Scania reduz expectativa e avalia o novo cenário para a venda dos caminhões movidos a gás
Automotive Business -
Empresa esperava vender 200 e 300 caminhões a gás só neste ano
SUELI REIS, AB
A pandemia do novo coronavírus e a crise que chegou junto com ela pode retardar ainda mais a adoção de tecnologias mais amigáveis ao meio ambiente e menos poluentes no Brasil dedicadas ao transporte de cargas. Há quase quatro meses, no início de fevereiro, a Scania apostava em 2020 como um ano histórico no qual poderia finalmente colocar em prática, ou melhor, nas estradas, sua mais nova solução para o setor, o caminhão movido a gás natural veicular (GNV), tanto na forma comprimida (GNC) ou liquefeita (GNL), além de biometano, gás derivado de lixo e matérias orgânicas em decomposição. Naquele mês, a montadora comemorava a conclusão das primeiras vendas realizadas ainda na Fenatran, em outubro de 2019. Otimista, a companhia então esperava emplacar entre 200 e 300 caminhões a gás só neste ano.
Com a crise impactando ainda mais a economia brasileira, agora a Scania tira o pé do acelerador e avalia o novo cenário para a venda dos caminhões movidos a gás. A nova estimativa foi feita na quinta-feira, 28, pelo diretor de vendas Silvio Munhoz durante coletiva de imprensa virtual sobre a entrega dos primeiros caminhões a gás vendidos no Brasil.
" Em fevereiro, eu disse que esperávamos vender algumas centenas desses caminhões. Dada a situação da Covid-19, sou obrigado a ser mais pessimista: eu diria que vamos fazer um esforço muito grande e termos fundamentos suficientes para sinalizar alguma coisa perto da primeira centena de caminhões este ano em aplicações tanto rodoviárias como off-road", disse Munhoz.
O executivo acrescentas que entre as dificuldades para introduzir a nova tecnologia no País, está o índice de nacionalização, hoje entre 40% e 45%. Segundo Munhoz, a Scania já conversa com fornecedores sobre a localização dos tanques, onde o gás é armazenado no caminhão, item que mais impacta neste quesito, e também de suas válvulas.
“Para qualquer componente, tem que ter um volume mínimo para o fornecedor começar o trabalho de desenvolvimento. Estamos discutindo com os fornecedores e sinalizando para eles o que a gente imagina o que vai ser a demanda de caminhões a gás aqui no Brasil este ano e nos próximos anos para eles começarem trabalhando nesse processo de desenvolvimento”, acrescentou.
Munhoz disse ainda que a introdução do caminhão a gás no Brasil vem sendo trabalhada pela Scania desde 2015 e neste período outra grande dificuldade foi a de unir toda a cadeia necessária para que o caminhão pudesse operar adequadamente. Vencida a etapa de produção nacional do veículo – a montadora investiu R$ 30 milhões para produzi-los em sua fábrica de São Bernardo do Campo (SP) – e também a inclusão de novos fornecedores para o projeto, a empresa conta sobre o esforço de trazer para perto os produtores de gás natural no País e viabilizar a rede de abastecimento.
“Hoje o País conta com uma distribuidora de gás em cada estado e nós já temos a maior parte delas engajadas no processo. Também temos os fornecedores de compressores a gás que são utilizados nos postos de abastecimento e que são diferentes dos compressores para automóveis, eles precisam ser maiores e com maior vasão e pressão para garantir um tempo de abastecimento semelhante ao do diesel. Então o maior desafio é este, garantir o abastecimento em tempo adequado para os caminhões.”
OS PIONEIROS
Os primeiros caminhões a gás da Scania vendidos no Brasil foram adquiridos por duas transportadoras: a Jomed Log e a RN Express, ambas adquiriram duas unidades cada do modelo R 410 6x2 e foram atendidas pela concessionária Codema, de Guarulhos (SP). Os veículos farão a rota São Paulo-Rio de Janeiro para o transporte de produtos do cliente comum L’Oréal.
O diretor comercial da RN Express, Rodrigo Navarro, que a compra dos dois caminhões movidos a gás faz parte da estratégia da empresa em atender clientes como a L’Oréal e a Nestlé Nespresso com o compromisso de adotar soluções mais sustentáveis. Mesmo com a pandemia, o executivo ressalta que em nenhum momento seus clientes desistiram de incluir veículos menos poluentes nas frotas que os atendem.
“Já estamos negociando com outros embarcadores [clientes] sobre este projeto para ampliar a frota de caminhões a gás com cinco a dez novos veículos ainda este ano”, revela Navarro. “E em julho já vamos iniciar com mais um caminhão a gás para atender a Nespresso”, completa.
O gerente nacional de transporte e logística da L’Oréal, Renan Loureiro, destaca a prioridade da empresa no seu compromisso público anunciado em 2011 em reduzir emissões e na descarbonização da cadeia. Segundo ele, faltava apenas uma solução no transporte de carga pesada. A empresa, que não possui frota própria, terceiriza 100% dos caminhões utilizados em sua operação de distribuição de produtos pelo Brasil.
“Nossa meta é ter 100% de veículos a gás em nossa operação no período de três a cinco anos”, afirmou.
Certa do apoio dos clientes, a Scania espera ainda um outro tipo de apoio, mas que ainda não existe por aqui: o tributário.
“Aqui no Brasil, seria interessante não subsidiar, mas sim reduzir a carga tributária. Não há qualquer tipo de incentivo para caminhões movidos a gás ou a biometano”, lamenta o diretor da Scania, Silvio Munhoz.
Ele conta que na Europa, quase todos os países concedem algum tipo de estímulo para veículos movidos a combustíveis alternativos, caso da Alemanha, que dá um bônus de € 13 mil para a compra de caminhões que custam até € 200 mil. Com isso, a Scania espera chegar a 2025 com quase 30% de sua produção formada por veículos com propulsão menos poluente, sem contar os elétricos. Isso inclui caminhões movidos a gás, diesel, etanol e diesel renovável HVO (óleo vegetal hidrogenado, na sigla em inglês).
Em todo o mundo, a Scania já vendeu 4 mil caminhões a gás desde que lançou a solução, há dois anos.