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Competitividade é fundamental para nova realidade do mercado automotivo

Para o presidente da Anfavea, nesse momento, plantas do Brasil concorrem com a matriz e é necessário competitividade para continuar novos projetos


WILSON TOUME, PARA AB

O presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, iniciou sua entrevista on-line durante o #ABPlanOn, evento realizado por Automotive Business na quinta-feira, 27, explicando que a expectativa no início do ano era de que a indústria automotiva global poderia produzir 90 milhões de veículos em 2020, mas após o impacto da pandemia, esse número agora talvez chegue a 70 milhões. Com uma redução dessa proporção, não há como negar que o mercado vai ficar menor para todos e esse fenômeno também vai ocorrer em outros setores da economia. Por isso, ter competitividade se torna ainda mais importante, destacou o dirigente da associação nacional dos fabricantes de veículos.

“Essa queda na produção vai aumentar a ociosidade em várias fábricas pelo mundo, fazendo com que uma planta no Brasil se torne concorrente de sua matriz, por exemplo”, explicou Moraes. “Assim, é importante brigar para garantir a continuidade da produção e novos projetos”, acrescentou. E uma das chaves para isso é a competitividade.

De acordo com Moraes, um estudo encomendado pela Anfavea mostrou que uma fábrica de veículos no Brasil é cerca de 18% menos competitiva que uma similar no México.

"As empresas estão fazendo o seu trabalho, com instalações modernas e pessoal treinado, o que nos afeta é a infraestrutura do País; esse é um problema grave, que já existia antes da crise, mas por conta dela, o Brasil perdeu as grandes reformas, os grandes projetos que poderiam ajudar a diminuir essa diferença competitiva", afirmou Luiz Carlos Moraes.

O executivo revelou que a Anfavea, ao lado de outras entidades, participou de um levantamento o qual mostrou que o Brasil tem um custo adicional de R$ 1,5 trilhão acima da média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), e significa um índice de 22% de ineficiência em vários aspectos, como acesso ao financiamento,encargos trabalhistas, logística, custo da energia etc. A partir desse estudo, as entidades vão elaborar uma série de iniciativas para atacar o chamado “custo Brasil” e a ideia é de que até 2022 elas já ajudem a reduzir substancialmente o problema.

COPO MEIO CHEIO OU MEIO VAZIO?

Sobre a possibilidade de haver cortes na indústria, Luiz Carlos Moraes foi claro: “Hoje temos excesso de pessoal em toda a cadeia produtiva, e as montadoras estão conversando com os sindicatos – cujo posicionamento neste momento também merece ser elogiado – e estamos tentando de todas as formas possíveis adiar ao máximo a demissão de pessoas”, declarou. “Mas existe um limite para isso, e se a retomada da economia não ocorrer, as empresas serão obrigadas a adequar seus quadros à nova demanda”, explicou.

"Estamos tentando de tudo para evitar cortes, pois a nossa mão de obra é muito qualificada, as companhias investiram muito no pessoal e reconhecem o seu valor, os funcionários são um ativo muito importante para a indústria", acrescentou Moraes.

O presidente da Anfavea fez questão de lembrar o importante papel que as montadoras tiveram (e ainda têm) no auxílio à saúde, construindo e reparando respiradores e ventiladores pulmonares. “Quem poderia imaginar que as fabricantes de veículos seriam capazes de fazer isso com tanta agilidade? A gente conversou na Anfavea e conseguiu dar essa resposta muito rapidamente”, lembra Moraes. “Então, se vamos sair menores nos números, em compensação, na questão humanitária, de solidariedade, sairemos muito maiores”, afirmou.

Sobre o futuro próximo, Luiz Carlos Moraes foi enfático: “Não me importo muito com os números da queda deste ano; nossa previsão inicial indica recuo de 40% e tem gente já falando que ele pode ser menor, de 30% ou 35%, mas isso não faz muita diferença, pois o tamanho da redução continua muito grande”, explicou. “De qualquer forma, é só no quarto trimestre que teremos a ideia concreta dos efeitos da pandemia na economia”, disse o dirigente.

Já para 2021, a expectativa é de crescimento, já que a comparação será feita sobre uma base menor (deste ano). Mesmo assim, Luiz Carlos Moraes fez questão de observar: “Isso é baseado em um cenário no qual a gente já tenha um situação melhor com relação à Saúde; se não a solução definitiva para a doença (vacina), ao menos um ambiente sob controle”, concluiu.

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