Universidades criam projetos para ajudar na questão hídrica no RS

Recentemente, o Rio Grande do Sul enfrentou uma série de enchentes severas devido a chuvas intensas, que causaram significativos danos e perdas.


Universidades criam projetos para ajudar na questão hídrica no RS

Recentemente, o Rio Grande do Sul enfrentou uma série de enchentes severas devido a chuvas intensas, que causaram significativos danos e perdas. A combinação de diversos sistemas meteorológicos levou a precipitações volumosas que rapidamente elevaram os níveis dos rios. 
Várias regiões do estado, incluindo as bacias dos rios Caí, Taquari, Jacuí, Sinos e Ibirapuitã, registraram níveis de água acima das cotas de inundação, resultando em danos substanciais às infra estruturas e comunidades locais, além dos impactos imediatos, como deslizamentos, quedas de pontes, resgates e, tragicamente, a perda de vidas.
Danos às Infraestruturas: Muitas pontes foram comprometidas ou destruídas, e diversas estradas ficaram intransitáveis, dificultando a mobilidade e o transporte. Ademais, casas e estabelecimentos comerciais, em áreas inundadas, sofreram grandes danos, com muitas pessoas desalojadas e propriedades danificadas.
Vítimas e Resgates: Infelizmente, houve registros de mortes devido às inundações e deslizamentos de terra. Equipes de resgate trabalharam incessantemente para salvar pessoas isoladas e animais, além de fornecer assistência emergencial.
Agricultura e Pecuária: Plantações foram severamente afetadas, resultando em perdas econômicas significativas para os agricultores. As inundações também impactaram a pecuária, com animais perdidos ou em risco devido às águas elevadas.
Toda essa problemática destacou a necessidade de preparação contínua, monitoramento constante e respostas rápidas para minimizar os danos e proteger a população. A colaboração entre o governo, as comunidades e as organizações se tornou essencial para enfrentar esses desafios climáticos e mitigar seus impactos.
Através de órgãos como a Defesa Civil, o governo estadual emitiu alertas máximos monitorando continuamente a situação. Foi mobilizado auxílio emergencial para as regiões afetadas, incluindo o fornecimento de alimentos, água e abrigos temporários. 
Os esforços de voluntários fizeram toda diferença. Comunidades locais e organizações não governamentais contribuíram e ainda estão contribuindo com esforços de assistência. Campanhas de doação de itens essenciais ainda estão em andamento para apoiar os desalojados e afetados pelas enchentes. 
Apesar da situação estar temporariamente controlada, com muitos locais já com a rotina normalizada, os trabalhos continuam. Toda essa situação exige uma resposta contínua e coordenada das autoridades para minimizar riscos adicionais e oferecer suporte às comunidades afetadas, uma vez que as previsões meteorológicas indicam que o estado deve continuar enfrentando chuvas intensas, o que mantém o alerta máximo em vigor. 
Assim, é possível afirmar que todo esse cenário exige planejamento a longo prazo. É de suma importância pensar em reforço das infraestruturas e a implementação de melhores sistemas de drenagem para reduzir futuros riscos de enchentes. Além disso, constantemente, Faculdades e Universidades do Rio Grande do Sul buscam incentivos para a implementação de projetos e ações que possam contribuir nesta questão. 

