Como o setor químico transforma sua cadeia de valor em função da economia circular
Máquina Cohn Wolfe -
Além da necessidade da utilização de fontes renováveis, a reciclagem dos materiais tem contribuição importante para o modelo ao combater à poluição
Imagine um ciclo virtuoso, onde os recursos naturais, ao invés de serem explorados até o esgotamento, são continuamente reutilizados, reintegrados aos sistemas produtivos. Nesse cenário, o descarte desenfreado se torna obsoleto, dando lugar a um fluxo constante de transformações. O dia da Sobrecarga da Terra, celebrado nesta quinta-feira, 01, convida sociedade, governos e empresas a repensarem as formas de consumo e produção dos recursos naturais do planeta, uma vez que a lógica atual pode exceder a capacidade de regeneração de riquezas existentes.
“Ao priorizar a redução, a reutilização e a reciclagem de materiais, diminuímos a demanda por extração de recursos virgens, aliviando a pressão sobre ecossistemas e seus serviços ambientais. A pegada de carbono se atenua, contribuindo para a mitigação e adaptação das consequências indesejáveis das mudanças climáticas. Simultaneamente, novas oportunidades florescem, impulsionando a inovação em tecnologias e modelos de negócio mais sustentáveis”, afirma Rafael Viñas, Gerente de Projetos para Novos Negócios e Métricas de Sustentabilidade na BASF.
A economia circular se destaca como parte de uma solução que propõe uma alternativa atrativa e viável ao modelo linear atual, denominado por especialistas como ‘extrair, produzir, descartar’. A força da economia circular reside na sinergia entre os diferentes atores de uma cadeia de valor. Empresas repensam seus processos produtivos, consumidores adotam hábitos conscientes e governos incentivam a transição para esse modelo regenerativo. Dentro dessa lógica que se retroalimenta, isto é, circular, a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico caminham lado a lado.
A circularidade, como também é chamada processos dentro da economia circular, requer mudanças substanciais em termos de comportamento e uso de tecnologia, não ficando restrito às operações da própria empresa. “A proposta de valor aos clientes e fornecedores deve atravessar toda a cadeia de produção para ter sentido, pois, um conceito de economia circular inteligente tem que estar integrado no desenvolvimento de produtos, nos processos de produção, na utilização e reutilização de sistemas desde o início”, explica Viñas.
Para isso, ela explica, o pensamento circular não deve ser limitado às operações internas de uma empresa. Um conceito de economia circular propositivo precisa considerar o produto, o processo, o uso e o seu sistema de reutilização desde a concepção até o descarte.
Com sua capacidade de inovação, o setor químico desenvolve papel fundamental quando se trata de processos de novas soluções. A BASF já está aplicando a economia circular de várias maneiras: a Suvinil, marca de tintas decorativas da BASF, está olhando para o pós-consumo e as dores dos consumidores que não sabem como descartar corretamente sobras de tintas e embalagens. O programa de logística da marca, chamado Suvinil Circula, recolhe embalagens e sobras de embalagens para reciclagem e coprocessamento.
O aço do galão retorna para a cadeia do aço e o plástico vira PCR (post-consumer resin, ou resina pós-consumo, em tradução livre), um novo plástico feito a partir de resinas pós-uso, sendo uma opção interessante para dar novos usos para esse material.?Do lançamento, em 2020, a julho de 2024, os resultados do programa demonstram, que:
- Mais de 50 toneladas de resíduos foram coletadas;
- Mais de 28 mil kg reciclados;
- Mais de 18 mil kg em coprocessamento;
- Mais de 195 mil kg redução na emissão de CO2.
O descarte correto de embalagens e seu reaproveitamento também é uma tendência relevante dentro das melhores práticas de economia circular no setor da agricultura. A Divisão de Soluções para Agricultura da BASF tem participação ativa no Sistema Campo Limpo, por ser parte de um dos elos da cadeia deste mercado. A união de agricultores, indústria, revendedores e poder público garantiu a destinação ambientalmente correta de mais de 700 mil toneladas de embalagens vazias, desde o início das atividades em 2002.
O Brasil é referência no assunto graças a iniciativa realizada pelo inpEV - Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias. Aproximadamente 94% das embalagens colocadas no mercado são destinadas à reciclagem, enquanto os 6% restantes, são devidamente incinerados, garantindo uma destinação ambientalmente correta para 100% dos produtos consumidos em nosso país, de acordo com o inpEV.
Reciclagem de plásticos por espectroscopia
Essas embalagens, muitas delas sendo de materiais plásticos, são valiosas para a circularidade, desde que sejam devidamente classificadas durante o processo de reciclagem. Dado os múltiplos tipos de plásticos, esse processo pode ser difícil e caro. A separação por tipo de material tem efeito na qualidade do conteúdo reciclado, e os reciclados de um tipo único de plástico possuem melhor nível de qualidade, além de serem mais lucrativos.
Disponível no Brasil e em outros países da América do Sul, a BASF desenvolveu uma tecnologia capaz de determinar com precisão diferentes composições de plásticos, a partir de um dispositivo portátil. O trinamiX NIR combina a análise de dados trinamiX com um aplicativo móvel. “NIR é uma tecnologia de espectroscopia de infravermelho que é utilizada no trinamiX em tamanho reduzido, proporcionando uma sofisticada análise de dados do plástico em questão”, conta Rafael.
Com essa tecnologia, plásticos comuns podem ser facilmente identificados em segundos, facilitando a triagem de materiais, uma das etapas mais desafiadoras da reciclagem mecânica. O espectro infravermelho vai desde poliolefinas clássicas como PE, PP e PVC (polietileno, polipropileno e policloreto de vinila), até PET (polietileno tereftalato), que é mais conhecido como material para garrafas de bebidas. Além disso, plásticos técnicos como ABS (acrilonitrila butadieno estireno) ou PA (poliamida), cuja diferenciação é particularmente importante para as empresas de reciclagem, também podem ser corretamente identificados em campo.
A transição para um modelo circular exige mudanças não apenas na atual estrutura produtiva pelas empresas, mas também no marco regulatório ambiental e nos hábitos de consumo, em que os usuários deixam de ser o último elo da cadeia produtiva e se tornam um elemento central para fechar o ciclo, cooperando na recuperação de materiais, que podem ser reciclados ou reutilizados em ciclos de produção futuros.
Larissa Batalha (larissa.batalha@maquinacohnwolfe.com)