condições de executar. Nos últimos dois anos implementamos dois milhões de reais”, disse André Silva, sócio e diretor-executivo da Selco. A empresa tem fábrica em São Bernardo do Campo (SP) e filial na Argentina.
O executivo ressaltou que a companhia avalia o Mover e as linhas em que pode se habilitar. “Com os novos programas, continuamos acompanhando as oportunidades que surgem. Dentro do nosso planejamento estratégico se há como submeter algum projeto, que pode ser ainda em um edital com uma linha empréstimo reembolsável com juros mais baixos”, afirmou Silva.
A Engrecon, fabricante de engrenagens para transmissão, motores, caixas de transmissão e eixos para veículos pesados, também usou recursos do Rota 2030 e já avalia as linhas que devem estar disponíveis no Mover.
Segundo Márcia Nadalini, CEO da companhia, os recursos do Rota 2030, por meio da linha Finep Empresarial, foram aplicados na digitalização e aumento da produtividade e eficiência da companhia.
“Fizemos um levantamento interno e analisamos as diversas linhas do Mover. Contratamos um gerente de inovação para entendermos como podemos utilizar as linhas que serão disponibilizadas”, disse Nadalini.
A executiva ressaltou que a companhia pode usar o Finep Agroindustrial, o Finep da Mobilidade Urbana para o desenvolvimento de produto e em melhorias de processos. “Uma empresa do nosso porte nunca estaria fazendo inovação se não tivesse uma linha dessas. É um investimento de risco e alto.”
Mover contempla o agro
Alexandre Tuzzi, diretor-presidente da Tuzzi, disse que a companhia, fornecedora de sistemas de tração e terceiro ponto para o mercado agrícola, também avalia quais projetos podem homologar dentro dos programas industriais.
Segundo ele, a empresa tem na gaveta estudos para componentes de tratores autônomos. “Temos um projeto audacioso, onde já visualizamos trabalhar em tratores autônomos. Tem um viés mais do Mover”, afirmou Tuzzi.
O executivo ressaltou que a empresa também já acessou recursos no Finep Empresarial do Rota 2030 para desenvolver uma linha de tratamento térmico, para produzir um novo produto que usa 40% menos de matéria-prima mas tem a mesma resistência mecânica.
“Há muito pouco tempo usamos linhas de financiamento desse tipo. Isso tem chegado mais às empresas nacionais de médio porte, coisa que no passado, não era tão familiar”, disse Tuzzi, acrescentando que a companhia já acessou R$ 5 milhões nos últimos três anos.