Luca Cafici, CEO da InstaCarro, diz que oferta de veículos usados no mercado deverá crescer

Aumento da oferta pode derrubar os preços praticados


A pandemia de coronavírus e as medidas decorrentes de isolamento social, com fechamento ao público de estabelecimentos comerciais não-essenciais na maioria das cidades, atingiu de morte boa parte do comércio de veículos no País. A Fenabrave, associação dos distribuidores oficiais de modelos zero-quilômetro, já calcula que 30% das empresas do setor podem não sobreviver à crise que levou o faturamento a zero, mas também as revendas de veículos usados estão em situação financeira delicada, podem ter de fechar as portas definitivamente, segundo aponta levantamento realizado no fim de abril pela InstaCarro em sua base que reúne cerca de 3 mil revendedores, que usam a plataforma para comprar veículos usados de particulares e revendê-los.

Segundo Luca Cafici, CEO da InstaCarro, o levantamento junto aos lojistas de carros usados da plataforma aponta para queda nas vendas de 50% em média desde o início das medidas de quarentena, sendo que para 20% dessas revendas a contração foi de 100% – ou seja, o faturamento caiu a zero –, enquanto a maioria das lojas está de portas fechadas e cheia de carros em estoque.

"Estamos preocupados com os impactos econômicos que essa crise pode trazer. A maioria de nossos clientes revendedores são pequenos negócios que dependem de ter suas lojas abertas para trabalhar. Numa pesquisa realizada internamente, 40% ressaltaram que têm caixa para ficar parado por apenas 30 dias. Da mesma maneira, 70% avaliam que, embora não tenham feito demissões, logo terão de demitir caso a situação não se normalizar", conta Luca Cafici.

Outro entrave aos negócios do setor apontado por Cafici foi o fechamento de boa parte dos Detrans no País, o que impede a realização efetiva das negociações de usados. “Os Detrans deveriam avaliar reabrir suas portas só para despachantes, para que as transferências de veículos aconteçam”, defende.

AUMENTO DE OFERTA, QUEDA DE PREÇOS E CENÁRIO PROMISSOR

Cafici avalia que em um primeiro a oferta de veículos usados no mercado deverá crescer, o que vai derrubar os preços. “Após a quarentena passar, lamentavelmente o número de desempregados aumentará e como consequência teremos muitas pessoas querendo vender seu carro”, aponta. “Ao mesmo tempo, as lojas de veículos se encontraram com os estoques cheios de veículos que compraram após carnaval e não conseguiram revender. O resultado disso uma grande desvalorização dos seminovos em relação aos preços que estavam sendo praticados pré-coronavírus.”

O CEO da InstaCarro diz que já se nota essa tendência, com concessão de grandes descontos nos preços em relação ao que era praticado antes da pandemia. Contudo, ele antecipa que o cenário para quem conseguir sobreviver à crise pode ser promissor. Isso porque a Covid-19 está transformando a sociedade e os hábitos das pessoas, entre eles o de procurar ambientes higienizados e sem aglomerações, o que poderá levar as pessoas a voltar a querer ter um veículo próprio para seu transporte com maior segurança à saúde.

Cafici destaca o exemplo da China, epicentro do início da pandemia e primeiro país a mitigar o contágio em sua população, que ainda segue impactada no dia a dia pelo legado do coronavírus. Ele cita levantamento da Ipsos, que revela crescimento de 34% para 66% na preferência dos chineses pela utilização de um carro particular, que subiu ao topo da lista de principais meios de locomoção, muito à frente de transporte público, carros compartilhados e caronas. Além disso, 72% demonstraram forte intenção de comprar um automóvel nos próximos meses e a principal razão, para 77% das respostas, é reduzir as chances de nova infecção.

Cafici avalia que algo parecido pode acontecer no Brasil à medida que a crise comece a se dissipar. “Será normal ver que pessoas que não tinham carro e tenham condição financeira tentem adquirir um”, aposta. Nesse cenário, ele projeta que as vendas de veículos usados devem crescer em ritmo mais acentuado, porque terão valores bem mais atrativos. “A disrupção das cadeias logísticas e a queda de produção de modelos zero-quilômetro fará que os preços deles aumentem muito mais em relação aos usados, gerando aumento significativo da demanda por carros usados em relação aos novos”, prevê.

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