Hyundai crê em continuidade do bom desempenho no mercado
Automotive Business -
Vice-presidente comercial Angel Martinez estima que tombo na montadora será menor do que a média do mercado brasileiro este ano
A crise trazida pela pandemia de coronavírus interrompeu bruscamente o ciclo contínuo de sete anos seguidos de crescimento que a Hyundai Motor Brasil experimentava desde que começou a produzir carros em Piracicaba (SP), em 2012. As medidas de isolamento social para conter a Covid-19, com fechamento de fábricas e concessionárias, turbinou a recessão econômica que trouxe queda de vendas sem precedentes à indústria de veículos no País. A marca coreana também foi duramente atingida, mas o vice-presidente comercial Angel Martinez estima que a Hyundai continuará mantendo desempenho superior e seu tombo será menor do que a média do mercado brasileiro este ano.
Martinez foi o convidado na terça-feira, 9, da série de entrevistas Lives #ABX20 (veja aqui esta e todas as já gravadas) promovida por Automotive Business. O executivo avalia que a Hyundai e sua rede de 219 concessionárias não deverão encolher substancialmente no Brasil, disse que até agora os projetos e lançamentos previstos estão mantidos. Mais importante, destacou que já houve melhora das vendas em maio e na primeira semana de junho.
"É prematuro dizer que chegamos ao fundo do poço, mas números de maio e começo de junho apontam melhora significativa na comparação com abril. Mês passado aumentamos (as vendas de) varejo em 97%. Nos primeiros sete dias deste mês foi mais 8% em relação aos primeiros dias de maio. Parece que estamos começando uma retomada, mas tudo isso pode parar por medidas restritivas que os governos podem achar necessárias novamente", relatou Angel Martinez.
“Caímos em abril e maio semelhantes ao ritmo do mercado, basicamente porque as concessionárias estiveram fechadas. Continuamos atendendo alguns parceiros principais no segmento de locação, em vendas já programadas antes da pandemia, e reforçamos os canais digitais. Estamos felizes que nesse período o HB20 voltou à segunda posição entre carros mais vendidos do País. Mas acreditamos que o pico [de baixa] já passou e com a reabertura das lojas parte das pessoas voltará a ir para a loja para fechar o negócio”, pondera Martinez.
CONFIANÇA NA FORÇA DOS PRODUTOS HYUNDAI NO PAÍS
O executivo prevê que todos os próximos meses até o fim de 2020 vão apresenta resultados de queda comparativamente a 2019. Ele avalia que está correta a recente projeção da Anfavea (associação dos fabricantes) que estima tombo de 40% para o mercado brasileiro de veículos este ano, porém confia que a Hyundai ficará na ponta mais baixa dessa média de retração.
Martinez acredita que os produtos da marca coreana continuarão a fazer o sucesso entre os consumidores brasileiros, que já garantiu à Hyundai o posto de fabricante que mais rápido chegou a produzir 1 milhão de veículos no País, em agosto de 2018, menos de seis anos desde a inauguração da fábrica de Piracicaba, em 2012, que já no ano seguinte passou a operar em três turnos, com uso de mais de 90% da capacidade instalada, sem interrupções até março passado. “Crescemos em produção até em 2016, ano de queda no mercado em que a Hyundai quebrou a hegemonia das top quatro marcas e ficou entre as quatro maiores”, lembra.
Justamente no início deste mês, com a produção em seu nível histórico mais baixo, a Hyundai emplacou seu carro número 1,3 milhão no Brasil. A planta de Piracicaba foi paralisada por dois meses e voltou a trabalhar parcialmente em 13 de maio, com apenas um turno, e o retorno de empregados afastados em layoff está previsto para o próximo dia 25. . “O primeiro fator a considerar é segurança dos colaboradores e depois tem a demanda. Maio trouxe luz no fim do túnel e, se junho continuar, a perspectiva é boa para aumentar produção”, afirma Martinez.
LANÇAMENTOS MANTIDOS; NOVO CRETA SÓ EM 2021
O vice-presidente comercial da HMB afirma que até o momento nenhum lançamento da marca precisou ser postergado. Após a introdução da nova geração da família HB20 no ano passado (hatch, sedã e cross), Martinez nega que estivesse programada para 2020 a chegada do novo Creta. “Lançamos no início de 2017 e nosso plano não é renovar este ano. O modelo continua como está”, garante. Então é para 2021? “Daqui um ano conversamos se teremos ou não renovação”, desvia, destacando que o SUV compacto segue agradando: “Excluindo vendas a locadoras, o Creta é o SUV mais vendido do País no segmento de pessoas físicas”, pontua.
