Brazil Windpower aborda os impactos socioambientais dos projetos eólicos
InPress Porter Novelli -
Um dos principais destaques do dia ocorreu logo na abertura. A ABBEólica, em parceria com a We Sustentabilidade, lançou o primeiro Índice de Impulso
O terceiro e último dia do Brazil Windpower, nesta quinta-feira (24), foi totalmente dedicado à Sustentabilidade. Todos os painéis refletiram o compromisso do evento com práticas ambientais responsáveis e inovadoras. Houve uma imersão profunda dos participantes em como projetos, especialmente aqueles com grande impacto social e ambiental, podem ser conduzidos de forma a obter a aceitação e o apoio das comunidades.
Um dos principais destaques do dia ocorreu logo na abertura. A ABBEólica, em parceria com a We Sustentabilidade, lançou o primeiro Índice de Impulso ao Desenvolvimento Sustentável. O estudo pretende identificar os eixos prioritários de investimento socioambiental das associadas da ABBEólica. “Serão analisados projetos de 27 municípios dos estados da Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, unidades federativas que concentram a maioria dos parques eólicos do País. Pretendemos mapear os dados socioambientais disponíveis nesses municípios desde a implantação dos parques, obviamente aliado à execução adequada de políticas públicas no longo prazo”, comentou Débora Horn, diretora-executiva da We Sustentabilidade.
A executiva explicou que a intenção é dar mais clareza quanto aos limites do impulso dado pelos projetos, com métrica que será composta por dois blocos indicadores: econômico e, claro, socioambiental. “No primeiro bloco, avaliaremos a influência do parque eólico na economia local, com análise do PIB, porcentagem do ISS, ISP com foco na comunidade, e os fornecedores locais. Em paralelo, no segundo bloco, analisaremos a contribuição da empresa à melhoria das condições de vida naquele território, mapeando a porcentagem da população beneficiada por ações socioambientais e investimentos em desenvolvimento humano, ou seja, em renda, educação e saúde, além dos investimentos em infraestrutura e meio ambiente”.
Segundo Débora, com base nesse monitoramento, será possível consolidar aprendizados e criar referências de boas práticas que proporcionem previsibilidade e adequada gestão de riscos a empreendedores e investidores, mitigando impactos operacionais, financeiros e reputacionais. “Em paralelo a esse esforço, cabe ao setor seguir aperfeiçoando, continuamente, seus modelos e práticas de relacionamento e a estratégia socioambiental nos territórios de atuação, com foco na construção de um legado próspero”. Para ela, os elementos constitutivos desse legado são ações que promovam o diálogo transparente, a cooperação entre diferentes agentes locais, a identificação de demandas alinhadas à vocação e à cultura do território e a execução de programas estruturados, com foco no longo prazo.
Elbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica, ressaltou que uma das maiores inquietações desde que entrou para a associação é entender os efeitos sociais e ambientais no entorno dos parques eólicos. “Virou uma causa para nós! Desde o primeiro parque que visitei já observei todos os impactos positivos que o setor gera. Precisamos mostrar todo o bem que causamos nas comunidades”.
A executiva lembrou que há movimentos sociais contra as eólicas que emergiram há aproximadamente quatro anos, o setor está ciente de que melhorias são necessárias, mas há uma busca por soluções. “Passamos a ouvir esses movimentos para entender e trazer mitigações de forma proativa. Padecemos da ausência de estatísticas e com esse índice faremos uma demonstração sem viés, sem a intenção de nos defender, mas sim para usar esse instrumento como ferramenta para alavancar uma transição energética justa e sustentável. Vamos apresentá-lo para governos, sociedade e investidores”, indicou.
Transição energética boa para todos
A transição energética não ocorre por conta própria, o ideal é ser equitativa para todos, possuir características claras e oferecer uma energia sustentável, econômica e eficaz. A head of country transition research da BloombergNEF, Sofia Maia, disse durante a sua participação no Brazil Windpower, nesta quinta-feira, que quando discutimos transição justa, o tom da conversa pode se alterar, já que o que pode ser justo para um, pode não ser para outro.
