O ritmo de adoção de veículos elétricos pelos consumidores não caminha como o esperado em nível global

No Brasil – embora os números de eletrificados impressionem – a parcela de elétricos não chega a 25%.


Por Stela Kos, Director Latin America Mobility da TÜV Rheinland

No final de 2022, a União Europeia estabeleceu o acordo “Fit For 55”, com o objetivo de encerrar as vendas de carros novos emissores de CO2 na Europa até 2035. O anúncio fez com que várias montadoras globais se comprometessem com eletrificação de suas frotas – apontando um futuro promissor para as novas tecnologias. 

O problema é que, mais de um ano depois, o ritmo de adoção de veículos elétricos pelos consumidores não caminha como o esperado em nível global, e no Brasil – embora os números de eletrificados impressionem – a parcela de elétricos não chega a 25%.

Somando-se a isso, as políticas ambientais e os compromissos firmados por várias nações, incluindo o Brasil, para reduzir as emissões de carbono estão pressionando o mercado automobilístico a encontrar soluções mais sustentáveis.

No entanto, a transição para veículos totalmente elétricos enfrenta barreiras significativas no país, como a falta de infraestrutura de recarga e a volatilidade nos preços dos combustíveis fósseis, que ainda influenciam as decisões dos consumidores.

Volume de emplacamentos em 2024

Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), de janeiro a julho deste ano, foram emplacados 94.616 veículos leves eletrificados, que inclui elétricos e híbridos, ultrapassando número de 93.927 – volume de vendas registrado durante todo ano de 2023.

Conforme a ABVE, foram emplacados, neste ano, 301 modelos diferentes de veículos nos primeiros sete meses, sendo que, no ano passado inteiro, foram 248 modelos. A participação dos eletrificados no mercado de novos está em 7%. Até julho, contabilizou-se 315.047 veículos elétricos e híbridos leves em circulação no país.

Desse total, 152.493 (cerca de 51,5%) são veículos plug-in, com recarga externa que abarcam tanto os movidos 100% a bateria (BEV) como os híbridos plug-in (PHEV). Os demais 48,5% são os híbridos sem recarga externa: HEV flex, HEV a gasolina e MHEV. 

Em julho, o mercado brasileiro emplacou 6.659 de híbridos plug-in, que também é movido por combustível, o que representa 43,5% do total de eletrificados. Eles lideraram, assim, as vendas deste mês, o que significa um aumento de 32% sobre junho e 156% quando comparado a julho de 2023. 

Esta tendência é também observada nos mercados da Europa e Estados Unidos, onde consumidores têm dado preferência a veículos híbridos em detrimento dos totalmente elétricos – por conta da lentidão no desenvolvimento da infraestrutura apropriada, a diminuição de incentivos fiscais e queda no preço do petróleo que levaram à mudança de expectativas em relação aos veículos elétricos.

Algumas dessas questões também impactam o consumidor brasileiro. O problema da falta de infraestrutura é o principal deles. Em segundo, a rápida mudança da tecnologia, com o aumento da autonomia dos veículos, e a guerra de preços das montadoras que estão chegando no Brasil, que fatalmente leva o usado a uma desvalorização, têm levado o brasileiro em direção aos híbridos. 

Aliás, a “alta temperatura” do mercado brasileiro de eletrificados junto ao fim do incentivo fiscal fez com que montadoras chinesas criassem um estoque local de mais de 80 mil unidades, segundo a Anfavea – o que poderá intensificar a guerra de preços nos próximos meses. 

Mas afinal, o futuro é elétrico?

Não há dúvidas, entre especialistas do setor, que o futuro é elétrico – o problema é quando isso vai acontecer. Nos Estados Unidos, por exemplo, a diminuição da pressão do governo ajudou as montadoras a colocarem o pé no freio, ao menos por enquanto.

Aqui no Brasil, a falta de infraestrutura ainda é o “calcanhar de Aquiles” do setor. Hoje, o país conta com 4.600 postos em território nacional – o problema é que boa parte ainda está concentrada em capitais e áreas urbanas, no Sul e no Sudeste do país, de acordo com a ABVE. A associação estima que o país deve alcançar os 10 mil eletropostos nos próximos dois anos.

A trajetória do mercado de veículos elétricos no Brasil e no mundo apresenta desafios significativos, mas também oportunidades promissoras. Com o avanço contínuo da tecnologia e o aumento gradual da infraestrutura de recarga, espera-se que a adoção de veículos elétricos cresça de forma consistente. No entanto, a transição completa para uma mobilidade sustentável dependerá não apenas de inovações tecnológicas, mas também de políticas governamentais eficazes e do compromisso das montadoras em fornecer opções acessíveis aos consumidores.

Enquanto isso, os híbridos continuam a ser uma escolha pragmática para muitos, funcionando como uma ponte importante para um futuro mais verde. A questão não é mais se o futuro será elétrico, mas quando e como ele se concretizará no Brasil e em outras partes do mundo. Com uma abordagem colaborativa entre governo, indústria e consumidores, a visão de um transporte totalmente elétrico está cada vez mais próxima de se tornar realidade, ainda mais quando avaliamos os efeitos climáticos severos no verão europeu e no Brasil que parece estar vivendo a mesma estação do hemisfério norte só que em pleno inverno.

A mobilidade com novas tecnologias é uma realidade e como ocorreu nos veículos a combustão o consumidor precisa estar atento à segurança e a qualidade dos veículos elétricos, híbridos, baterias e sistemas de carga. 

Jessica Zinanni (sistemas@mailingimprensa.com.br)    

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