O hidrogênio verde tem emergido como um dos pilares para a transição energética global
Cenários Comunicação -
Prometendo descarbonizar setores intensivos em emissões e atender às exigências climáticas do futuro
Por Adão Linhares Muniz, engenheiro mecânico e empreendedor na Energo Soluções em Energia
O hidrogênio verde (H2V) tem emergido como um dos pilares para a transição energética global, prometendo descarbonizar setores intensivos em emissões e atender às exigências climáticas do futuro. Contudo, enquanto muitas regiões ainda buscam caminhos para viabilizar projetos, o Ceará, com o Hub de Hidrogênio Verde no Pecém, já desponta como exemplo de competitividade, inovação e estratégia no mercado emergente.
Como empreendedor e visionário no setor de energias renováveis, com experiência em projetos eólicos, fotovoltaicos e de hidrogênio verde, vejo o Nordeste brasileiro como uma região única, com vantagens estruturais e recursos naturais imbatíveis que podem reposicionar o Brasil como protagonista global da economia do hidrogênio.
O Ceará reúne condições excepcionais para liderar o mercado de H2V. Primeiro, possui um dos melhores potenciais de energia renovável do mundo, com capacidade eólica e solar capazes de gerar eletricidade a custos baixos e com alta previsibilidade. Isso se traduz em uma vantagem competitiva direta no custo de produção do H2V, essencial para conquistar mercados exigentes como o europeu.
Segundo, o modelo do Hub de Hidrogênio Verde do Pecém é um exemplo claro de como estruturar soluções para superar os desafios dessa nascente indústria. A integração de produtores, consumidores e infraestrutura portuária moderna é um modelo replicável, permitindo reduzir custos logísticos, mitigar riscos e atrair investimentos internacionais.
A localização estratégica do Ceará é outro diferencial. Sua proximidade com os mercados europeus e a conexão direta por meio de portos eficientes fazem do Pecém uma porta de entrada para o hidrogênio verde brasileiro no cenário global. Essa é uma das razões pelas quais acredito que o Ceará está bem posicionado para se tornar o principal fornecedor de H2V para a Europa.
Entretanto, nem tudo são facilidades. Como empreendedor, reconheço que a indústria do hidrogênio enfrenta barreiras significativas, muitas das quais foram destacadas recentemente no relatório Global Hydrogen Review 2024, da Agência Internacional de Energia. Entre os principais desafios estão o alto custo inicial de capital, a necessidade de políticas públicas mais robustas para estimular a demanda e a competitividade do H2V frente ao hidrogênio fóssil.
O Ceará já dá passos importantes para superar essas barreiras, mas há muito a ser feito. É crucial, por exemplo, acelerar a certificação ambiental do H2V produzido no Brasil, garantindo que ele atenda aos requisitos rigorosos de rastreabilidade e sustentabilidade exigidos pelos mercados internacionais. Além disso, precisamos de políticas públicas consistentes, como leilões específicos para o hidrogênio, subsídios para pesquisa e desenvolvimento e incentivos à exportação de derivados como amônia verde e combustíveis sintéticos.
Outro ponto-chave é a necessidade de ampliar a escala de produção. Apenas com escala suficiente será possível reduzir custos de produção, o que demandará parcerias sólidas entre governos, empresas e instituições financeiras internacionais.
A inovação tecnológica será essencial para consolidar a competitividade do hidrogênio verde no Ceará e no Brasil. Investimentos em novas soluções para o transporte e armazenamento de hidrogênio, bem como em eletrólise mais eficiente, podem acelerar a redução de custos e ampliar o acesso ao mercado global.
Na Energo Soluções em Energia, acreditamos que é possível fazer mais do que simplesmente desenvolver projetos. É necessário construir ecossistemas integrados, que unam inovação tecnológica, visão estratégica e compromisso com a sustentabilidade. O Hub do Pecém é um exemplo claro dessa integração, mas outras regiões do Nordeste podem e devem seguir esse modelo.
O mercado global de hidrogênio verde ainda está em construção, mas as condições excepcionais do Nordeste brasileiro, em especial do Ceará, oferecem ao Brasil uma posição estratégica nesse futuro. Se soubermos aproveitar nosso potencial, com políticas públicas adequadas, investimentos em inovação e parcerias internacionais, poderemos consolidar nossa liderança e atender às demandas globais por uma economia de baixo carbono.
O Hub de Hidrogênio Verde do Pecém é apenas o começo. Cabe a nós, empreendedores, engenheiros e formuladores de políticas, garantir que o Brasil aproveite plenamente essa oportunidade histórica. A revolução do hidrogênio verde está apenas começando, e o Nordeste está no centro dela.
Lucílio José Abreu Lessa (lucilio@cenarioscomunicacao.com.br)