Para conseguir produzir novo carro no Paraná, Audi quer receber restituição do super IPI
Automotive Business -
Sobretaxação cobrada de modelos importados durante o Inovar-Auto deveria ter sido devolvida às empresas que investiram em fábricas
PEDRO KUTNEY, AB
Como já estava previsto desde o ano passado, a linha de montagem que a Audi mantém em São José dos Pinhais (PR) vai parar de produzir o A3 Sedan no fim deste ano, em dezembro. A previsão é de retomar a operação mais de um ano depois, para fazer um novo carro no País, mas a subsidiária brasileira da empresa ainda precisa convencer a matriz a fazer o investimento. “Vamos fazer essa pausa e estamos lutando para trazer este outro projeto”, afirma Johannes Roscheck, CEO da Audi no Brasil. Ele admite que um elemento importante nesse convencimento será receber do governo o super IPI com majoração de 30 pontos porcentuais, que foi pago de 2012 a 2017 durante a vigência do Inovar-Auto e, pelas regras do programa, deveria ter sido devolvido às montadoras que investiram em fábricas no País.
Fabricantes de carros premium, como Audi e as concorrentes BMW e Mercedes-Benz, decidiram montar operações industriais no País após a introdução do Inovar-Auto, em 2012, programa que instituiu uma sobretaxa de 30 pontos porcentuais aplicados sobre o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de automóveis importados de fora do Mercosul. Para incentivar a produção nacional, o governo prometeu devolver a sobretaxação de modelos importados que as montadoras decidissem fabricar no País, caso do A3 e do Q3 que a Audi passou a produzir na fábrica Volkswagen (pertencente ao mesmo grupo) no Paraná a partir de outubro de 2015, com investimentos anunciados à época de € 175 milhões.
Contudo, o super IPI foi recolhido dos carros importados e jamais devolvido. Antonio Calcagnotto, diretor de relações institucionais e sustentabilidade da Audi do Brasil, afirma que o governo deve R$ 289 milhões às três fabricantes alemãs (Audi, BMW e Mercedes-Benz) que se habilitaram ao Inovar-Auto e investiram em fábricas de automóveis no Brasil. “Esse tem sido o nosso principal tema de negociação com o governo. Não queremos nenhum incentivo, apenas que esses recursos sejam restituídos, mesmo que seja em 10 anos, seria um compromisso importante para mostrar à matriz”, disse Cacagnotto.
Roscheck avalia que “é simbólico” para a empresa receber de volta os impostos pagos a mais. “Especialmente neste momento em que a pandemia afetou os resultados em todo o mundo, é difícil convencer a matriz a fazer um novo investimento enquanto temos esses recursos a receber aqui”, explica.
Após a paralisação da produção do A3 Sedan no Paraná, em 2021 a Audi vai começar a importar a nova geração do modelo produzida na Hungria. Foi o que aconteceu com o SUV compacto Q3, que parou de ser produzido no Brasil quando o modelo foi renovado e desde o início deste ano ele é importado da Europa.
EM BUSCA DE RECUPERAÇÃO
Entre janeiro e agosto deste ano a Audi vendeu quase 4 mil carros no Brasil, em queda de 27% sobre o mesmo período de 2019. O resultado é pior do que o registrado pelos principais concorrentes no segmento premium – que em 2019 representou apenas cerca de 2% do mercado de veículos no País. “Tivemos muitos problemas com a pandemia, atrasamos programas de lançamentos, as fábricas pararam em todo o mundo, depois a China retomou em velocidade muito acima da esperada, começou a faltar carros”, justifica Roscheck.
“Mas com os lançamentos que estamos fazendo, como agora com o Q7 , o elétrico E-Tron Sportback e o novo [sedã] A4 que chega em outubro, deveremos ter uma recuperação nos últimos meses de 2020, ficando mais próximos da queda média de 18% esperada para o segmento premium este ano”, explica o executivo. Segundo ele, a retomada será em 2021: “Esperamos por um crescimento das vendas em torno de 10% a 15%. Vamos lançar mais carros das categorias B (compactos) e C (médios). Nossos concessionários esperam até mais do que isso, mas vamos ser mais conservadores neste momento”, avalia.
Um ponto de comemoração da Audi este ano é sua bem-sucedida aposta de trazer uma linha de carros elétricos ao País, primeiro com o SUV E-Tron lançado em abril, que esta semana recebeu a companhia do irmão SUV-cupê Sportback. O E-Tron já soma 111 emplacamentos até 23 de setembro, tornou-se o BEV (Battery Electric Vehicle) mais vendido do País este ano e até o fim de 2020 a Audi espera emplacar cerca de 160 unidades, vendidas por preços acima dos R$ 500 mil. Em 2021 a Audi promete trazer mais dois modelos elétricos ao País.
“Apostamos no aumento da aceitação de carros elétricos aqui e eles são parte fundamental da estratégia da Audi de ser uma fabricante de veículos neutra em emissões de CO2 até 2050. Mas também vamos continuar trazendo nossa linha RS de esportivos com motor a combustão e outros modelos mild hybrid (híbridos leves que usam motor elétrico nas partidas para economizar combustível)”, afirma Roscheck.