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Letícia Costa, consultora e sócia da Prada Assessoria, faz uma análise sobre o desafio de recuperação da cadeia de autopeças

Ela diz que um dos desafio vai ser passar pela desconfiança que as empresas tem em relação ao cenário político brasileiro


Uma das consequências da pandemia de Covid-19 no Brasil deve ser a redução do patamar de investimentos das fabricantes de veículos no País entre 2020 e 2021. A análise é de Letícia Costa, consultora e sócia da Prada Assessoria. A especialista falou sobre o horizonte para a cadeia de valor automotiva durante Live #ABX20 na segunda-feira, 18.

“O que esta crise traz de diferente é que as empresas foram afetadas tanto no Brasil quanto nas matrizes”, diz. Ela lembra que, em 2008, os negócios locais conseguiram manter um patamar mais saudável e cresceram as remessas de lucros das empresas automotivas para o exterior. Já em 2015, quando a economia brasileira passou por contração, foram as matrizes que enviaram capital para as operações locais. Agora, com o mundo em crise, esta dinâmica fica comprometida, aponta.

" A direção que a indústria automotiva seguia permanece a mesma, de desenvolvimento de soluções eletrificadas e autônomas. Agora, no entanto, vamos demorar mais para chegar lá. Enquanto o receio do coronavírus estiver no ar, tudo fica mais complicado", avalia.

Letícia diz que não há problema em simplesmente reduzir o volume de aportes momentaneamente se esta for a estratégia global das companhias. “É muito natural do ponto de vista do negócio. O problema é se a contenção dos investimentos for maior no Brasil, o que nos deixaria defasados”, diz.

CRISE POLÍTICA PREJUDICA RECUPERAÇÃO

Letícia avalia que a crise política “praticamente constante” que o Brasil enfrenta é um risco à recuperação dos negócios e uma ameaça adicional aos investimentos. “Temos um talento para fabricar crises. Hoje o Brasil é avaliado como de alto risco por causa da insegurança acerca da habilidade do governo de colocar o País na direção desejada”, aponta.

A consultora avalia que o problema não afeta apenas o investimento das montadoras, mas também o interesse dos investidores pela compra de fábricas e negócios localmente. Com o real desvalorizado e o risco à sobrevivência para as autopeças, o momento poderia ser de oportunidade para o investimento em operações no País. Letícia, no entanto, diz que a realidade é bastante diferente:

“É muito provável que vejamos uma reestruturação das cadeias produtivas globais para reduzir a dependência da China”, conta. Segundo a especialista, o Brasil concorre por estes investimentos com uma série de países, como México, Vietnã e Índia - e não parece ser o melhor candidato a receber este tipo de aporte:

" Continuamos a ter uma indústria automotiva já tradicional e um mercado interno interessante, mas a visão internacional da nossa situação fiscal e política é complexa. Isso pesa muito no curto prazo", diz Letícia.

O DESAFIO DA SOBREVIVÊNCIA PARA OS FORNECEDORES

A consultora lembra que boa parte das companhias da cadeia automotiva tem a sobrevivência fortemente ameaçada pela pandemia. “Nós viemos de uma série de crises nos últimos anos e estas empresas não tiveram tempo para se recuperar completamente”, observa.
Na visão da especialista, as organizações que já vinham de um contexto de alto endividamento e baixa liquidez tem chances menores de superar o atual momento. “Já quem tinha uma situação razoável, deve conseguir capital de giro por meio de acesso ao crédito para atravessar este momento”, resume.

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