Lançamento de veículos e tecnologias aliviam crise para a Volkswagen
Automotive Business -
Pablo Di Si, CEO da Volkswagen na América Latina, avalia que recuo na Volkswagen deva ser menor que em outras montadoras
REDAÇÃO AB
Passados cinco meses do impacto da pandemia de coronavírus no Brasil, Pablo Di Si, CEO da Volkswagen na América Latina, avalia que a crise do setor é um pouco menos severa do que ele mesmo esperava, mas segue grave e continua a promover estragos no setor. Em participação no #ABPlanOn, evento on-line realizado por Automotive Business na terça-feira, 25, o executivo projetou queda de vendas de veículos da ordem de 35% em 2020, patamar registrado no acumulado dos primeiros sete meses do ano. No caso específico da Volkswagen, o recuo deve ser menor: “Estamos um pouco melhor do que a média do setor, caminhando com queda de 28% a 29%”, pontuou.
O resultado menos amargo da empresa que dirige Di Si credita aos recentes lançamentos de veículos e tecnologias, como o do Nivus e do sistema de infotainment VW Play, que acaba de ser adotado também no T-Cross. “Ficamos em primeiro lugar [em vendas] nos dois últimos meses e ganhamos quase dois pontos porcentuais [de participação de mercado] este ano. O T-Cross é o primeiro SUV a ocupar o primeiro lugar em vendas no País em um mês. Mas nosso objetivo não é ser a marca número 1 apenas em um carro, porque temos um grande portfólio.”
Apesar do quadro mais favorável, o CEO da Volkswagen confirmou que vem negociando com os trabalhadores medidas para cortar custos em suas fábricas no Brasil, conforme informaram na semana passado os sindicatos, que revelaram a intenção da empresa de reduzir em até 35% o quadro de funcionários , o que equivale a cerca de 5 mil pessoas. Di Si fez questão de frisar que medidas já vêm sendo discutidas com os sindicatos há mais de dois meses, não apenas a partir da última semana.
"Como disse há algum tempo, o último impacto da crise deveria ser nas pessoas. Nunca falamos em número de pessoas, mas na necessidade de adequar nossa estrutura à queda do mercado. Precisamos seguir discutindo de forma transparente , como tem acontecido até aqui. Quanto mais o mercado cresce, melhor para Volkswagen e para os trabalhadores, mas não vejo uma recuperação forte nos próximos meses. Não se trata de empurrar com a barriga, mas de tentar adiar uma decisão que é muito difícil", ponderou Pablo Di Si.
A queda nas vendas em 2020, perspectivas de retomada lenta e dificuldade no fluxo de caixa também já forçaram a revisão de projetos, investimentos e lançamentos que estavam sendo encaminhados pela montadora, admitiu Di Si. Alguns foram apenas protelados e outros cancelados, ao menos por enquanto. “Alguns projetos seguirão sua vida. Mas o ideal é que segurássemos um pouco a bola para esperar a retomada e podermos ver um cenário mais claro para daqui dois ou três anos.”
NACIONALIZAÇÃO ACELERADA
Em contrapartida, um programa está sendo acelerado pela Volkswagen: a nacionalização de componentes devido à desvalorização do real. “Vamos acelerar esse processo de conteúdo local. E rápido! Essa é uma mensagem muito clara para nossos fornecedores”, enfatizou.
Outra boa notícia para a empresa é o início em breve de exportação do Nivus. Segundo Di Si, o modelo chegará na Argentina ainda nos próximos meses e em vários mercados no primeiro semestre de 2021. “Se a gente acha que temos problemas com a pandemia, no Chile, Colômbia e Bolívia as vendas caíram até 80%. É um quadro difícil e para o qual não enxergo recuperação tão cedo. Por isso, estamos buscando outros mercados, como o México e países da África.”
Durante a entrevista assistida via internet por centenas de executivos de toda a cadeia automotiva, Pablo Di Si revelou-se desfavorável a mudanças de regras técnicas definidas para a próxima fase do Proconve ou pelo Rota 2020. Defendeu, porém, o adiamento de algumas medidas para compensar a interrupção das discussões decorrente da crise sanitária.
Foi além e pregou que o País adote políticas industriais de longo prazo transversais, que abarquem governos federal, estaduais e universidades, para se manter competitivo e encontrar alternativas tecnológicas e de desenvolvimento. “É óbvio que a prioridade do momento é o combate à pandemia. Mas creio que é um tema fundamental e que deveria entrar na agenda dos governos já no ano que vem. Estou disposto a ajudar.”
PERMANÊNCIA NO BRASIL
Quando perguntado sobre sua permanência no Brasil à frente da Volkswagen na América Latina – cargo que ocupa há quase três anos – e o que gostaria de fazer que ainda não fez, a resposta foi direta: “Acho que ainda tenho muito a fazer aqui, quero completar os muitos planos que fizemos e lançamentos que programamos para os próximos anos”, afirmou.
Nas conversas com o board global da Volkswagen e sobre como a companhia poderia ajudar a subsidiária no Brasil, Di Si disse que aqui a empresa “foi uma das poucas que nos últimos anos não recorreu à matriz, nem acessou empréstimos subsidiados” no País. “Precisamos ter um negócio sustentável aqui”, resumiu.