Volkswagen prorroga medidas de flexibilização

Redução de jornada e salários e suspensão temporária de contratos de trabalho serão mantidas afim de não serem feitas demissões


PEDRO KUTNEY, AB | De São Bernardo do Campo (SP)

O presidente da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si, realizou na manhã da quarta-feira, 15, reunião com representantes dos sindicatos de todas as fábricas da empresa no Brasil (São Bernardo do Campo, Taubaté e São Carlos e São José dos Pinhais), pouco antes de inaugurar nova área de estamparia na planta Anchieta. O objetivo do encontro, segundo o executivo, foi estabelecer parceria com os trabalhadores no momento em que o grupo estuda maneiras de superar os resultados negativos da pandemia de coronavírus.

Ficou acertado que as demissões serão evitadas pela Volkswagen até onde for possível com a extensão de todas as medidas de flexibilização já em uso, como redução de jornada e salários e suspensão temporária de contratos de trabalho.

"Disse a eles (os representantes dos sindicatos) que é fundamental estarmos unidos neste momento. Vamos usar todas as ferramentas disponíveis para ganhar tempo. Demissões serão a última das últimas medidas. Antes disso precisamos reduzir custos, aumentar as vendas e as exportações", afirmou Pablo Di Si.

O executivo comemorou a transformação da Medida Provisória 936 na Lei 14.020/2020, promulgada na terça-feira, 14, que estendeu para 120 dias a aplicação de redução de jornada e salários (com parte dos vencimentos pagos pelo Seguro-Desemprego) ou afastamento temporário do trabalho (layoff). “Se o governo continuar a estender essas medidas vai ser bom, porque com isso vamos ganhar tempo e evitar ao máximo qualquer demissão. Vamos usar as ferramentas até onde for possível”, garantiu.

Após suspender as operações de todas as fábricas da Volkswagen no Brasil na terceira semana de março, quando a pandemia ganhou força no País, em junho todas as plantas voltaram a produzir, em ritmos diferentes, mas todas abaixo do que acontecia até fevereiro. São Bernardo voltou a trabalhar em dois turnos completos este mês, com o início da produção do Nivus, enquanto Taubaté (SP) opera em um turno, São Carlos (SP) e São José dos Pinhais em dois parciais.

Segundo Di Si, com a crise alguns fornecedores menores fecharam e precisaram ser absorvidos pelo maiores, mas não houve dificuldades para a retomada das operações no ritmo atual. “Ficamos até surpresos, imaginávamos que teríamos muitos problemas de fornecimento e logística para retomar, mas os times de compras trabalharam bem e conseguiram evitar isso”, conta.
 

POLÍTICA DO GOVERNO TERÁ CONSEQUÊNCIAS

Di Si afirma que até o momento não conseguiu nenhum tipo de empréstimo subsidiado para reforçar o caixa e superar o momento difícil de queda acentuada das vendas. O executivo lamentou que não prosperou no governo a proposta dos fabricantes de veículos de usar créditos tributários a que têm direito, calculados em R$ 25 bilhões, para que o BNDES garantisse financiamentos com custos mais baratos. O presidente da Volkswagen afirmou ainda que a empresa está usando linhas de crédito de bancos privados e até agora não precisou pedir à matriz nenhuma carta de garantia para isso.

“O governo tem a visão de não apoiar diretamente nenhum setor industrial do País. Eu respeito isso, mas essa política terá consequências”, pondera Di Si, em referência à falta de políticas para incentivar a indústria e criar uma agenda de desenvolvimento para tornar o País relevante no cenário global. “Precisamos de uma estratégia para os próximos 10 a 20 anos. Se nada for feito, o setor não sobrevive”, destaca.

Segundo acompanhamento da Volkswagen, o volume de vendas de veículos no mercado brasileiro até a terça-feira, 14, continuava em retração acentuada, 45% abaixo do mesmo período de julho de 2019, enquanto a queda da Volkswagen era menor, 34%. “Ganhamos share com boas vendas do T-Cross Sense (para PCD), Gol, Polo e Virtus. O Nivus ainda não entrou nesta conta (as primeiras unidades serão entregues no fim deste mês)”, afirmou Di Si, com a ressalva que, mesmo assim, o desempenho é insuficiente para manter o tamanho atual da indústria no País.

 

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