Volkswagen do Brasil deverá realizar cortes em seu quadro de funcionários
Automotive Business -
Montadora negocio com os sindicatos possíveis medidas para não ter que demitir, mas situação econômica dificulta as ações
PEDRO KUTNEY, AB
A Volkswagen começou a negociar com os sindicatos que representam os trabalhadores de suas quatro fábricas no País uma expressiva redução do quadro de funcionários. A empresa confirma a negociação mas não informa qual o tamanho do corte pretendido, que segundo noticiou o site Autoindústria pode atingir 5 mil pessoas, ou cerca de 35% do efetivo de 15 mil empregados no Brasil.
Após a publicação da notícia no início da tarde da quarta-feira, 19, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC confirmou que a Volkswagen busca a redução de 35% de seus quadros no País. “Em reunião realizada na terça-feira, 18, por iniciativa da montadora, com a representação sindical dos trabalhadores das plantas de São Bernardo do Campo, São Carlos, Taubaté (todas em São Paulo) e São José dos Pinhais (PR), a empresa apresentou uma pauta com medidas que pretende adotar, segundo a direção, para adequação aos efeitos da pandemia do novo coronavírus. Entre as principais medidas estão a redução de 35% do efetivo (mensalistas, horistas indireto e direto), em média, nas quatro plantas”, diz a nota da entidade.
Também em comunicado, a empresa confirmou a negociação sem citar número de demissões: “A Volkswagen do Brasil está em processo de negociação com os sindicatos das fábricas avaliando em conjunto medidas de flexibilização e revisão dos acordos coletivos vigentes, para a adequação do seu número de empregados ao nível atual de produção, com foco na sustentabilidade de suas operações no cenário econômico atual, muito impactado pela pandemia do novo coronavírus”, diz o texto, citando ainda que a Anfavea, associação dos fabricantes, projeta queda de 45% na produção de veículos no País este ano em comparação com 2019.
REAÇÃO INSUFICIENTE
Há pouco mais de um mês, a comentar os efeitos da crise que se abateu sobre a indústria, Pablo Di Si, presidente da Volkswagen América Latina, admitiu que no cenário de retração econômica muito longa as fábricas teriam de reduzir seus efetivos: “O mercado não está reagindo e temos o risco como indústria de precisar readequar a produção a uma realidade muito difícil. Não será uma crise de alguns meses, vamos sofrer por mais tempo e não será fácil, talvez não tenhamos a recuperação que precisamos nem em 2021 ou 2022”, disse.
Poucos dias depois, Di Si teve uma reunião com representantes dos quatro sindicatos das fábricas para espichar ao máximo as medidas de flexibilização de parte do efetivo, com uso de instrumentos de redução de jornada e salários ou afastamento temporário (layoff). “Disse a eles (os representantes dos sindicatos) que é fundamental estarmos unidos neste momento. Vamos usar todas as ferramentas disponíveis para ganhar tempo. Demissões serão a última das últimas medidas. Antes disso precisamos reduzir custos, aumentar as vendas e as exportações”, afirmou o executivo na ocasião.
Pelas novas conversas, parece que está mais próximo o momento de fazer uso das demissões. Conforme o sindicato do ABC, “a empresa também apresentou propostas que incluem flexibilidade de jornada, corte do reajuste salarial, redução do valor da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e alterações em benefícios como transporte, alimentação e plano médico”. No comunicado, a entidade acrescenta que irá “debater a pauta com a montadora, em conjunto com os dirigentes dos outros três sindicatos envolvidos na negociação, e vai informar os trabalhadores do avanço das conversas ao longo do processo”.
A Volkswagen retomou no fim de maio a produção de todas as suas quatro fábricas no Brasil, após cerca de dois meses de paralisação para atender as medidas de contenção do contágio da Covid-19. Atualmente todas já operam em dois turnos, mas com jornada reduzida. Antes da pandemia chegar ao País, três das quatro plantas operavam em três turnos e atualmente esse efetivo está afastado, com contratos temporariamente suspensos.
Em junho e julho a Volkswagen foi a marca de veículos mais vendida do País, mas em um mercado 30% menor do que o verificado um ano antes e por motivo efêmero: vendas represadas do T-Cross, com encomendas feitas antes da paralisação da produção, em março, para o público PcD (pessoas com deficiência que podem comprar carros com isenção de impostos).
Ao que tudo indica, a força da recuperação do mercado ainda é insuficiente para sustentar o atual quadro de funcionários no Brasil, mas cortar um terço do efetivo parece ser uma medida excessiva mesmo diante das condições atuais. Esse número deverá ser melhor entendido nas próximas semanas.