Anfavea prevê mercado automotivo similar ao de 2019 apenas em 2025

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, crê em recuperação lenta do mercado nos próximos cinco anos


SUELI REIS, AB

A crise gerada pela pandemia do coronavírus que afeta a indústria automotiva global e também brasileira deixará marcas profundas na história do setor. As fabricantes de veículos no Brasil preveem que o mercado doméstico só retomará ao nível de vendas visto em 2019, que foi de 2,78 milhões de unidades, apenas em 2025, considerando o melhor cenário. A estimativa foi divulgada na segunda-feira, 6, durante coletiva virtual para apresentar os resultados de vendas no primeiro semestre de 2020, cujos emplacamentos recuaram 38% na comparação com o mesmo período do ano passado com o licenciamento de pouco mais de 809 mil unidades, considerando a soma de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.

Para este ano, a Anfavea espera pela venda de algo próximo a 1,67 milhão de unidades, volume que se for confirmado no fim de dezembro, representará uma queda de 40% sobre o desempenho de 2019, claramente o impacto negativo da pandemia no mercado e na economia brasileira.

Segundo o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, a recuperação do setor será muito lenta nos próximos cinco anos, ao mesmo tempo em que indica a perspectiva de uma escalada das vendas até 2025, quando espera atingir níveis próximos aos de 2019. Até lá, as montadoras estimam que as perdas nas vendas representarão cerca de 3,5 milhões de veículos nestes cinco anos.

Nesta análise da Anfavea, que é a mais otimista e baseada nos estudos das crises enfrentadas pelo setor nas últimas quatro décadas, a entidade aplicou uma média de crescimento de 11% ao ano - que é o porcentual de crescimento médio dos anos da última crise, entre 2015 e 2016, quando a queda média das vendas foi de 41%.

"É a nossa melhor hipótese considerando a experiência do passado", afirma Luiz Carlos Moraes. "No pior cenário, a recuperação só viria em 2030", completa o presidente da Anfavea.

Quando cita o pior cenário, ele se refere a um crescimento médio de 5% ao ano, índice verificado pela indústria na crise do petróleo em 1981, quando as vendas tiveram queda de 41%. De lá para cá, outras crises foram enfrentadas, com níveis de recuperação de 7% e 6% ao ano, respectivamente nas crises de 1987 e de 1998-1999.
 

DE VOLTA PARA O PRESENTE

Enquanto o futuro próximo não chega para confirmar - ou não - as perspectivas da Anfavea, a entidade informa que o último trimestre, fortemente impactado pela pandemia de coronavírus, registrou uma queda de 45% dos emplacamentos com relação ao primeiro trimestre do ano, lembrando que a pandemia começou a afetar as atividades do setor na última quinzena de março, portanto, as duas últimas semanas daquele trimestre.

No segundo trimestre, conforme as atividades foram retomando aos poucos, os emplacamentos seguiram a mesma tendência. No entanto, algumas vendas de veículos realizadas em abril e maio só foram confirmadas em junho, uma vez que os Detrans de alguns estados ainda não estavam operando normalmente nos meses anteriores. Segundo o presidente da Anfavea, atualmente eles estão funcionando em todos os estados, embora em ritmos diferentes.

Isso causou um represamento de registros de vendas inflando os números de emplacamentos de junho, que somaram 132,8 mil unidades, entre leves e pesados. Destes, cerca de 30 mil veículos ou 22,6% foram negociados em abril e maio. Neste caso, sem o efeito de represamento, as vendas de junho teriam sido de 103 mil veículos, aponta a estimativa da Anfavea e também da Fenabrave, que reúne as concessionárias e que já havia informado sobre o efeito represamento dos emplacamentos de junho.

Da mesma forma, o acúmulo de licenciamentos em junho gerou uma média diária de vendas maior do que realmente deveria ter sido. Dados da Anfavea apontam que a média de junho foi de 6,3 mil emplacamentos para cada dia útil do mês – sem o efeito represamento, a média vai a 4,9 mil unidades. Ainda assim, os números estão muito abaixo do verificado há um ano: em junho de 2019, a média diária de vendas beirava as 11,8 mil unidades por dia útil.

Nos primeiros dias de julho, a Anfavea verificou média de vendas diárias entre 5 mil e 6 mil/dia, que é o mesmo volume médio verificado em junho. “Deve subir um pouco este mês, mas ainda é cedo para soltar rojão. O volume ainda está muito abaixo do que era antes da pandemia”, comenta Moraes.

O QUE ESPERAR DE 2020

As fabricantes de veículos confirmam um volume de vendas 40% menor neste ano com relação a 2019, queda mais pessimista que a da, Fenabrave, que espera retração na casa dos 36%.

A previsão da Anfavea é baseada nos efeitos da crise econômica pós-pandemia, com queda do PIB esperada em 7% e alta no desemprego, com consequente queda da renda e da confiança. Segundo a entidade, o volume esperado para o ano, de 1,67 milhão, será o pior desde 2004, e para atingir o número o mercado deverá absorver algo como 160 mil/mês até dezembro, volume que não se via tão baixo desde alguns meses de 2017, e não muito longe das 171 mil unidades de janeiro deste ano, que é um mês historicamente fraco.

"Essa é a foto de hoje, considerando o cenário atual da saúde no Brasil e na América Latina, que monitoramos todos os dias. Esperamos que tenha motivos para revisar estes números, que são difíceis de digerir. Há um impacto em toda a cadeia e essa é uma preocupação constante. Vai ser um ano difícil, mas como todas as outras, vamos sair dessa crise também", concluiu o presidente da Anfavea.

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