Captura, armazenamento e utilização de carbono no Brasil

Durante evento de lançamento do estudo, empresas demonstraram interesse em investir na tecnologia e CCS Brasil destacou os principais desafios para o setor


A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) lançou na última quinta-feira (25) o Caderno “Captura, armazenamento e utilização de carbono (CCUS) no Brasil”, um estudo completo com georreferenciamento sobre os potenciais brasileiros para o desenvolvimento das atividades de Captura e Armazenamento de Carbono no Brasil, considerando diversos aspectos técnicos e econômicos. O evento contou com a presença da CCS Brasil além de representantes de grandes empresas como Vale, Eneva, FS Bioenergia, Repsol, Petrobras e Equinor, que também demonstraram interesse em investir em projetos de CCS no Brasil.

O estudo destacou as principais áreas para reservatórios e poços exploratórios destinados ao armazenamento, os principais emissores de CO2, a disponibilidade de infraestruturas de transporte e de regiões de interesse para o mercado de créditos de carbono. O documento destaca que as regiões Sudeste e Nordeste possuem potenciais maiores para o armazenamento com utilização de bacias hidrográficas favoráveis, enquanto as regiões Sul e Centro-Oeste possuem forte potencial para o CCS aliado à produção de bioenergia (BECCS), especialmente por conta de seus potenciais agropecuários.

O estudo ainda destaca o importante potencial do CCS para as indústrias que possuem dificuldade em descarbonizar suas atividades, como a petroquímica, mineração, siderurgia, cimento, aço, papel e celulose, entre outras, além de também representar um potencial de remoção de carbono da atmosfera através da produção de hidrogênio de baixo carbono e bioenergia e de se reaproveitar instalações (de reservatórios de óleo e gás já existentes, por exemplo) ou de faixas de territórios já alteradas.

“Busca-se contribuir para o direcionamento das estratégias mais eficientes e para a tomada de decisões sustentáveis técnica e economicamente sobre o armazenamento geológico de carbono no país”, destaca o documento, ressaltando ainda que, por conta da aceleração dos efeitos do aquecimento global, são necessárias soluções de descarbonização em múltiplas frentes para o cumprimento de metas climáticas globais previstas para 2050. “Talvez o armazenamento de carbono não seja a solução para todos os segmentos ou para todas as regiões do Brasil, mas ela pode ser para alguns. E isso pode fazer muita diferença”, explicou Nathalia Castro, analista da superintendência de Petróleo e gás natural da EPE.

Isabela Morbach, diretora da CCS Brasil, afirmou que o mundo está em uma terceira onda de projetos de CCS, com a presença de mais 300 projetos anunciados por todo o mundo, e o crescimento do debate sobre essa tecnologia. “Estamos em um ponto de não retorno das mudanças climáticas e os países estão cada vez mais trazendo o CCS para o centro dos debates. Mesmo com a utilização de muitas soluções de descarbonização a gente atinge um teto que não é possível alcançar especialmente para o setor de energia e para as indústrias que são mais difíceis de descarbonizar. Não há como começar essas fábricas do zero e refazer toda a operação descarbonizada, então o CCS precisa ser uma opção para ser colocada em prática”, analisa ela, destacando que o CCS tem sido pauta dos principais eventos climáticos e sobre sustentabilidade do mundo.

Isabela ainda endossa as principais conclusões propostas pelo estudo da EPE de que é preciso encontrar meios para a viabilização efetiva dos projetos, de modo a incorporar a redução de emissões trazendo um cenário seguro para investidores e para o setor produtivo. “Todas as regulações estão caminhando para incorporar o CCS como algo financiável dentro do mercado de carbono. Já há algumas vendas de créditos de carbono para projetos de captura de carbono na Europa. Nos Estados Unidos, o programa IRA (Inflation Reduction Act) já destravou mais de 50 projetos ao oferecer um incentivo fiscal por tonelada de CO2 capturada, e novos investimentos diretos estão sendo previstos. Para o Brasil, precisamos regulamentar o setor para que novos projetos também possam sair do papel”, avalia a advogada.

Entre as necessidades para o cenário brasileiro, o estudo da EPE aponta a necessidade de investimentos na disponibilidade de dados geológicos e geofísicos, na infraestrutura para a expansão e construção de novas instalações no interior do país tanto para o transporte quanto para o armazenamento de carbono.

Para conferir o estudo na íntegra acesse aqui.

Renan Araujo <renan.araujo@tree.inf.br>

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