Houve retração, mas em geral o mercado está indo melhor do que as previsões
Automotive Business -
Em Live #ABX20, presidente da CNH Industrial América Latina falou sobre o cenário pós-pandemia dos setores de máquinas e veículos comerciais
PEDRO KUTNEY, AB
Passado o pânico inicial causado no País pela pandemia de coronavírus em março, todos os fabricantes de veículos comerciais (caminhões e ônibus) e máquinas agrícolas e de construção já voltaram a operar suas fábricas, ainda que em ritmo menor. Felizmente, as previsões iniciais de profunda queda dos negócios “estavam todas erradas, houve sim retração, mas em geral esses mercados estão indo melhor do que esperávamos”, afirmou Vilmar Fistarol, presidente na América Latina do maior conglomerado de empresas fabricantes de vens de capital veiculares, o grupo CNH Industrial. O executivo participou da série de entrevistas Lives #ABX20 (veja aqui esta e todas as já gravadas) promovida por Automotive Business na terça-feira, 30.
Fistarol conta que inicialmente a CNH Industrial, que tem 10 mil empregados na América Latina, planejava interromper no início de abril a produção de todas as suas fábricas na região, mas o pânico trazido pela pandemia antecipou a paralisação para o meio de março. “Se pudesse voltar atrás pararia uns 10 dias depois. Isso nos custou perda de produção que pode nos fazer falta”, avalia.
Isso porque, segundo Fistarol, todos os mercados onde a CNH Industrial atua (máquinas agrícolas e de construção New Holland e Case, caminhões e ônibus Iveco e motores FPT) estão indo melhor do que foi inicialmente previsto. “No setor de construção erramos um pouco [para baixo], esperávamos queda bem maior; caminhões também foram menos afetados pela crise; mas onde mais erramos foi na área agrícola, que segue com crescimento expressivo, com exportações e câmbio favorável”, argumenta.
VOLTA À PRODUÇÃO COM OTIMISMO MODERADO
Todas as unidades industriais do grupo voltaram a operar desde o meio de abril, começando pela fábrica de máquinas de construção em Contagem (MG), depois a Iveco e FPT voltaram a produzir veículos comerciais e motores em Sete Lagoas (MG), seguida pela produção de colheitadeiras de cana e café em Piracicaba (SP), colheitadeiras de grãos em Sorocaba (SP) e tratores agrícolas em Curitiba (PR). A fábrica da Iveco e FPT em Córdoba, na Argentina, também voltou ao trabalho, mas lá o problema adicional à pandemia foram as restrições às importações de componentes adotadas pelo governo.
“O peso [da retração] do PIB é muito negativo, mas conforme a economia vai entrando nos eixos começa a melhorar a confiança e os humores também mudam. Exemplo disso é o agronegócio com exportações em alta, que gera bom humor geral no mercado”, avalia Vilmar Fistarol.
Para o executivo, o Plano Safra 2021 anunciado recentemente pelo governo que prevê a concessão de R$ 236 bilhões em crédito ao agronegócio deverá ajudar o setor de máquinas e caminhões também, mas ele pondera que só uma pequena parte do programa, de R$ 9 bilhões, é destinado ao Moderfrota, programa de renovação de máquina agrícolas administrado pelo BNDES. Os juros de 5% a 6% ao ano também são considerados altos diante da taxa básica (Selic) estabelecida atualmente em 2,25% ao ano, o menor patamar da história.
Fistarol pondera que esse é o único fator que mitiga parcialmente os efeitos da desvalorização cambial acima de 40% este ano. “Em outros momentos, uma alta do dólar como essa afetava a inflação, mas não é o que acontece desta vez, o que melhora um pouco a situação. Mas se o câmbio favorece as exportações do agronegócio, por outro lado também aumenta os custos [de componentes importados]. Temos bons índices de nacionalização, mas com desvalorização cambial de 40% quem não repassar vai quebrar. Também fomos obrigados a aumentar preços”, diz.
O presidente da CNH Industrial afirma que, apesar do cenário turbulento e de problemas de baixo crescimento econômico que já vinham de antes da pandemia chegar ao Brasil, considera “boa” a performance de todas as divisões do grupo na região. “Claro que gostaríamos que fosse melhor, com rentabilidade maior”, destaca.
INVESTIMENTOS MANTIDOS EM NOVA REALIDADE
Segundo Fistarol, nenhum investimento do grupo na região foi cancelado, no máximo será estendido um pouco mais adiante. “Mas espero por alguma ajuda e sensibilidade para adiar alguns programas”, diz ele, referindo-se ao pedido de postergação em três anos da próxima fase do programa de emissões para veículos a diesel, o Proconve P8, que está previsto para 2022/2023 com a adoção no País de tecnologia de controle Euro 6, que exigiriam da indústria investimentos estimados em R$ 14 bilhões.
O executivo, que vem trabalhando em sua casa em Nova Lima (MG) há mais de 100 dias, avalia que a adaptação ao home office foi boa e veio para ficar. “Felizmente essa pandemia chegou no nosso melhor momento para enfrenta-la. Imagine como seria se não tivéssemos todos os instrumentos digitais [de comunicação] que temos hoje? Os meios digitais evoluíram muito e permitem que consigamos administrar os negócios, mesmo à distância nunca estivemos tão perto, já fiz reuniões com mais de 500 líderes da região, depois com mais de 1,2 mil empregados mensalistas”, comenta Fistarol, para quem o mais importante no momento é “o foco no essencial”.