Martinez admite que o maior risco de atrasar a chegada de novos produtos ao Brasil seria a manutenção por muito mais tempo de restrições a viagens, o que levaria à impossibilidade de enviar pessoas para treinamento e produtos para desenvolvimento e homologação no exterior. “Pode ser que lançamentos sejam postergados por esta questão logística. A Hyundai tem uma planta na Coreia para treinar pessoas que vão produzir veículos em outros lugares do mundo. Antes fazer aqui, temos de enviar nossos colaboradores para lá. Se não for seguro viajar, vamos precisar adiar. Mas acompanhando o movimento que vemos no mundo, a perspectiva é positiva, por isso não consideramos atrasos para lançamentos até esse momento”, revela.
Por motivo semelhante, Martinez avalia que em alguma medida terão de ser adiadas as próximas etapas da legislação de emissões, eficiência energética e adoção de sistemas de segurança, que estavam previstas para os próximos anos pelo Proconve e Rota 2030. “As medidas de distanciamento social que tem mantido pessoas em casa também têm impactado fortemente os laboratórios de testes e homologação. Então algum tipo de postergação será necessário até para seguir orientações de preservar colaboradores”, pondera.
Também está mantido o plano estratégico global de eletrificação de veículos do Grupo Hyundai, inclusive para o Brasil, onde se esperava a chegada de um híbrido da marca que seria importado pelo Grupo Caoa – possivelmente o Ionic, apresentado no estande da marca no último Salão de São Paulo, em 2018. “Continuamos trabalhando com o Grupo Caoa para isso. Por enquanto nada mudou. Mas tem a questão de homologação do produto e [da queda de mercado] com a pandemia, poderia ter um atraso. Não tenho toda a informação porque também depende do nosso importador”, diz Martinez.
REDE HYUNDAI: ENXUTA E SÓLIDA
Apesar de reconhecer que o momento é muito difícil para os concessionários, Martinez garante que até agora não ouviu de nenhum deles a manifestação de fechar o negócio após a falta de faturamento causada pelo fechamento das lojas. “A rede Hyundai é bem enxuta, tem 219 pontos de venda e 214 oficinas, por isso é mais rentável, costuma ter o segundo maior número de carros vendidos por loja no País. Não trabalhamos com possibilidade de fechamento, no máximo consolidação [de alguns pontos]”, afirma.
Martinez afirma que o estoque dos concessionários está muito elevado, mas eventualmente podem faltar alguns modelos porque está difícil fazer o planejamento de produção para atender todos os tipos de demanda.
Também segundo Martinez não está no horizonte planos para mudar o sistema exótico de duas redes de concessionárias que a Hyundai mantém no País: uma operada pelo Grupo Caoa que vende os modelos importados e dois SUVs montados em Anápolis (GO), o ix35 e o Novo Tucson; outra só para vender os HB20 e Creta feitos em Piracicaba. “Como a Hyundai foi a última das grandes montadoras a desembarcar no Brasil, já existia a rede de importados. Na época decidimos criar a rede exclusiva para o HB20, porque era um segmento novo. Até hoje continuamos com duas redes e tem dado certo. A receita funciona, então não teremos qualquer mudança nisso a curto prazo”, informa.
Dessa forma, também não está nos planos a importação de veículos para aumentar o portfólio da HMB no País – essa parte do negócio continua com o Grupo Caoa. “A minha responsabilidade é HMB, Creta e [linha] HB20. Não posso falar pelo nosso importador, apesar de conversarmos diariamente. O importante é que tanto eles, quanto nós, sempre estamos monitorando oportunidades”, diz. Na mão contrária, das exportações, o alcance da Hyundai no Brasil continua bastante limitado: quase 98% dos carros produzidos em Piracicaba são destinados ao mercado brasileiro, enquanto vendas para Uruguai, Paraguai e Colômbia representam menos de 3% da produção.
Mesmo só dependendo do mercado interno para sustentar a fábrica no País, Martinez confia que a HMB não vai precisar encolher suas operações comeerciais. “Algumas atividades específicas poderão ser redimensionadas. Uma delas é área de vendas de algumas revendas. Vimos que é possível vender milhares de carros remotamente. Algumas marcas que tinham showroom que eram palácios irão revisar este conceito”, avalia.