Montadoras e fornecedores se unem para manter o mercado automotivo
Automotive Business -
Montadoras intensificaram a comunicação com os fornecedores e lançaram mão de medidas para auxiliar aqueles que poderiam enfrentar maiores problemas
REDAÇÃO AB
A pandemia da Covid-19 ainda não mostra seu fim no horizonte visível, mas os piores impactos sobre as compras das montadoras no Brasil já ficaram para trás. Essa é a opinião de executivos da FCA, General Motors, Mercedes-Benz e Toyota que participaram de painel on-line do #ABPlanOn, evento realizado por Automotive Business na quinta-feira, 26.
As quatro fabricantes reduziram suas compras em 2020 na mesma média da queda do mercado, algo entre 35% a 40%, mas já estão convencidas de que recuperarão a maior parte disso em 2021. “O ano que vem será de recuperação. Talvez quase voltando ao patamar de 2019”, arrisca Celso Simomura, vice-presidente de compras da Toyota Latin America.
Rodrigo Godinho, diretor de compras da General Motors, é ainda mais preciso sobre a evolução dos negócios no próximo ano: “Recuperaremos de 20% a 25% e ficarão faltando uns 10% para retornarmos ao ano passado”.
Segundo os dirigentes, o quadro de quebradeira de fornecedores, imaginado inicialmente por muitos, felizmente ficou longe da realidade do setor, apesar da repentina queda das vendas e da interrupção da produção de veículos por até três meses em algumas empresas. “A pandemia impactou muito mais os fornecedores que já estavam com a questão financeira crítica antes. Eram poucos os casos e todos identificados. Fizemos um levantamento buscando outros problemas e não tivemos tantas surpresas”, assegura Silvia Simon, gerente sênior de compras da Mercedes-Benz.
"A crise potencializou os problemas das empresas que já tinham problemas. Não tivemos nenhum fornecedor que fechou as portas ou saiu do País", reforçou Juliano Almeida, diretor de compras da FCA América Latina
BOA RELAÇÃO
Prova de que a rede de relações entre montadoras e produtores de autopeças e sistemas tem caminhado bem em meio à crise foi a retomada da produção sem percalços em todas as fábricas de veículos no País. “Não houve quebra de fornecimento. O trabalho da base de fornecedores tem de ser exaltado”, ressalta o diretor da GM.
Do outro lado, afirmam os executivos, as montadoras, alertadas pela gravidade da crise, também intensificaram a comunicação com os fornecedores e lançaram mão de medidas para auxiliar mais diretamente aqueles que poderiam enfrentar maiores dificuldades com o novo cenário produtivo.
"No começo da pandemia, chegamos a antecipar pagamentos para ajudar o fluxo de caixa de alguns deles. Os maiores problemas estavam nos tier 2 e 3, mas que também contaram com a colaboração dos tier 1", enfatizou Celso Simomura, daToyota.
Agora, segundo o executivo, a preocupação é com o aumento do número de casos de Covid-19 entre os fornecedores, o que eleva o absenteísmo nas empresas menores e compromete a produção. Simomura conta que a Toyota vem realizando várias reuniões virtuais com as empresas parceiras para compartilhar as melhores práticas adotadas para elevar a segurança sanitária das operações.
DÓLAR ALTO PREJUDICA MAIS QUE CORONAVÍRUS
Se as montadoras exaltam que a cadeia de fornecimento de componentes tem tido comportamento melhor do que poderiam supor há cinco meses, por outro lado lamentam o quadro gerado pelo dólar valorizado, que há meses supera a cotação de R$ 5. Silvia Simon chega a afirmar que a alta da moeda americana é até mais prejudicial ao setor do que a própria pandemia.
"Dólar alto é um custo na veia e que tem parmanência. A pandemia tem efeito mais pontual", avalia Silvia Simon, da Mercedes-Benz.
Simomura (Toyota) e Almeida (FCA) não chegam a concordar integralmente com a gerente da Mercedes-Benz e afirmam que pandemia e dólar em alta têm impactado os negócios na mesma proporção, ainda que de maneira diferente. Mas tanto eles quanto Silvia e Godinho (GM) concordam que esses dois fatores já aceleraram discussões e programas de nacionalização de componentes.
O diretor da FCA admite que a empresa resolveu revisar projetos que resultaram em importação. “Talvez agora faça sentido nacionalizá-los”, diz Almeida, que lembra ainda que as diretrizes do Rota 2030 e a próxima etapa do Proconve para automóveis e veículos comerciais podem representar novas oportunidades para fornecimento local.
"O desenho de nacionalizar é enorme. Mas isso não depende só das montadoras, depende de um trabalho colaborativo com a base dos fornecedores. E o que vem ocorrendo na América do Sul gera algum receio para investimentos", contrapõe Rodrigo Godinho, da GM.
Este deverá ser o principal problema enfrentado pelos fabricantes de veículos no Brasil em 2021 e nos anos seguintes: ao mesmo tempo em que o dólar em alta estimula a aceleração da nacionalização de componentes, os fornecedores não têm recursos para investir em novos projetos. Será um balanço de difícil equilíbrio a administrar.