Exportações de sucatas ferrosas mantiveram a tendência de alta em junho

Decreto que institui a Estratégia Nacional de Economia Circular pode ajudar, mas é preciso avançar com um tratamento tributário diferenciado à reciclagem


As exportações de sucatas ferrosas, insumo utilizado na fabricação de aço, mantiveram a tendência de alta em junho deste ano, com um cenário internacional mais atrativo e o mercado interno ainda retraído. As vendas externas somaram, no mês passado, 68.026 toneladas, alta de 49% em relação ao mesmo mês de 2023, com 45.673 toneladas, e aumento de 27,2% comparadas a maio último, quando atingiram 53.472 toneladas.

No primeiro semestre do ano, as exportações atingiram volume praticamente equivalente ao mesmo período de 2023. De janeiro a junho, alcançaram 344.324 toneladas, ligeira queda de 2,6% se comparadas ao primeiro semestre de 2023, com total de 353.386 toneladas. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Economia, Secex. 

“O mercado interno continua retraído na produção de aço e algumas usinas siderúrgicas (aciarias) chegaram a suspender pontualmente a produção, ocasionando diminuição na demanda de sucatas ferrosas. Além disso, temos que considerar a superoferta de aço chinês no mundo e a protelação de medidas protetivas do Brasil em atendimento ao pleito da indústria, com a tarifa de importação”, afirma Clineu Alvarenga, presidente do Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa), associação de classe que representa mais de 5,5 mil empresas que praticam a sustentabilidade, impulsionando a economia circular e reinserindo materiais reciclados no ciclo da transformação. 

No dia 23 de abril, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior do Brasil (Gecex/Camex) decidiu elevar para 25% o imposto de importação de 11 produtos de aço e estabelecer cotas de volume de importação para esses produtos.

Por outro lado, a alta do dólar, que superou R$ 5,60 no final de junho, foi um estímulo a mais ao incremento das exportações de sucatas ferrosas, acompanhado da redução do frete internacional, que vinha impactando negativamente, conforme o Inesfa. “Com a tarifa de importação do aço em vigor, a tendência é de moderado aquecimento do mercado interno nos próximos meses. As exportações de sucatas ferrosas, que ocorrem apenas em volume excedente, devem ser menores neste mês de julho. Já é possível notar, inclusive, para alguns tipos de sucatas, melhoria na demanda interna com maior interesse dos consumidores”, afirma Alvarenga.

Transição para a economia circular

O Decreto nº 12.082, de 27 de junho de 2024, assinado pelo presidente Lula, que instituiu a Estratégia Nacional de Economia Circular, foi bem-recebido pelo Inesfa. A medida, muito aguardada pelo ciclo de reciclagem do país, tem a finalidade de promover a transição do modelo de produção linear para uma economia circular, de modo a incentivar o uso eficiente dos recursos naturais e das práticas sustentáveis ao longo da cadeia produtiva.

“O Decreto contempla vários pontos que o Inesfa defende há décadas e pode tornar-se um marco na história do país. Porém, é fundamental continuar os avanços trazidos pelo PL 1.800/21 (em análise no Congresso, que isenta recicladores e cooperativas de catadores do pagamento de PIS e Cofins na venda de materiais reciclados à indústria de transformação), e pela PEC da Reciclagem”, diz Alvarenga. A PEC, de autoria do deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), está em fase de assinaturas na Câmara dos Deputados e busca isentar o IBS e CBS (novos impostos previstos na reforma tributária) na venda de materiais reciclados às indústrias de transformação. 

 “É preciso olhar atentamente ao tratamento do setor da reciclagem na reforma tributária, para que recicladores e catadores tenham necessários estímulos ao exercício da atividade e a investimentos na transição da economia linear para a economia circular”, diz o presidente do Inesfa.

Contatos da assessoria

Mauro Arbex - - mauroarbex@letrasefatos.com.br

Marcelo Soderi marcelosoderi1966@gmail.com

Fernando Poyares  fampoyares@gmail.com

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