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Ford Brasil e a importância de continuar a jornada em um cenário sem precedentes

Salim Khouri, head de talentos da Ford Latam: ''O problema [da inclusão] é real e as empresas têm papel social protagonista nesse processo''.


SUELI REIS, AB

Embora a pandemia do coronavírus tenha surpreendido a todos e gerado certo descompasso nos planejamentos para 2020, uma coisa é certa: ela não afetou profundamente a continuidade das ações de diversidade e inclusão na Ford no Brasil, cujo processo de implementação de ações concretas iniciou em 2019 e desde então vem ganhando forma e força internamente.

Em meio a um trabalho de fortalecimento das equipes, que geraram comitês e grupos de afinidade, o head de talentos da Ford Latam, Salim Khouri, fala da importância do apoio da própria companhia e mais oportunamente, da liderança local, fator fundamental para que a empresa possa avançar nos temas que acercam a sociedade quando o assunto é inclusão.

Uma das ações promovida pela companhia é a realização de sua 2ª Semana de Diversidade e Inclusão, desta vez, de forma totalmente digital, entre os dias 20 e 24 de julho, com palestras virtuais abertas ao público sobre temas acerca de racismo, equidade de gênero e as dificuldades enfrentadas pela comunidade LGBTI+ e pessoas com deficiência.

Como Khouri mesmo diz, é uma longa jornada e nada melhor como uma boa conversa, nem que seja online, para entender o que todos estão passando e como podem juntos buscar as melhores soluções em tempos de pandemia.

O longo prazo perde a relevância em um contexto de emergência, como o atual. Levando isso em consideração, como a Ford tem trabalhado ações para promover a diversidade?

A Ford Brasil iniciou o processo de implementação das temáticas voltadas para diversidade e inclusão há três anos e as ações concretas começaram em 2019. Ou seja, já é um trabalho estabelecido e em pleno crescimento na empresa, que continuou atraindo os mesmos cuidados e atenções de antes, por já ser algo que faz parte da nova cultura da companhia.

Criamos ações de desenvolvimento e engajamento para nossa liderança e também os grupos de afinidade (equidade de gênero; pessoas com deficiência; raça; LGBTI+ e gerações), além do comitê de diversidade, que é um grupo de discussão formado pela liderança da companhia, líderes dos grupos de afinidade, com o apoio de representantes do RH, comunicação interna, marketing e líderes da área de diversidade. Os membros se reúnem a cada dois meses para definirem ações e próximos passos, considerando curto, médio e longo prazos. Além disso, temos políticas e práticas de proteção aos funcionários há mais de 20 anos.

Em meio à pandemia, fortalecemos nossas ações, pois em um cenário sem precedentes, cada pessoa reage de forma única. Para isso, criamos rodas de conversa sobre questões raciais, organizamos o primeiro mês do Orgulho LGBTI+ e estabelecemos encontros mensais, chamados Diversity Matters, para tratar de assuntos como o desafio do isolamento social, e como conciliar o trabalho e os cuidados com a casa e os filhos nesse período.

Estamos iniciando nossa jornada, que é longa, mas temos total apoio da nossa organização e de nossa liderança local e global para construirmos este novo mundo mais diverso, uma vez que o problema é real e as empresas têm papel social protagonista nesse processo.

Quando se trata de recursos humanos, quais são os maiores desafios que o atual momento impõe?

Neste momento, nossas atenções estão totalmente voltadas para a proteção e saúde das pessoas – sejam elas nossos empregados, consumidores, concessionários, fornecedores e parceiros. Nosso planejamento inclui ações durante e pós-pandemia, visando a saúde física e mental. Importante reforçar que estamos passando por uma pandemia e, em tempos difíceis e estressantes, começamos a olhar muito mais para nós mesmos e para os que estão a nossa volta. Precisamos desenvolver ações estruturadas para garantir o ambiente de segurança psicológica a cada dia, permitindo que os nossos funcionários tragam seu melhor ‘eu’ para o trabalho, sendo quem eles quiserem ser.

Como fica o trabalho de fortalecimento cultural e engajamento das equipes quando grande parte dos colaboradores está em home office?

A Ford já vinha implementando uma mudança na forma de trabalhar, no qual muitas áreas já faziam, ao menos uma vez por semana o home office. A pandemia acelerou este processo e reforçou para nossas lideranças o que já sabíamos: nossos funcionários são engajados, eficientes, comprometidos, proativos e confiáveis, não importa de onde estejam trabalhando.

De qualquer forma, criamos novas soluções criativas para estimular o engajamento de nossos colaboradores, tais como happy hours virtuais, dinâmicas de grupo que ajudam o líder e as equipes a entender este novo contexto que estamos inseridos, entre outras. Além disso, promovemos comunicações com dicas de saúde, bem-estar e como ser mais produtivo no home office, workshops online para toda comunidade e encontro com líderes falando sobre saúde física e mental, vulnerabilidade, resiliência, gerenciamento de tempo x energia, ansiedade e estresse, saúde financeira, empoderamento e confiança.

Como a companhia lida com as novas preocupações impostas pela pandemia, como o acolhimento às pessoas que são grupo de risco, o apoio a colaboradores que precisam utilizar transporte público etc. ?

A saúde e segurança de todos são nossa prioridade máxima. Estamos atento às diferentes demandas, condições e realidades para melhor adequar este momento de retomada das fábricas e nossas ações com a situação de cada um.

Quando falamos de pessoas, surgiram novas necessidades com a pandemia, por exemplo, como acolher pessoas que sofrem violência doméstica ou como apoiar quem mora com pessoas do grupos de risco da Covid-19?

Acredito que a pandemia nos permitiu um olhar mais próximo e aguçado para com o outro, o que poderia ser contraditório, por falarmos de um momento de isolamento social, mas não se olharmos do ponto de vista do desenvolvimento da sensibilidade e cuidado com relação ao próximo. Uma necessidade que não é necessariamente nova, mas se intensificou neste período foi o cuidado com a saúde mental. Para ajudar a combater essa questão, promovemos uma série de encontros virtuais e trouxemos o tema à tona, escancarado, sem tabus, para o debate aberto, contando com o apoio de profissionais do mercado.

Qual será o legado desta pandemia do ponto de vista da diversidade e da gestão de pessoas na Ford?

Em um cenário sem precedentes, o RH reforça seu papel estratégico dentro da organização, intensificando a mudança cultural da companhia na adoção de práticas de trabalho que já vinham sendo implementadas, como o home office, e que foram aceleradas em virtude da pandemia. A comunicação direta e transparente com os funcionários se mostrou uma grande aliada e, mais do nunca, as relações giram em torno da palavra confiança. A multifuncionalidade do setor de RH também foi explorada das mais diversas formas, desde divulgação de comunicados sobre regras de higiene e prevenção, promoção de desafios de home office para desanuviar o clima até realização de sessões rápidas sobre temas relevantes, como responsabilidade e resiliência, mediação de fóruns online, sobre como motivar o seu time durante o trabalho remoto e reforço ainda maior das práticas de diversidade e inclusão, tema constante o ano inteiro no nosso planejamento.

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