Presidente da Abraciclo fala sobre estratégias que fizeram montadoras superar gargalos logísticos em 2024
Automotive Business -
O cenário poderia ser mais aterrorizante que aquelas sequências ensanguentadas dos filmes do Tarantino. Só que, à exceção de uma paralisação da Kawasaki no
Os mais antigos sempre costumam dizer que as agruras da vida nos servem de ensinamentos para o futuro. As fabricantes de motos puseram em prática tais lições mais rápido do que esperavam. Graças a isso, passaram praticamente incólume a uma seca ainda pior que a estiagem de 2023.
Vamos voltar um pouco no tempo. Na reta final do ano passado muitas fabricantes de motos tiveram de parar suas linhas de montagem no Polo Industrial de Manaus (AM). O motivo: uma das piores estiagens da Região Norte do país, que afetou a entrega de insumos por vias fluviais.
Corta para 2024. Uma nova seca, considerada pior do que a de 2023 por muitos especialistas, impacta de novo o setor. Some a isso conflitos internacionais no Oriente Médio e outras intempéries que afetam as operações no Canal do Panamá.
O cenário poderia ser mais aterrorizante que aquelas sequências ensanguentadas dos filmes do Tarantino. Só que, à exceção de uma paralisação da Kawasaki no primeiro semestre, o setor de motocicletas parece ter passado ileso aos gargalos que se apresentaram este ano.
Produção segue forte, apesar dos entraves
Tanto que o segmento teve o melhor janeiro-setembro desde 2012, com 1,32 milhão de unidades produzidas. E aumentou as projeções para 2024, que deve ter um crescimento próximo de 10% em relação a todo o ano passado.
Para o presidente da Abraciclo, entidade que reúne as montadoras, o mérito é justamente das fabricantes de motos, que tiraram as lições da crise de 2023 e fizeram um planejamento preventivo.
“As fabricantes começam a criar outras alternativas de rotas que consigam antecipar estoques e criar o que se chama de pulmão de componentes mais estratégicos. São diversas medidas de planejamento", afirma Marcos Bento.
O executivo destaca algumas das estratégias, como dois portos flutuantes que foram acionados pelas montadoras. Ou mesmo logística com uso de frete aéreo. Tudo para garantir a chegada de componentes, em especial eletrônicos, como microchips e painéis digitais.
Ao mesmo tempo, Bento ressalta a redução da burocracia po parte do governo, o que facilitou o desembaraço das peças importadas. Além de ações de dragagem dos rios que estão em andamento.
Fonecedores também garantem operação
O parque de fornecedores no polo amazonense é outo agente que contribui para minimizar gargalos. As fabricantes de motos instaladas em Manaus reúnem 40 parceiros e conseguem índices de localização, em média, acima dos 80% - algumas marcas têm mais de 95%.
De acordo com a Abraciclo, o polo já gerou 1.200 empregos a mais este ano em relação a 2023, aumento de 7,5%. Ao todo, as fabricantes de motos são responsáveis por 18,4 mil empregos diretos na região - e 150 mil indiretos em todo o Brasil.
“A gente não parou e manteve o volume de produção nesse patamar exatamente pelo polo ser o mais verticalizado da indústria brasileira, com indústria localizada, criação de empregos diretos e fornecedores”, enaltece Marcos Bento.
“Isso faz com que a gente tenha uma indústria com menos dependência de insumos importados”, completa o presidente da Abraciclo.
Boa qualidade da moto brasileira atrapalha exportações
O grande desafio para o setor de duas rodas, e que também se mostra para outros setores da economia, é a exportação. O Brasil vendeu 15% menos motos para fora nesses nove meses do que no mesmo período de 2023.
Além dos aspectos logísticos, a mudança da política econômica na Argentina também afetou os embarques, especialmente no primeiro semestre. As projeções mais otimistas da Abraciclo apontam para um total de 35 mil unidades exportadas em 2024, mesmo patamar do ano passado.
A dificuldade em expandir essas vendas internacionais e ampliar mercados, segundo a Abraciclo, teria uma razão inusitada: a boa qualidade dos produtos nacionais. Para Marcos Bento, o Brasil sofre nas exportações porque tem produtos de primeira linha.
“Os mercados vizinhos para os quais deveríamos estar exportando consomem motos com tecnologia muito atrás da nossa. Hoje o Brasil não consegue exportar mais para a América do Sul, não porque não tenha preço competitivo, mas por ter um produto bom demais”, acredita.
Segundo ele, cada associado da Abraciclo tenta expandir suas exportações.
“O que não dá para fazer é a indústria brasileira dar um passo atrás. Não tem como a gente voltar a produzir produtos que não estão em harmonia com a legislação de emissões e com a tecnologia”, diz.