O modo como organizações e governos enfrentam a questão energética vem se redefinindo
RPMA Comunicação -
Algo que um dia foi visto apenas como um custo operacional hoje envolve segurança, sustentabilidade e novas oportunidades de negócio.
*por Fabio Castellini
Nas últimas décadas, o modo como organizações e governos enfrentam a questão energética vem se redefinindo: algo que um dia foi visto apenas como um custo operacional hoje envolve segurança, sustentabilidade e novas oportunidades de negócio. As microrredes - ou microgrids - fazem parte dessa mudança, deixando de ser apenas um conceito técnico para se tornarem uma solução eficaz voltada a maximizar o uso da carga e reduzir riscos.
A evolução dessas redes descentralizadas já movimenta cifras bilionárias. Segundo projeções da consultoria Gartner, as empresas da Fortune 500 deverão destinar até US$ 500 bilhões de seus custos operacionais de energia para microrredes até 2027. O motivo? A necessidade crescente de mitigar riscos e, mais recentemente, a explosão da demanda por inteligência artificial (IA), que exige um fornecimento confiável.
O avanço dos sistemas de armazenamento de energia é um dos fatores que acentuam a atratividade das microgrids. O desenvolvimento de baterias cada vez mais eficientes, como as de sódio-íon, tem permitido uma integração mais inteligente de fontes renováveis. Isso significa que o recurso gerado por painéis solares e turbinas eólicas pode ser armazenado e utilizado nos momentos estratégicos, diminuindo a dependência da rede convencional.
Essa tecnologia também se reflete no bolso, uma vez que ajuda empresas e consumidores a evitar tarifas elevadas em horários de pico e até mesmo vender o excedente, convertendo a eletricidade em um ativo financeiro. Há, porém, um fator demasiado crítico: a resiliência. Em um mundo vulnerável a apagões e instabilidades de rede, as microrredes asseguram continuidade operacional em hospitais, data centers e indústrias essenciais.
Concessionárias e operadoras vêm aderindo a programas de flexibilidade da demanda para incorporar microgrids à sua operação. Neste ano, espera-se que a digitalização da rede avance ainda mais, tornando-a capaz de lidar de forma inteligente com a variabilidade das fontes renováveis e a integração de um número progressivo de recursos distribuídos.
Outro ponto de virada será o uso da IA na gestão das microrredes. Com algoritmos avançados, será possível identificar padrões de consumo, otimizar a distribuição energética e até negociar automaticamente a compra e a venda. Nesse sentido, o blockchain exerce o papel de facilitador, proporcionando transparência e segurança em transações diretas entre consumidores e produtores sem a participação de intermediários habituais.
Outro conceito que vem ganhando força é o das usinas virtuais de energia (VPPs). Essas redes conectam diferentes fontes de geração energética distribuída - como painéis solares e baterias - e as coordenam para atuar de forma integrada no fornecimento de eletricidade. A tendência é que, nos próximos anos, essas usinas contribuam para reduzir picos de demanda, acelerem a descarbonização do setor e tragam mais eficiência ao sistema como um todo.
A propósito, um detalhe técnico pode fazer toda a diferença no futuro das microgrids: a adoção da corrente contínua (DC). Embora a rede elétrica tradicional opere com corrente alternada (AC), a maioria dos dispositivos eletrônicos e fontes renováveis funciona com DC. Cada conversão entre um sistema e outro ocasiona perdas de energia. Apostar diretamente em arquiteturas baseadas em corrente contínua pode aumentar a eficiência e simplificar o design das microrredes, ainda que impasses regulatórios e técnicos precisem ser superados.
O futuro da energia está sendo desenhado a todo instante, incessantemente. A indústria não pode ficar desatualizada e as microgrids têm uma importante função nessa transformação. Estamos em 2025 e, hoje, é bastante evidente que empresas, governos e consumidores devem estar atentos a essas mudanças e investir na modernização do setor elétrico para garantir uma transição energética bem-sucedida. O investimento em inovação, regulamentação e infraestrutura é fundamental para se ter um sistema mais sustentável, resiliente e preparado para os desafios da nova era da energia.
*Fabio Castellini é diretor da área de Power Systems no Brasil
Juliana Fernandes (juliana.fernandes@rpmacomunicacao.com.br)