Um dos pontos de destaque do painel “Transição Energética Justa – Integração Econômica e Social” foi com relação ao conceito de justo, onde é necessário reconhecer as questões de oferta e demanda. Do lado da oferta, os geradores têm o desafio de cobrir três necessidades, sendo a primeira com relação à energia oferecida com abundância, pois isso vai refletir no preço baixo. A segunda precisa ser acessível e por último tem que ser sustentável. Já com relação à demanda é necessário avançar no quesito de consumo responsável.
Atualmente, a transição justa possui diferentes perspectivas, porém o socioeconômico e o ambiental vão sempre caminhar na mesma direção. Segundo o gerente setorial de transição energética do BNDES, Guilherme Arantes, não se pode prejudicar as pessoas que mais sofrem que são aquelas próximas e que estão prestando serviço ao empreendimento que está chegando na região. É necessário, segundo ele, minimizar os impactos negativos. E essas comunidades vivenciam de forma mais bruta os impactos causados pela mudança climática. Arantes citou que deverá ocorrer um amadurecimento conjunto entre empresas e financiadores e é necessário mobilizar o setor e catalisar os impactos positivos.
Do lado dos bancos, o diretor de planejamento do BNB, José Aldemir, destacou o Nordeste, onde é necessário aproveitar a vantagem local e ter ganho de desenvolvimento territorial e de infraestrutura. Segundo ele, não existe transição energética brasileira que não passe pela região. O executivo também afirmou que é necessário ter selos independentes, que certificam os projetos e que passem por uma avaliação anualmente. “Estamos dispostos a remunerar esses serviços com bônus de custos, juros mais baixos, para os eventuais parques que tenham essas certificações. Queremos financiar ações que sejam feitas nas comunidades locais e que transformem a vida deles”, finalizou.
Assertividade no Plano Espacial Marinho evitará problemas em licenciamento
Com 97 projetos de eólicas offshore aguardando regulamentação no Ibama, a correta elaboração do planejamento na seleção de áreas será fundamental para o seu êxito. Em painel do Brazil Windpower também nesta quinta-feira, Eduardo Wagner, coordenador de Licenciamento Ambiental de Energia do Ibama, destacou que erros nessa fase podem acarretar problemas nas etapas seguintes do licenciamento.
Ele contou que muitos países da Europa pioneiros da eólica offshore fizeram a cessão de áreas sem o planejamento espacial marinho, que identifica impactos antes do licenciamento ambiental. Atualmente, antes do leilão de cessão de área, esses países já incluem essa ferramenta. “Se escolhe uma área usada para pesca artesanal, pode ter problema, porque os que fazem uso daquela área vão buscar os seus direitos”, avisa.
O Planejamento Espacial Marinho é um instrumento que identifica os recursos atuais e potenciais marinhos, da integração de diferentes agentes socioeconômicos e de segurança jurídica e soberania nacional. Esse plano serve para subsidiar o Estado com dados precisos para o uso sustentável da costa. Marinez Scherer, coordenadora-geral do Gerenciamento Costeiro e Planejamento Espacial Marinho do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, também destacou a relevância do planejamento para as eólicas do mar, uma vez que a ferramenta é capaz de detectar e harmonizar as atividades. A coordenadora lembrou ainda que a fonte eólica no Brasil terá a particularidade de ser em um mar tropical.
A complexidade para o licenciamento foi afastada por Roberta Cox, diretora de política do Global Wind Energy Council (GWEC). Segundo ela, se o Brasil consegue licenciar a exploração de petróleo e gás na camada pré-sal, pode mitigar os impactos de uma eólica offshore junto a pescadores. A expertise de setores como o portuário e cases internacionais podem auxiliar na jornada. Para a diretora do GWEC, o Brasil é competitivo na fonte e essa geração será importante para o cumprimento das metas contra o aquecimento global, já que usinas eólicas e solares crescem, mas não em ritmo capaz de suprir as metas.
Próxima edição do Brazil Windpower
Também nesta quinta-feira, a Informa Markets anunciou que o maior evento de energia eólica da América Latina já tem data e local para acontecer no ano que vem. O Brazil Windpower será realizado de 28 a 30 de outubro de 2025, novamente no São Paulo Expo, na capital paulista. A confirmação de uma nova edição reforça a potência do setor eólico no Brasil, que atualmente ocupa a sexta posição no ranking global de produção de energia eólica.
André Vanes (andre.vanes@inpresspni.com.br)