Universidades criam projetos para ajudar na questão hídrica no RS

Postos fluviométricos
No final do mês de junho, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul - IFRS, por meio da Pró-reitoria de Extensão (PROEX), por exemplo, lançou um edital de fomento para a execução de projetos de extensão voltados ao enfrentamento da situação de calamidade resultante da catástrofe climática nas comunidades de abrangência da instituição. 
O fomento, neste caso, contempla auxílio financeiro para despesas de custeio e a concessão de até 28h semanais em bolsas para estudantes, sendo o período de vigência dos projetos de 01/08/2024 e 31/12/2024. Um desses projetos é o de “Implantação de postos fluviométricos para estabelecimento da cota de inundação no município de Rolante/RS”.
Tal ação surgiu através de uma demanda da Defesa Civil, Prefeitura Municipal de Rolante e da Associação do Comércio, Indústria, Serviços e Agropecuária de Rolante e Riozinho (ACISA). A ideia é implantar cinco postos fluviométricos em torno da zona urbana de Rolante, sendo três localizados no rio Areia e dois no rio Rolante. 
Cada posto fluviométrico contará com a instalação de réguas linimétricas conforme os procedimentos estabelecidos pela Agência Nacional de Águas (ANA), sensores de nível de água e câmeras com transmissão em tempo real de imagens das réguas.
Segundo Fernando Luis Hillebrand, Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFRS - Campus Rolante, o projeto vai auxiliar em várias frentes. A primeira delas é que em eventos de precipitação extrema vai possibilitar que a Defesa Civil e Corpo de Bombeiros Voluntários do município possam verificar a velocidade da elevação de nível dos rios nos postos fluviométricos remotamente por meio das câmeras, permitindo emitir alertas antecipadamente.
O segundo ponto é que vai estabelecer cotas de inundação regionalizadas por bairros. Isto permitirá emitir alertas mais precisos, uma vez que atualmente a referência é estabelecida por meio de alagamentos em locais específicos, como estradas vicinais, por exemplo.

Universidades criam projetos para ajudar na questão hídrica no RS

Através dos sensores de nível de água vai ser possível ainda obter registros sistemáticos da oscilação da lâmina d’água, permitindo calcular a curva chave que relaciona a altura da lâmina d’água com sua vazão correspondente. Para que isto seja possível, será realizado regularmente o levantamento topobatimétrico das seções dos rios onde se encontram estes postos fluviométricos.
O projeto vai auxiliar ainda na elaboração de modelos que permitem correlacionar precipitação pluviométrica na bacia hidrográfica com a vazão correspondente nos rios, subsidiando futuramente na elaboração de sistemas de alerta. 
Por fim, vai auxiliar a disponibilizar um sítio eletrônico a comunidade civil concentrando informações meteorológicas em tempo real das estações instaladas na bacia hidrográfica, alertas do Corpo de Bombeiros Voluntários, imagens de radar demonstrando a localização das chuvas em tempo real e mapeamentos demonstrando a previsão das chuvas para as próximas horas.
Além disso, Hillebrand conta que outras ações estão sendo desenvolvidas em paralelo, como a aquisição e instalação de estações meteorológicas nas cabeceiras dos rios com transmissão em tempo real, levantamento topobatimétrico dos rios para verificar as alterações da calha ao longo do tempo e elaboração de um sítio eletrônico integrando todas estas informações.
Vale ressaltar que o levantamento topobatimétrico já acontece sistematicamente desde 2022 por meio de outros projetos. Além disso, está sendo realizada a manutenção e a disponibilização gratuita das informações meteorológicas em tempo real de estações já existentes na região. Já a implantação dos postos fluviométricos está programada para o segundo semestre de 2024.
“Durante a inundação de maio de 2024, também realizamos o mapeamento da mancha de inundação da zona urbana de Rolante e recentemente este mapeamento foi ampliado a todo município com a colaboração dos professores Dr. Guilherme Garcia de Oliveira e Dr. Clódis de Oliveira Andrades Filho, ambos do Programa de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Estes mapeamentos permitiram que a Defesa Civil e o Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Rolante e Riozinho pudessem organizar as ações de assistência à população que realmente foi atingida” - destaca Hillebrand.
Ainda segundo ele, está sendo realizado também o monitoramento de duas propriedades rurais  no município que apresentam fissuras e surgências indicando deslocamento de massa. “Nestes locais estamos com monitoramento sistemático da velocidade de deslocamento da superfície do solo por meio de receptores GNSS RTK - destaca.
Além do coordenador, Prof Fernando Luis Hillebrand, este projeto conta com o apoio técnico do Prof Gean Paulo Michel, pesquisador Grupo de Pesquisas em Desastres Naturais (GPDEN) do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS.
Participam também quatro alunos bolsistas matriculados no curso Técnico em Agropecuária Integrado com o Ensino Médio do IFRS Campus Rolante. Para os discentes esta participação é imprescindível como prática essencial na formação acadêmica e cidadã, através do fortalecimento do sentido ético e do comprometimento com a sociedade.
Além disso, “este tipo de ação permite o desenvolvimento de aptidões a partir de vivências proporcionadas pela participação em ações de extensão, que potencializam a formação para o trabalho e para a vida em sociedade, e na formação de cidadãos críticos e comprometidos com o desenvolvimento local e regional sustentável” - enfatiza o professor. 
Para viabilizar a execução, o projeto conta com recursos de fomento interno do IFRS para o pagamento de bolsas e aquisição de itens de custeio, e a Prefeitura Municipal de Rolante também aporta recursos financeiros para aquisição dos itens de capital necessários para sua implantação.

