Inovações que fazem parte do futuro do setor automotivo com a Indústria 4.0

Para a Bosch, a cadeia de valor precisa investir agora em fábricas conectadas para garantir competitividade e acompanhar a retomada do mercado


NATÁLIA SCARABOTTO, PARA MÍDIA LAB AB

Carros conectados na nuvem, fábricas inteligentes e componentes impressos em 3D. Essas são algumas inovações que fazem parte do futuro do setor automotivo com a Indústria 4.0, revolução capaz de impulsionar a recuperação do segmento. Em meio aos desafios atuais da mobilidade e do mundo pandêmico, as fábricas e cadeias produtivas inteligentes e conectadas são o caminho para aumentar a competitividade e alavancar o setor automotivo no Brasil, como conta Júlio Monteiro, diretor industrial da Bosch. “A quarta revolução industrial, que inclui a Indústria 4.0, é baseada, principalmente, na conectividade”, esclarece.

Com tecnologias como Internet das Coisas (IoT), computação em nuvem, big data e inteligência artificial, é possível criar processos de manufatura integrados para controlar todo o chão de fábrica e a cadeia de valor de produção de ponta a ponta, diz o executivo. Segundo ele, as tecnologias da Indústria 4.0 são capazes de resolver problemas como perda de produtividade e qualidade, além de melhorar processos e reduzir custos.

A PARTIR DA EXPERIÊNCIA NAS PRÓPRIAS FÁBRICAS, BOSCH LEVA EFICIÊNCIA AOS CLIENTES

Para o especialista, os benefícios da Indústria 4.0 não são apenas teoria, mas algo que ele vive na prática na Bosch. A companhia conta, por exemplo, com linha inteligente de freios ABS em Campinas (SP). A planta opera com conectividade elevada e utiliza softwares de manutenção e gestão. “É assim que conseguimos garantir a qualidade de um produto essencial para a segurança do consumidor”, diz.

A planta opera de forma conectada com outras 11 fábricas de freios ABX da companhia no mundo, em uma rede que soma 5 mil máquinas. Assim, se uma peça produzida em Campinas apresentar um problema, a empresa consegue acessar o sistema e verificar se o mesmo aconteceu na China ou nos Estados Unidos e, claro, acelerar a solução. Isso só é possível graças ao Nexeed, um software desenvolvido pela Bosch para gestão do desempenho de linhas de produção e que conta com diferentes recursos para monitoramento, rastreabilidade e controle de processos em tempo real e com reporte diário que resultam em mais produtividade, qualidade e agilidade para os negócios.

Com foco na análise de grandes volumes de dados, esta solução tem como diferencial o fato de ser um sistema modular, o que permite adequar suas funções conforme a demanda de cada cliente, além de ter integração com sistemas ERP (Planejamento de Recursos Empresariais). A solução possibilita o envio de alertas sobre o status de funcionamento de equipamentos ou de falhas por SMS ou e-mail aos responsáveis para tomadas de decisões mais ágeis e assertivas.

Com a fábrica de Campinas, o executivo diz que a Bosch é uma das pioneiras em I4.0 no Brasil ao desenvolver e implementar as soluções desde 2012. Além de efetivar as soluções para ganhar eficiência nas próprias operações, a companhia passou a oferecer estes recursos aos clientes – uma frente de negócios que ganha cada vez mais força.

Em 2019 a companhia gerou globalmente 750 milhões de euros em receitas com a oferta de soluções de indústria 4.0, resultado 25% maior que o do ano anterior. Monteiro diz que o sucesso se justifica pelo diferencial da marca para fazer estas entregas:

“A nossa experiência de manufatura vem das inovações que criamos a partir de dores reais identificadas nas nossas fábricas. Não somos simplesmente provedores de software”, explica o diretor industrial.

E QUAL É A VANTAGEM PARA O CONSUMIDOR

A lista de soluções inteligentes da planta de Campinas é farta. Monteiro diz que, além de garantir eficiência e produtividade, as soluções tecnológicas para as fábricas têm o propósito de beneficiar também o consumidor final.

“Ao reduzir os custos de produção há uma tendência de que essa economia chegue também aos clientes em alguma proporção. Além disso, com toda a cadeia de valor conectada, é possível ter controle sobre a qualidade, segurança e personalização dos produtos”, diz Monteiro.

Ele cita a possibilidade de, sem sair de casa, o consumidor encomendar um veículo com todas as opções que desejar. Com conectividade na nuvem e tecnologias de ponta, o carro poderá ser produzido no mesmo tempo que os produtos feitos em larga escala. Além disso, as tecnologias de segurança garantem melhor controle de produção, qualidade e otimização do produto, garantindo ao consumidor um produto mais seguro.

UMA FÁBRICA ANTIGA PODE (E DEVE) SER CONECTADA

Apesar de empresas como a Bosch serem referências no desenvolvimento de softwares e soluções da indústria 4.0, a maior parte do setor automotivo ainda precisa avançar nessa direção. De acordo com pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria, companhias de diversos portes de todos os setores industriais ainda têm dificuldade em implementar essas tecnologias. No levantamento, 42% dos entrevistados indicam ainda não terem iniciado a jornada para tornar a produção mais conectada e eficiente.

No setor automotivo um dos grandes desafios está nas máquinas, que têm idade média de 17 anos. Monteiro garante, no entanto, que é possível levar a Indústria 4.0 até mesmo para as operações mais antigas. O caminho é instalar sensores e usar softwares inteligentes para levar conectividade e inovação sem descartar o equipamento atual.

“Na Bosch transformamos um torno mecânico com mais de 100 anos, que era utilizado pelo próprio Robert Bosch, em uma máquina conectada. A ideia foi criar um show case para mostrar que é possível transformar o parque fabril já instalado por meio de sensores. Principalmente as pequenas e médias empresas podem, e devem, implementar soluções que já existem e que serão muito benéficas para essas fábricas”, diz Monteiro.

Um exemplo de solução é o Data Collector, um sistema MES desenvolvido para auxiliar na análise de dados e melhorias nas áreas de manufatura com mais agilidade e foco na causa raiz de ocorrências em linhas de montagem. A Bosch aponta que, entre as funções do sistema estão: visualização do status das linhas de produção e máquinas que são monitoradas em tempo real, emissão de relatórios automáticos, envio de e-mail e conexão com outros aplicativos que tenham código acessível.

Outra solução é o ActiveCockpit, desenvolvido pela Bosch Rexroth, plataforma de comunicação interativa que processa e apresenta os dados da produção em tempo real, reunindo diversos tipos de informações para análise, como identificação imediata de problemas na linha de produção, bem como outras situações que contribuem para aumentar o nível de qualidade de produtos, a produtividade e a competitividade.

INOVAÇÃO PARA ALAVANCAR A RETOMADA

Segundo o Índice Global de Inovação, o Brasil ocupa o 71º lugar no ranking de competitividade dentre 141 países. O investimento em Indústria 4.0 pode ser um passo importante para o setor automotivo nacional ganhar competitividade diante da possibilidade da abertura do mercado.

Na visão de Monteiro, “ainda é muito difícil para alguns tomadores de decisão apostarem na tecnologia conectada porque existe pouco benchmarking no mercado, mas os que têm, mostram sua efetividade”. O executivo diz que o momento de investir em fábricas conectadas e eficientes é agora, assim a indústria fica mais competitiva para a retomada do mercado após o primeiro impacto da pandemia.

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