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Volkswagen negocia redução em seu quadro de funcionários no Brasil

Medida é referente as quatros fábricas da montadora e irá atingir todos os funcionários, operacionais e administrativo


PEDRO KUTNEY, AB

Com a severa retração de produção no País e aumento da ociosidade das fábricas para mais de 65%, a Volkswagen negocia redução de 35% em seu quadro de empregados no Brasil, segundo confirmou na sexta-feira, 4, Pablo Di Si, presidente da empresa na América Latina – que desde a divulgação da notícia pelos sindicatos há cerca de três semanas admitia as negociações, mas evitava falar em um número de cortes pretendidos. O porcentual equivale a cerca de 5 mil pessoas, de acordo com os último dados conhecidos.

Di Si indica que o corte de pessoal deverá atingir todos os funcionários, operacionais e administrativos, e a intenção é aplicar a redução de 35% em todas as quatro fábricas da Volkswagen no País: as paulistas em São Bernardo do Campo, Taubaté e São Carlos, e São José dos Pinhais no Paraná. O executivo não informou o prazo em que a empresa pretende fazer os desligamentos, mas afirmou que está em negociações com todos os sindicatos e “nas próximas semanas” provavelmente serão informadas quais ferramentas serão utilizadas, possivelmente começando com um programa de demissões voluntárias (PDV).

"Não será de um dia para o outro, não vamos surpreender ninguém, mas temos urgência em adequaar nossa produção à demanda nos próximos meses. Não é uma negociação fácil, mas temos de fazer essa redução de pessoal, porque não é sustentável trabalhar com apenas 45% da capacidadde", afirmou Pablo Di Si.

O presidente da VW América Latina informou ainda que pretende usar todas as ferramentas disponíveis para atingir o objetivo, como afastamento temporário (layoff), redução de jornada e salários (com parte dos vencimentos pagos pelo governo e complementados pela empresa), como vem fazendo até o momento, e “o PDV também é uma ferramenta que será utilizada”, confirmou.

OCIOSIDADE ALTA, SEM ESPERANÇA DE RECUPERAÇÃO RÁPIDA

“A indústria no Brasil voltou ao nível de produção de 20 anos atrás”, sublinha Di Si, apontando que as projeções indicam a utilização de apenas 43% da capacidade produtiva de 4,1 milhões de veículos leves das montadoras este ano, que deverão produzir não mais que 1,8 milhão de unidades em 27 fábricas, o que deixaria ociosas o equivalente a seis plantas. Uma delas é da Volkswagen, que segundo o executivo utiliza apenas 44% de seu potencial produtivo no País – até julho a empresa produziu 146,4 mil unidades a menos do que no mesmo período de 2019.

Diante de tamanha ociosidade, a redução de pessoal é inevitável, afirma Di Si, porque não há no horizonte sinais de recuperação rápida. Ele recorda da projeção da associação dos fabricantes, a Anfavea, que estima a volta do mesmo nível do mercado brasileiro de 2019 (2,8 milhões) apenas em 2025, isso no melhor cenário traçado pela entidade, de crescimento anual médio de 11% até lá. “Nossa queda de vendas é menor do que a média, ganhamos participação nos últimos meses, mas estamos indo bem em um mercado ruim, insuficiente para sustentar nossa capacidade”, justifica.

Ao mesmo tempo, as exportações estão muito abaixo do ideal para compensar a perda de produção: “Somos os maiores exportadores do setor no País, mas a crise na Argentina prejudicou as vendas para lá e outros programas que estávamos desenvolvendo estão parados. Por exemplo, iríamos começar a exportar o T-Cross para a África este ano, mas com a pandemia o plano teve de ser adiado”, lamenta Di Si.

O presidente da Volkswagen diz que neste momento não pretende adotar um plano similar ao do Brasil para redução de pessoal na Argentina, porque na fábrica de Pacheco está em curso o investimento do projeto Tarek, para a produção na unidade de um SUV de médio porte. “A planta argentina vive um outro momento, com esse projeto precisamos manter o pessoal lá”, diz.

NOVOS INVESTIMENTOS SUSPENSOS

A Volkswagen já adiou para o fim do primeiro semestre de 2021 o seu atual programa de investimentos e lançamentos, que deveria ser encerrado no fim de 2020 com o lançamento do novo SUV a ser produzido na Argentina. Até lá, Di Si espera ter ganhado tempo suficiente para voltar a definir com a matriz novos aportes na região, que deveriam ter sido anunciados este ano, mas com a pandemia foram congelados.

“Agora estamos em uma negociação de sobrevivência, não vamos discutir nenhum novo produto ou investimento”, afirmou o executivo. “Ainda temos algum tempo até o meio de 2021 para definir um novo ciclo. Claro que temos ideia do que vamos fazer, mas prefiro esperar mais para ter certeza do comportamento do mercado nos próximos meses.”

Di Si afirma que a Volkswagen não vai deixar de lançar novo carros na região, “mas vamos ter de fazer escolhas mais agudas”, diz, porque não haverá recursos para investir em várias frentes. Entenda-se por essa afirmação a aposta em produtos de segmentos que vão crescer mais nos próximos anos, que para o executivo continuará sendo os de SUVs e picapes, enquanto vão manter sua relevância na região, mas sem crescimento acentuado como no passado, e o mercado de sedãs tende a encolher.

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