Anef aponta recuo de 12% no volume de recursos liberados para financiar a compra de veículos

Associação dos bancos de montadoras prevê retração de 22,6% em 2020 no volume de concessões


REDAÇÃO AB

Dados consolidados pela Anef, a associação das empresas financeiras ligadas aos fabricantes de veículos, apontam recuo de 12% no volume de recursos liberados (R$ 63 bilhões) para financiar a compra de veículos (leves e pesados, novos e usados) no primeiro semestre de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019. Como efeito direto do impacto negativo que a pandemia de coronavírus causou no mercado, a entidade estima que o total de novos financiamentos concedidos este ano deverá ficar 22,6% abaixo do observado no ano anterior, interrompendo o ciclo de crescimento constante que vinha sendo registrado desde 2017. No início de 2020 a perspectiva da Anef era de expansão anual de 24,3% nas concessões de crédito.

 A retração acumulada de novas concessões entre janeiro e junho foi amenizada pelos bons resultados do primeiro trimestre de 2020, quando houve crescimento de 13,3% nos financiamentos somados de 12 meses. Esse movimento foi abruptamente interrompido em abril, que registrou o pior desempenho dos 12 meses anteriores, sendo o mês mais afetado pela crise até o momento. Foram liberados R$ 5,6 bilhões em recursos para o financiamento de veículos na modalidade de crédito direto ao consumidor (CDC), o que representou uma queda de 58%, na comparação com o mesmo mês de 2019. Isolados, maio e junho apresentaram melhora gradativa, atingindo R$ 7,9 bilhões e R$ 11,6 bilhões, respectivamente.

Apesar do recuo das novas concessões, o saldo acumulado de contratos ativos de financiamento de veículos em junho (R$ 262 bilhões) ainda se situa 16,7% superior ao registrado nos 12 meses anteriores, mas esse porcentual não terá fôlego para se manter no campo positivo por muito mais tempo diante da retração das novas concessões. “Os resultados das carteiras de crédito, ainda que positivos, infelizmente não representam a nova realidade do segmento e da economia como um todo. Os bons números atingidos no primeiro trimestre do ano contribuíram para segurar os indicadores, mas o período requer cautela”, alerta Paulo Noman, presidente da Anef.

Historicamente, a participação das modalidades de crédito nas vendas de veículos de passageiros e comerciais leves no Brasil tem mantido níveis estáveis, com pagamento à vista representando cerca de 45% e o CDC 50% de todas as aquisições. Já a dinâmica do mercado de caminhões e ônibus sofreu mudanças no primeiro semestre de 2020. A representatividade do CDC caiu 12 pontos percentuais, de 60% no fim de 2019 para 48% em junho deste ano. Puxada pelos cortes históricos na taxa básica Selic (atualmente fixada em 2% ao ano, o menor nível da história), a movimentação abriu espaço para o Finame (BNDES), que obteve incremento de 10 pontos percentuais no mesmo período, passando a escoar de 20% para 30% das vendas do segmento.

JUROS SEGUEM ALTOS, INADIMPLÊNCIA CRESCE

Segundo números divulgados pelo Banco Central, o nível de juros cobrados pelos bancos para financiar veículos vem caindo, mas permanece muito elevado em relação à Selic. A taxa média praticada em junho para pessoas físicas (agregando novos e usados) chegou a 19% ao ano, em queda de 1,8 ponto porcentual em ralação praticado um ano antes, mas com spread de 17 pontos acima da Selic. Para pessoas jurídicas, empresas, o juro médio é menor: 12,1% ao ano em junho, em recuo de 1,5 ponto em 12 meses, ainda assim bastante elevado.

A inadimplência de pessoas físicas, ainda segundo números divulgados pelo BC, chegou em junho a 4,3% de atrasos nos pagamentos acima de 90 dias. O porcentual é o mais baixo entre todas as outras modalidades de crédito, mas cresceu 1 ponto porcentual em 12 meses. Quase que a totalidade dessa expansão de inadimplentes, 0,9 ponto, ocorreu no primeiro semestre de 2020, sendo metade, 0,5 ponto, no último trimestre.

Com prazo máximo de financiamento mantido em 60 meses, a média das concessões de crédito subiu ligeiramente de 44 meses em junho de 2019 para 44,4 no mesmo mês deste ano. “Neste momento, o consumidor está cauteloso, observando as diversas variáveis econômicas na hora de realizar investimentos que requerem descapitalização de recursos. A curva de queda nas taxas de juros também torna atrativos financiamentos com prazos mais longos, que devem aumentar nos próximos meses”, completa o executivo.

Foco de preocupação do mercado logo no início da crise, a inadimplência se manteve estável no primeiro semestre de 2020. Contrariando as expectativas, o indicador para pessoa física registrou alta de apenas 0,4 ponto percentual no acumulado de 12 meses. Isolado, o CDC, modalidade de crédito com mais representatividade no sistema financeiro, contou com aumento de um ponto percentual. Já a inadimplência de pessoa jurídica surpreendeu com queda de 0,6 ponto percentual, em comparação com o mesmo período do ano passado.

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