Universidades criam projetos para ajudar na questão hídrica no RS

Educação Ambiental Popular 
O projeto intitulado “Educação Ambiental Popular no enfrentamento à situação de calamidade no RS” tem como objetivo promover ações de educação ambiental popular em conjunto com escolas públicas de educação básica que atendam estudantes atingidos pela catástrofe climática no Estado do Rio Grande do Sul. 
Segundo Cassiano Pamplona Lisboa, Licenciado em Ciências Biológicas, Mestre e Doutor em Educação e Professor - IFRS - Campus Porto Alegre, a ação é um desdobramento extensionista de diálogos e atividades que vêm sendo desenvolvidos no âmbito dos componentes curriculares de Educação Ambiental ministrada pelo professor junto aos cursos Técnico em Meio Ambiente, Gestão Ambiental e Licenciatura em Ciências da Natureza, bem como do projeto de extensão “Educação Ambiental Popular: diálogo de saberes” que coordena e que vem sendo desenvolvido com a participação de estudantes voluntários e sem auxílio financeiro. 
“Tomando como referência a perspectiva da Educação Ambiental Popular, na qual o processo educativo é compreendido como um ato político e como prática social de formação de cidadania, nosso projeto objetiva auxiliar para a qualificação da formação inicial dos estudantes desses cursos a partir da aproximação e do diálogo com diferentes setores da sociedade” - afirma Lisboa. 
Ademais, o projeto também vai contribuir para o enfrentamento da situação de calamidade resultante da catástrofe climática no estado do Rio Grande do Sul, mais especificamente por meio do desenvolvimento de ações educativas que configurem espaços de escuta e reelaboração coletiva dessas memórias, assim como oportunidades de construção de conhecimentos acerca dos fenômenos climáticos em questão e das relações complexas entre sociedade e natureza. 
Ele explica que a metodologia de trabalho consistirá no estabelecimento de parcerias com instituições educacionais localizadas em regiões atingidas direta ou indiretamente pela catástrofe climática deste ano, na realização de diagnósticos socioeducacionais, no levantamento de demandas, no planejamento de ações educacionais ambientais populares, no desenvolvimento e na avaliação coletivos dessas ações. 
A equipe, por sua vez, será composta por estudantes bolsistas e voluntários que serão selecionados junto aos três cursos. Já a parte do planejamento das ações educacionais que serão desenvolvidas se dará no âmbito dos componentes de educação ambiental ministrada pelo professor. 
“Espera-se também que as ações educativas se convertam em tempos e espaços de escuta, de experiências, de construção de saberes e de articulação entre diferentes disciplinas e áreas do saber, permitindo aos sujeitos envolvidos a reflexão crítica acerca dos lugares sociais que ocupam e a reconstrução criativa de suas identidades à luz de seus itinerários de vida” - enfatiza Lisboa.

