Avaliação do cenário para caminhões e implementos pesados
Automotive Business -
Cavalcanti, da Volvo, e Fabris, da Anfir, participaram da série de entrevistas Lives #ABX20 sobre o mercado de caminhões e implementos pesados
PEDRO KUTNEY, AB
A paralisia econômica causada pela pandemia de coronavírus também atinge com força o mercado de caminhões e implementos pesados, mas o cenário poderia ser bem pior sem o agronegócio brasileiro e suas safras recordes, que movimentam boa parte das vendas de ambos os segmentos. Mais uma vez, as plantações brasileiras de grãos e toda a economia que gira em torno devem salvar o que resta do ano.
Essa visão foi compartilhada pelos dois convidados na quinta-feira, 19, da série de entrevistas Lives #ABX20 (veja aqui esta e todas as já gravadas) promovida por Automotive Business. Para um dos entrevistados, Alcides Cavalcanti, diretor comercial de caminhões da Volvo do Brasil, a queda nas vendas de caminhões no País este ano deverá se situar entre 35% e 40%, em linha com a projeção da associação dos fabricantes, a Anfavea, que no início deste mês divulgou previsão de retração de 36% este ano para o mercado de veículos pesados de carga, o que representaria emplacamentos de apenas 65 mil unidades, contra 101 mil em 2019.
“Muitos fatores estão envolvidos, como a própria questão da pandemia, a evolução da economia como um todo, se vai recuperar em ritmo mais lento ou mais rápido. Temos mais dúvidas do que certeza neste momento”, disse Alcides Cavalcanti.
Já Norberto Fabris, presidente da Anfir (entidade que reúne os fabricantes de implementos rodoviários), concorda que ainda não é possível fazer previsões corretas, mas estima que as vendas de carretas fabricadas pelos associados que representa deverão cair menos. Ele revela que após paralisações da produção em abril e maio, quase todas as fábricas do setor já voltaram a operar, a maioria parcialmente e algumas a pleno vapor. “Até aqui (nos primeiros cinco meses de 2019) a queda é da faixa de 20% (20 mil carretas vendidas). A expectativa é de que se mantenha como está para algo melhor no segundo semestre, quando segmentos que mais sofreram com a pandemia talvez voltem a crescer, como consumo nas cidades e construção civil. Mas não dá para pensar que estaremos tão descolados do mercado de caminhões”, avalia.
“Na última Fenatran (em outubro de 2019) estávamos muito felizes, otimistas, e projetávamos para 2020 um crescimento de dois dígitos, de 10% sobre 2019. E agora mudou tudo. Ficaria muito feliz se conseguirmos fechar o ano com 100 mil implementos vendidos”, lamenta Norberto Fabris.
Cavalcanti, da Volvo, revela que os emplacamentos das categorias de modelos semipesados e pesados voltou a apresentar crescimento: “Este mercado era de 6 mil caminhões por mês e vinha em crescimento no início do ano. Em abril caiu para 3 mil unidades, em maio subiu a 3,6 mil. Agora em junho, com a reabertura dos Detrans, voltou à casa dos 6 mil, mas não é recuperação, houve represamento de emplacamentos. O movimento real do mês é de cerca de 4 mil vendas. Estamos ainda muito abaixo”, pondera.
Fabris diz que os fabricantes de implementos também observaram uma melhora no escoamento das vendas este mês: “Após retração muito forte em abril, agora estamos voltando a um patamar um pouco mais próximo da realidade, de 260 emplacamentos/dia. Não é o que era, mas é mais razoável”, conta.
AGRONEGÓCIO PUXA OS NEGÓCIOS
Tanto Cavalcanti quanto Fabris afirmam que, de fato, o agronegócio é o setor que sustenta as vendas de caminhões e carretas de alta capacidade de carga. “No segmento de pesados, vemos alguns setores mais ativos, o agrícola está forte com a safra recorde este ano de 250 milhões de toneladas de grãos. Mineração também está retomando, assim como a indústria alimentícia. Alguns setores se mantiveram e até aumentaram encomendas. No setor sucroalcoleiro, apesar de não estar bem no etanol, está exportando a produção de açúcar”, enumera o diretor da Volvo. Para Fabris, o agronegócio é o responsável em grande medida pelo movimento econômico do País: “Acredito que safra pode salvar muitos negócios. Cerca de um terço das nossas vendas são para o agro. Mas acho que esse número é maior. Não é só o transporte de grãos, mas tudo que o setor envolve, como o transporte de fertilizantes, álcool, açúcar... E o dinheiro que gira no agro movimenta outros setores, como a construção civil, o consumo etc. Indiretamente, também é fundamental para o nosso negócio. Esse programa anunciado ontem (Plano Safra 2020/21, que libera R$ 236 bilhões em crédito) vai fazer com que o setor se saia muito bem”, avalia.
“O agronegócio é a locomotiva do Brasil e do transporte pesado. Não é só para grãos, é uma cadeia complexa que requer muitos caminhões”, afirma Cavalcanti, destacando ainda que o setor segue com previsão de crescimento: “A produção agro está muito bem hoje, fez 30% a 40% das vendas desta safra lá atrás e já está vendendo safra futura com cambio fechado mais alto, isso favorece produtor e cadeia como um todo”.
Fabris e Cavalcanti também falaram sobre as opções de crédito para financiar o setor, bem como dos possíveis programas para reaquecer a economia do País e o setor de caminhões e implementos mais rapidamente após a pandemia. Assista a entrevista completa abaixo: