Mercado brasileiro de caminhões deve encerrar o ano perto de 65 mil unidades vendidas

Efetivação do programa de renovação da frota é fundamental para reaquecer o mercado de pesados, defendem participantes do #ABPlanOn


O mercado brasileiro de caminhões, embora menos afetado pela crise, também perdeu velocidade e segue no ritmo de recente projeção da Anfavea, a associação dos fabricantes, e deve encerrar o ano perto de 65 mil unidades vendidas, contra as mais de 101 mil registradas em 2019. O declínio estimado de 36% é impactante, mas executivos de três das maiores montadoras de caminhões esperavam um quadro até pior, conforme admitiram em painel on-line no #ABPlanOn, no terceiro dia do evento realizado por Automotive Business na quarta-feira, 26.

Embora concordem com as projeções da Anfavea, Ricardo Barion, diretor comercial da Iveco, Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing caminhões e ônibus da Mercedes-Benz, e Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) revelam percepções ligeiramente mais otimistas. “Nossas projeções estão alinhadas com as da Anfavea, mas com viés de alta”, declarou Barion. “Podemos ainda ter boas surpresas, a depender do que de fato ficou represado e que ainda não sabemos ao certo”, acrescentou Leoncini, referindo-se à interrupção dos emplacamentos em abril e maio.

“As vendas estão menos piores do que se esperava e tenho visão semelhante. Claro que a paralisação das montadoras durante 30, 40 dias, impactou, mas o mercado de caminhões não parou e houve represamento de vendas”, reforçou Ricardo Alouche.

Um indicador mais preciso de como as vendas encerrarão 2020 poderá ser obtido a partir de setembro, já que, no entendimento dos representantes das montadoras, as unidades represadas foram entregues até julho. Em agosto, os participantes do painel revelaram que as vendas já estão abaixo do mês anterior.

NEBLINA AINDA É ESPESSA PARA ENXERGAR 2021

E as vendas internas no ano que vem? “A neblina ainda está bastante espessa, projeções dependerão muito do que acontecer neste segundo semestre, avalia Alouche. O executivo acrescenta outro ingrediente preocupante e que deve influenciar os negócios nos próximos meses: o quase obrigatório repasse ao preço final dos veículos do aumento de custos gerado pela forte desvalorização do real diante do dólar: “Se todos os custos fossem repassados, os preços dos caminhões deveriam ter subido mais de 20% nos últimos cinco meses. É insustentável manter o preço de antes da pandemia”.

“A única certeza para 2021 é que a agricultura vai muito bem, assim como a construção civil deve se recuperar. Mas precisamos desse patamar [mínimo] de 65 mil, menos do que isso seria terrível”, afirma Roberto Leoncini.

“Precisamos da vacina e temos um mercado totalmente atrelado ao PIB, que precisa melhorar. A previsão da Anfavea de 70 mil unidades fatalmente se confirmaria se não tivéssemos todo esse quadro. Agora consideramos que em dois, talvez três anos voltemos aos números de 2019”, pondera Ricardo Barion.

PROGRAMA DE RENOVAÇÃO DA FROTA A CAMINHO?

A possibilidade da criação de um programa de renovação de frota para veículos pesados ser finalmente adotado anima os executivos, que consideram a substituição de veículos antigos como um provável pilar de sustentação das vendas nos próximos anos e que gerará ganhos em várias frentes, sobretudo ecológicos e de segurança – além dos econômicos.

Alouche, porém, acredita que se definido ainda nas próximas semanas o programa só influenciaria as vendas dentro de mais um ano. “Mas nunca houve um momento mais propício do que este, porque estamos muito bem alinhados entre os fabricantes, a Anfavea e o governo federal. O cliente precisa desse incentivo para suportar a ampliação e a renovação de sua frota”, diz.

“É algo que ajudaria toda a cadeia, do transportador ao fabricante, passando pela população, com a substituição por frotas mais eficientes”, lembra Leoncini.

ADIAMENTO DO PROCONVE P8

A Anfavea já encaminhou discussões com o governo no sentido de postergar por dois a três anos o prazo para a adoção dos motores Euro 6 nos caminhões brasileiros a partir de 2022 e 2023, que atenderiam à próxima fase da legislação de emissões de poluentes, o Proconve P8, direcionado a veículos pesados.

Os fabricantes de caminhões e ônibus asseguram que a crise deflagrada pela pandemia não paralisou seus projetos, mas adiou vários. “Não paramos nenhum investimento, seguimos à risca os projetos, mas a pandemia atrasou tudo”, assegura Barion.

“É certo afirmar que perdemos aproximadamente um ano para estar de acordo com o P8 porque testes necessários foram interrompidos. Não desaceleremos com relação aos investimentos, mas criou-se uma janela em função das paradas por conta da pandemia”, afirmou o diretor da Mercedes-Benz.

“Quanto ao P8 não paramos também, mas há o atraso mencionado. O custo envolvido é muito grande e para ter desembolso precisamos de dinheiro entrando. Estamos ponderando prós e contras com a Anfavea e com o governo federal. Haverá um certo atraso”, admite Alouche.

ÔNIBUS EM QUEDA PRONUNCIADA

Se em caminhões o pesadelo começou a ganhar contornos menos traumáticos após cinco meses de pandemia, nos ônibus os índices são de bem mais difícil assimilação até para os mais otimistas. “É um segmento que ainda teremos muitos impactos”, alerta Leoncini.

De janeiro a julho foram vendidos apenas 7,2 mil chassis, contra 11,4 mil em igual período do ano passado, e a Anfavea estima 10 mil unidades no ano todo, retração de 52%.

Ricardo Alouche entende até que se trata de projeção otimista e que se não fossem os programas governamentais, como os ônibus vendidos para o Caminho da Escola, a queda seria ainda mais brusca.

“Temos que esperar para ver como ficarão as renegociações de contratos ocorridas nos últimos cinco meses. Agora acabaram e as empresas terão que voltar a pagar as prestações a partir de seetembro. Teremos inadimplência? Não dá para saber, especialmente nos ônibus urbanos. É mandatório a implementação de medidas para destravar o mercado”, alerta o vice-presidente da VWCO.
 

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