Como o armazenamento inteligente de energia está se tornando peça-chave na eficiência e sustentabilidade dos data centers
RPMA Comunicação -
Especialmente diante do aumento do consumo energético impulsionado por IA e big data
por Luis Cuevas*
O avanço acelerado da economia digital impõe um novo paradigma à infraestrutura crítica global: soluções cada vez mais sofisticadas são exigidas para garantir o equilíbrio entre disponibilidade, eficiência operacional e sustentabilidade energética. Nesse cenário, os data centers, espinhas dorsais da era da informação, enfrentam uma combinação inédita de desafios - calor extremo, consumo crescente e a busca ininterrupta por continuidade, fatores que colocam à prova até mesmo os projetos mais robustos. A resposta para esse momento passa, inevitavelmente, pela consolidação do armazenamento inteligente de energia como peça-chave na arquitetura elétrica desses ambientes.
A pressão por opções eficazes é sustentada por números expressivos. De acordo com um relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE), publicado em 2024, a carga de insumo elétrico dos data centers triplicou nos últimos dez anos. E o ritmo segue acelerado: o órgão projeta que esse volume poderá dobrar - ou até triplicar - novamente até 2028, impulsionado principalmente pela adoção em massa de aplicações baseadas em inteligência artificial (IA), machine learning e grandes volumes de dados. No Brasil, a tendência é semelhante. Dados do Ministério de Minas e Energia (MME) mostram que somente no ano passado houve um crescimento significativo nos pedidos de estruturas voltadas para o setor, com uma previsão de demanda máxima que pode atingir 9 GW até 2035.
Esse crescimento traz consigo uma expansão na complexidade da operação. A solicitação energética dos data centers não se limita, contudo, à alimentação dos servidores. Segundo o DOE, cerca de 40% da energia total consumida são destinados exclusivamente ao resfriamento desses sistemas. Esse percentual pode ser ainda maior em países de clima tropical, como o Brasil, onde as temperaturas elevadas tornam a dissipação de calor um desafio técnico e financeiro adicional. A ineficiência térmica, se não for tratada com inteligência, compromete não apenas o desempenho, mas a própria segurança da operação.
É nesse contexto que a estocagem eficiente assume um papel estratégico. Mais do que um recurso de contingência, ela se transforma em um componente ativo na gestão energética dos data centers, permitindo maior previsibilidade, eficiência e resiliência. Por meio de tecnologias como baterias de íon-lítio, sistemas híbridos e integração com fontes renováveis, é possível estocar energia nos períodos de baixa utilização - geralmente com tarifas mais acessíveis - e utilizá-la em momentos de pico, reduzindo custos operacionais, aliviando a pressão sobre a rede elétrica e assegurando a continuidade das cargas críticas.
Essas soluções modernas possibilitam uma lógica elétrica dinâmica, com respostas em tempo real a oscilações, picos e até falhas no fornecimento externo. Combinadas a sistemas térmicos otimizados, elas mantêm a operação estável mesmo sob condições adversas, oferecendo autonomia para o resfriamento emergencial sem depender exclusivamente de geradores a diesel - mais poluentes, caros e ruidosos.
Outro ponto cada vez mais relevante, embora ainda pouco discutido, é a função desse mecanismo na transição energética do setor de tecnologia da informação. À medida que empresas globais assumem compromissos ambientais mais ambiciosos e exigem o mesmo de seus fornecedores, cresce a necessidade de modernização de equipamentos. Soluções com monitoramento em tempo real, conexão com internet das coisas (IoT), algoritmos preditivos de uso e gestão baseada em dados deixaram de ser diferenciais competitivos e são hoje requisitos essenciais para qualquer operação que pretenda alinhar eficiência e sustentabilidade.
Nesse ambiente complexo, empresas de engenharia elétrica, automação, climatização e infraestrutura crítica ocupam uma posição central. São elas que projetam, integram e operam os sistemas que conservam os data centers funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana, muitas vezes com tolerância zero a falhas. Sua posição vai além da prestação de serviços: são agentes ativos na transformação de recursos energéticos do setor, com capacidade de oferecer soluções customizadas às particularidades climáticas, regulatórias e operacionais de cada região do país.
Investir em soluções como essa, adaptáveis às realidades brasileiras, é também uma questão de soberania virtual e energética. Afinal, na era da hiperconectividade, não há mais como dissociar energia, estabilidade térmica e digitalização. Os data centers do futuro serão mais potentes, ágeis, resilientes e, sobretudo, mais estratégicos. Nesse contexto, plataformas de estocagem representarão o elo crítico entre a potência tecnológica e a prudência estratégica necessária para sustentar a próxima geração desse ecossistema.
*Luis Cuevas é diretor de Secure Power e Negócios de Data Centers da Schneider Electric no Brasil
Jaqueline Nunes (jaqueline.nunes@rpmacomunicacao.com.br)