Mercado automotivo brasileiro deve demorar de dois a três anos para retornar ao patamar antes da pandemia
Automotive Business -
Análise é do Marcos Calliari, CEO da Ipsos
GIOVANNA RIATO, AB
O mercado automotivo brasileiro deve demorar de dois a três anos para voltar ao patamar de antes da pandemia de Covid-19. A estimativa é de Marcos Calliari, CEO da Ipsos, um dos maiores institutos de pesquisa e inteligência de mercado do mundo. O executivo falou com exclusividade a Automotive Business durante Live #ABX20.
" No Brasil temos o pior de dois mundos: uma quarentena particularmente longe, que afeta a economia de forma dura, e um problema de saúde muito grave. Quando tudo isso tudo acabar devemos ser um dos países com maior número de mortes do mundo", avalia.
Calliari aponta que a maior parte dos países que enfrentaram picos da doença já estavam saindo da quarentena ou ao menos programando este momento depois de dois meses. Algo que parece distante de acontecer no Brasil. O cenário é agravado ainda pela crise política que, segundo ele, mantém a população em constante estágio de tensão.
Com isso, o executivo avalia que vai faltar poder de compra para o consumidor investir em carros novos nos próximos meses, apesar do interesse maior em ter veículo próprio. Estudo da Ipsos indica que, na China, 62% se mostraram mais favoráveis a ter automóvel próprio por causa da preocupação sanitária.
“No Brasil este interesse é ainda maior. A questão é que não vai fazer sentido do ponto de vista econômico”, diz, citando que 40% das famílias apontam já ter a renda reduzida após a pandemia, segundo estudo do instituto. “Boa parte do restante das pessoas espera que essa queda da renda ainda aonteça.”
NÃO HÁ EXPLOSÃO DA DEMANDA APÓS A PANDEMIA
Com esta visão, Calliari descarta a possibilidade de uma recuperação em V da demanda, em que logo depois da depressão profunda, o mercado volta ao seu patamar anterior. Segundo ele, estudos conduzidos pela Ipsos em outros países indicam que, após a liberação da quarentena, as pessoas não retomam imediatamente seus antigos hábitos de consumo.
" Essa visão eufórica do fim da quarentena não existe. Na maioria dos países, as pessoas não voltaram a exercer as mesmas atividades e a consumir em ritmo equivalente. As únicas exceções foram a busca por salões de beleza e por consultas médicas", aponta.
DIGITALIZAÇÃO E INTERESSE POR CARROS MAIS BARATOS
Calliari conta que os levantamentos da Ipsos indicam como tendência para o novo normal, quando a pandemia estiver controlada, o interesse por veículos mais baratos. “Por causa do menor poder de compra, veremos um downgrade no Brasil”, prevê.
Segundo ele, seguirá forte no País as tendências que já estavam presentes antes da crise, como o maior interesse por veículos utilitários esportivos. A questão é que a situação econômica deve represar boa parte desta demanda.
Outra direção clara é a digitalização, aponta. O executivo lembra que o e-commerce vem batendo recordes em todo o mundo no momento em que as pessoas evitam sair de casa. “Este pico não vem dos usuários tradicionais, que já compravam on-line, mas de pessoas que se inseriram neste canal justamente por causa da Covid-19”, conta.
Para ele, o grande desafio das empresas automotivas está em justamente acolher estes consumidores menos acostumados ao meio virtual.
" As pessoas precisam ser acolhidas, ter uma jornada única e sentir que conseguem falar com alguém caso tenham um problema. O grande desafio do setor automotivo é unir as soluções digitais com esta humanização do atendimento", diz.
Segundo dados da Ipsos, 25% das pessoas que querem comprar carro nos próximos meses já consideram usar ferramentas virtuais para isso.