Anfavea vê avanço para melhorar as condições de financiamento da indústria durante a crise
Automotive Business -
Presidente da entidade diz que governo reconheceu que medidas não tinha chegado à ponta de quem precisa
PEDRO KUTNEY, AB
Após dois meses de reclamações sobre a escassez de crédito para reaquecer vendas e socorrer o caixa das empresas que ficaram sem faturamento com a chegada da pandemia de coronavírus ao País, a associação dos fabricantes de veículos, a Anfavea, começou a ver o que chamou de “avanços” para melhorar as condições de financiamento da indústria durante a crise. Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade, o governo reconheceu que que as medidas que tinha adotado para irrigar a liquidez do mercado não tinham chegado à ponta de quem precisa, pois os bancos tiveram mais acesso a recursos para emprestar, mas também ficaram mais avessos ao risco crescente de inadimplência e se tornaram mais restritivos.
" Estivemos esta semana com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e ele disse que essa era a semana que dedicou a resolver os problemas de crédito. Por isso as medidas começaram a avançar", contou Luiz Carlos Moraes.
Moraes destacou três avanços nesse sentido: a inclusão de bancos de montadoras no acesso a recursos do Banco Central da ordem de R$ 600 bilhões para poder financiar compras de veículos e o estoque de concessionárias – esses fundos já haviam sido liberados para bancos mas as instituições ligadas aos fabricantes de veículos tinham ficado de fora –; a edição da Medida Provisória 975 que aumenta as garantias que o BNDES pode dar a empréstimos a pequenas e médias empresas; e as negociações para usar créditos tributários de cerca de R$ 25 bilhões acumulados pelas montadoras para financiar seu capital de giro com crédito bancário mais barato – algo que a Anfavea já vinha negociando com o governo.
Segundo Moraes, a ideia em estudo no governo agora é “monetizar esses créditos tributários”, transformá-los em títulos (espécie de nota promissória), para garantir empréstimos com juros mais baratos que ajudariam os fabricantes a financiar seu capital de giro e assim atravessar o período de escassez de recursos em caixa. “Estamos avançando, são necessários pequenos ajustes na legislação para construir esse mecanismo. É possível resolver isso até o próximo mês”, disse. O presidente da Anfavea contou que Carlos da Costa, titular da Sepec (Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, equivalente ao antigo MDIC, Ministério da Indústria), se comprometeu a encontrar uma solução para o problema o mais breve possível.
Em outra frente, Moraes comemorou o fato de os bancos das montadoras terem sido incluídos entre as instituições financeiras que podem acessar os recursos do Banco Central para lastrear seus financiamentos, tanto para consumidores de veículos como para concessionários. “Negociamos em conjunto com a Anef (associação das financeiras de montadoras) e fomos atendidos. Já existem bancos de fabricantes negociando o acesso a esses fundos. Com isso será possível aumentar a concessão de crédito e apoiar as vendas do setor”, disse.
MAIS CRÉDITO ÀS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
Embora não seja direcionada exclusivamente ao setor automotivo, a Anfavea também comemorou a edição da Medida Provisória 975, editada esta semana pelo governo para tentar destravar o crédito bancário com juros menores a pequenas e médias empresas em geral, que em 2019 tiveram faturamento entre R$ 365 mil e R$ 300 milhões.
A MP autorizou o governo a aportar R$ 20 bilhões no Fundo Garantidor de Investimentos (FGI) do BNDES, que irá usar esses recursos para garantir até 80% dos empréstimos dos bancos a essas empresas. “Isso reduz o risco e pode destravar o crédito para muitos da nossa cadeia de valor, como concessionários, por exemplo”, disse Moraes. “Agora os bancos têm essa responsabilidade de fazer os recursos chegarem a quem está o precisando.”
O mercado calcula que a MP 975 tem potencial para liberar até R$ 100 bilhões em financiamentos ao capital de giro de pequenas e médias empresas. O FGI só garante o máximo de 30% da carteira de crédito de cada banco. Ainda falta regulamentar essas operações, o que tem prazo para acontecer até 1º de julho. “Mas defendemos que isso aconteça antes, porquee muitas empresas precisam desses recursos urgentemente”, destacou Moraes.