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Práticas de manejo sustentável ajudam a restaurar a saúde do solo e favorecem o sequestro de carbono

Pesquisadores da USP e colaboradores conduziram extensa revisão da literatura disponível sobre o tema, abrangendo mais de 13 mil artigos


Estudo publicado na revista Frontiers in Sustainable Food Systems aponta o potencial que as Américas têm de compensar parte das emissões de gases de efeito estufa a partir da adoção de práticas de manejo sustentável na agropecuária que restauram a saúde do solo e sequestram carbono.

O solo é compreendido como um recurso base para a promoção de serviços que são essenciais para a manutenção da vida. Além da produção de alimentos, contribui para a purificação de água, promoção da biodiversidade, neutralização de poluentes, bem como a regulação do clima. Este último se dá principalmente pelo sequestro de carbono orgânico, processo pelo qual as plantas removem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e o fixam no solo via deposição de resíduos orgânicos.

Em sistemas naturais, a ausência de interferências antrópicas reduz o dinamismo do carbono orgânico no solo. Em sistemas agrícolas, por outro lado, a frequente adoção de práticas de manejo e alteração da dinâmica de adição de resíduos impactam diretamente no armazenamento de carbono. Nesse sentido, avaliar o impacto de diferentes práticas de manejo sobre o potencial de sequestro de carbono no solo é essencial, principalmente diante da necessidade da expansão de sistemas capazes de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas.

A adoção de boas práticas de manejo, como o plantio direto, a recuperação de pastagens degradadas e os sistemas integrados de produção agropecuária, tem amplo reconhecimento na literatura como práticas que apresentam potencial para promover o sequestro de carbono no solo. Logo, a ampla adoção dessas estratégias pode representar uma grande oportunidade para que sistemas agrícolas contribuam para a mitigação das mudanças climáticas.

Nas Américas (do Norte, Central, Sul, região andina e Caribe), a área ocupada por sistemas agrícolas é estimada em aproximadamente 1,11 bilhão de hectares. Todavia, embora tal área represente um grande potencial para a expansão em larga escala de boas práticas de manejo, pouco se sabe a respeito do impacto da adoção dessas diferentes práticas de manejo sobre os níveis de carbono do solo nessas diferentes regiões.

Este foi o contexto que motivou os pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON), do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e da Ohio State University (Estados Unidos) a desenvolver o estudo Carbon farming in the living soils of Americas.

De acordo com Carlos Eduardo Cerri, professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq e coordenador do CCARBON – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP –, o objetivo do trabalho foi “entender a disponibilidade de informações relacionadas ao impacto da adoção de boas práticas de manejo na agricultura sobre a dinâmica de carbono do solo nas Américas, bem como estimar o potencial de sequestro de carbono perante a adoção de práticas potenciais em larga escala”. O trabalho foi baseado em uma extensa revisão da literatura disponível sobre o tema, em que mais de 13 mil trabalhos foram incluídos.

De acordo com Maurício Cherubin, também professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq e vice-coordenador do CCARBON, a adoção do sistema de plantio direto, a recuperação de pastagens e a expansão de sistemas integrados em 30% da área agrícola (aproximadamente 334 milhões de hectares) possibilitariam mitigar aproximadamente 40% das emissões de gases do efeito estufa originados do setor agropecuário no período.

Segundo os autores, esses resultados são muito promissores, e ainda podem ser maiores em função da adoção de práticas mais eficientes para a promoção de sequestro de carbono ou mediante o aumento da área com adoção de boas práticas.

Para Muhammad Ibrahim, diretor de Cooperação Técnica do IICA, este estudo pioneiro é muito relevante para dar subsídios aos diferentes países e regiões do continente na definição de programas e compromissos de enfrentamento das mudanças climáticas. Por outro lado, destaca a necessidade de novos esforços de geração de dados para reduzir as incertezas das estimativas do potencial de sequestro de carbono do solo para todas as regiões, mas principalmente na América Central, Caribe e região andina.

O trabalho ainda indicou a necessidade da padronização dos protocolos de amostragem, incluindo minimamente a camada de 0-30 centímetros (cm) do solo e preferencialmente camadas mais profundas (até 100 cm).

Segundo os pesquisadores, a padronização das informações coletadas é um passo importante para o refinamento das informações disponíveis, essencial para a redução das incertezas e cálculos como os apresentados no estudo publicado. Apesar das limitações encontradas, os autores destacam que os resultados obtidos representam um passo importante para direcionar a aplicação de recursos necessários para ampliar as iniciativas de monitoramento, bem como para priorizar as áreas onde a disponibilidade de informações ainda é baixa.

O artigo Carbon farming in the living soils of the Americas pode ser lido em: www.frontiersin.org/journals/sustainable-food-systems/articles/10.3389/fsufs.2024.1481005/full.

* Com informações do CCARBON.

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