Auditoria do Latin NCAP rebaixa HB20 para uma estrela no quesito de segurança

Após novos testes, segundo veículo apresentou diferenças de padrão ou qualidade na fabricação do modelo, resultando em uma pior nota


PEDRO KUTNEY , AB

O Hyundai HB20, segundo carro mais vendido do mercado brasileiro este ano, perdeu três das quatro estrelas que tinha em uma segunda avaliação de auditoria do Programa de Avaliação de Veículos Novos para a América Latina e o Caribe, o Latin NCAP, organização independente que promove testes de segurança em carros e picapes zero-quilômetro. A segunda geração do modelo fabricado no Brasil, em Piracicaba (SP), foi lançada em setembro do ano passado e imediatamente passou pelos ensaios de colisão feitos pelo Latin NCAP em instalações da Adac em Landsberg, na Alemanha.

Na primeira avaliação, o compacto brasileiro da Hyundai ganhou quatro estrelas (a nota máxima é cinco) para ocupantes adultos e três para crianças. Contudo, no segundo teste, mostrou resultados piores e por isso seu nível de segurança para adultos foi rebaixado a apenas uma estrela. A auditoria apontou que a estrutura do segundo HB20 avaliado apresentou níveis mais baixos de resistência ao impacto em relação ao primeiro carro testado, o que denota diferenças de padrão ou qualidade na fabricação do modelo. Segundo o Latin NCAP, no teste de impacto lateral o segundo HB20 “ofereceu menor proteção ao tórax do ocupante adulto do que no teste original, ultrapassando por pouco os limites biomecânicos máximos permitidos para o corpo”, diz a nota da entidade divulgada na sexta-feira, 9. De acordo com o protocolo do Latin NCAP válido para o período 2016-2019, sob o qual o veículo foi avaliado, quando uma área crítica do corpo é atingida no crash test a nota do veículo testado fica limitada a, no máximo, uma estrela.

DÚVIDAS SOBRE OS PROCESSOS DA HYUNDAI NO BRASIL

Alejandro Furas, secretário-geral do Latin NCAP, afirma que não foram encontradas diferenças na construção dos dois veículos, mas no somente no desempenho do teste. “A estrutura parece a mesma [após o crash test], com deformação interna semelhante e pontos de impacto similares no dummy. Notamos uma desaceleração diferente sob as mesmas condições de teste e um comportamento ligeiramente diferente no painel interno das portas durante a colisão. Os sistemas de segurança não devem mostrar essas variações de um teste para outro. Esta situação levanta sérias questões sobre a estratégia da Hyundai em relação aos sistemas de retenção de impacto lateral do HB20”, relatou.

A Hyundai foi procurada pela reportagem para comentar o resultado, mas até o fechamento desta matéria não se manifestou – e o Latin NACP informa que também não recebeu nenhuma reação da fabricante até este momento. “O monitoramento para evitar esse tipo de oscilação na qualidade da produção é de responsabilidade do fabricante. Sob estruturas regulatórias mais robustas, que pressionam os fabricantes de automóveis a reforçar o controle de qualidade e o monitoramento, essas variações são facilmente aparentes”, aponta Furas.

"É surpreendente e decepcionante que um fabriante como a Hyundai, líder em segurança nos mercados globais, seja caracterizado por um fraco desempenho em segurança na América Latina. Os brasileiros deveriam questionar a Hyundai sobre por que eles estão sendo tratados como cidadãos de segunda classe, enquanto outros fabricantes como a GM oferecem aos latino-americanos a mesma segurança básica que a proporcionada aos clientes em outros mercados globais", criticou Alejandro Furas.

O secretário-geral do Latin NCAP fez referência à GM em uma comparação com o concorrente direto do HB20, o Chevrolet Onix, o carro mais vendido do Brasil, que após ser avaliado com nota zero em 2017, ganhou cinco estrelas com a nova geração do modelo lançada em outubro do ano passado e avaliada em Landsberg poucos meses antes. Para Furas, isso prova que “é possível produzir veículos populares cinco estrelas [em segurança] no Brasil; o novo Onix oferece melhor desempenho, cinco estrelas para proteção dos ocupantes adultos e infantis, seis airbags, controle eletrônico de estabilidade e proteção para pedestres como pacote de segurança padrão”, compara.

AUDITORIAS REGULARES

A maior parte dos testes realizados pelo Latin NCAP é patrocinada pelos fabricantes, que oferecem os modelos para avaliação e pagam todos os custos. Nesses casos, a entidade escolhe de forma aleatória no pátio da montadora os veículos que serão testados, em número de unidades suficientes para fazer todos os impactos e realizar auditorias com novos ensaios do mesmo modelo. Segundo a entidade, essas retestagens são feitas de forma regular e aleatória para confirmar os primeiros resultados obtidos. É o que aconteceu com o HB20.

Quando o resultado do novo teste é igual ao anterior, nenhuma comunicação é feita. Mas quando os resultados são piores é informada a alteração da qualificação. O Latin NCAP informa que, além do Hyundai HB20, já fez a auditoria dos testes dos Volkswagen Up, Golf e Suran, Nissan Versa e March, Toyota Corolla, entre outros. O HB20 agora se junta a outros quatro modelos que já tiveram suas notas rebaixadas pela entidade em passado recente: Nissan March e Versa, Renault Clio Mio e Mitsubishi Eclipse Cross – este último pela remoção de airbags.

Em 2018, o Latin NCAP baixou a classificação do Nissan March e Versa ao testar os modelos fabricados no México. Os dois compactos produzidos no Brasil foram avaliados com três estrelas no fim de 2016.

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