Universidades criam projetos para ajudar na questão hídrica no RS

Ademais, a ideia também visa contribuir para o letramento científico das comunidades escolares envolvidas, com vistas a uma melhor compreensão dos fenômenos climáticos contemporâneos, das causas dos seus agravamentos e das estratégias para minimização de suas consequências. 
Espera-se, ainda, que o conjunto dos registros e vivências acumulados durante o desenvolvimento do projeto se constitua em matéria prima para a reformulação do próprio projeto de extensão e seu possível desdobramento em um projeto de pesquisa, bem como estudo de caso para se estabelecer novas perspectivas para a curricularização da extensão nos cursos envolvidos. 
Lisboa explica que o acompanhamento e avaliação das atividades serão desenvolvidos por meio de instrumentos próprios a serem elaborados considerando as especificidades das instituições parceiras, ou seja, baseados nos resultados dos diagnósticos socioeducacionais realizados. 
Todas as etapas do desenvolvimento do projeto serão avaliadas coletivamente nas reuniões de formação e planejamento, assim como em reuniões a serem desenvolvidas nas instituições parceiras. Como principais indicadores para avaliação do projeto, serão utilizados os impactos sociais e educacionais das ações desenvolvidas.
O projeto encontra-se na fase de seleção dos bolsistas, conforme edital específico publicado pela Diretoria de Extensão do Campus. Uma vez constituída a equipe de trabalho, serão estabelecidas reuniões semanais para formação (aprofundamento teórico e metodológico) e planejamento das demais etapas do projeto. 
Os encontros ocorreram durante os cinco meses de vigência do projeto. Nos meses de agosto e setembro, serão realizadas as reuniões de formação e a busca ativa de instituições parceiras em diferentes regiões da cidade para divulgação do projeto e assinatura do Protocolo de Intenção de Instituição Parceira. 
Nesses dois primeiros meses também haverá a realização dos diagnósticos socioeducacionais e o levantamento das demandas das instituições parceiras, que serão realizados por meio de visitas às instituições parceiras, acompanhamento das atividades e aplicação de instrumentos de pesquisa próprios que serão elaborados nas reuniões de formação e planejamento considerando as especificidades das instituições às quais se destinam. 
Os registros serão feitos por meio dos instrumentos de pesquisa elaborados e em diários de campo com base nos diagnósticos socioeducacionais e no levantamento de demandas realizadas  na primeira quinzena do mês de outubro.
Nesta etapa, tanto os diagnósticos, quanto os planejamentos serão objetos de atenção também dos estudantes regularmente matriculados nos componentes de educação ambiental em curso e de integrantes das instituições parceiras, possibilitando que colha nestes espaços contribuições significativas para a concepção e para o desenvolvimento dessas ações. 
Uma vez finalizados os planejamentos, nos meses de outubro e novembro, serão realizadas as ações de educação ambiental concebidas pelos estudantes e por integrantes das instituições parceiras. Essas terão durações, públicos-alvo, objetivos, metodologias e avaliações próprias, conforme estabelecido durante os seus planejamentos. 
No âmbito das reuniões de formação e planejamento, durante os meses de novembro e dezembro, cada uma das ações também será avaliada e tomada como objetos de reflexão teórico-metodológica. O conjunto dos registros e vivências constituirá matéria prima para a apresentação de trabalhos e para a elaboração de relatos e outros textos acadêmicos com vistas à divulgação científica. 
O projeto servirá também como base para a reformulação do próprio projeto de extensão, bem como estudo de caso para se estabelecer novas perspectivas para a curricularização da extensão nos cursos envolvidos. 
Nesse processo avaliativo, a atenção será concedida aos impactos sociais das ações desenvolvidas, que precisarão ser identificados e aferidos por meio de metodologia própria e com a participação de todos os envolvidos. Por fim, o mês de dezembro será também utilizado para a composição do relatório final e de pelo menos um artigo científico do grupo.
Vale lembrar que o projeto envolve estudantes de três cursos do IFRS Campus Porto Alegre: curso Técnico em Meio Ambiente, curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental e curso superior de Licenciatura em Ciências da Natureza. Atualmente, são 4 estudantes voluntários e dois bolsistas, além de Lisboa, coordenador da ação.
“Por meio da promoção dessa compreensão integrada do meio ambiente e da adoção de uma perspectiva dialógica, colaborativa e integrativa de saberes científicos e experiências, portanto, ampliam-se aos indivíduos as possibilidades de atuação e participação coletivas nas esferas públicas de tomadas de decisões e, consequentemente, na reconstrução do mundo que compartilhamos” - finaliza o professor. 
 

Contato
IFRS - Instituto Federal do Rio Grande do Sul:
www.ifrs.edu.br
 

Publicidade