Locadoras encontram dificuldades para fornecimento de veículos

Apesar do mercado estar em forte retomada, locadoras não recebem veículos por parte das montadoras e pedidos em atraso já representam 150 mil unidades


SUELI REIS, AB

As locadoras de veículos estão em um embate com as montadoras por causa dos pedidos em atraso, que representam 150 mil unidades, segundo estimativa da Abla, associação que reúne as empresas do setor de locação. A entidade indica que atualmente seu principal gargalo é a falta de veículos para entregas por parte das fabricantes, o que está comprometendo a operação desde a forte retomada do segmento, em agosto.

Segundo o presidente da entidade, Paulo Miguel Jr., do total de pedidos em atraso, a Abla estima que as montadoras deverão entregar entre 80 mil e 90 mil unidades até dezembro, o que prejudicaria a operação no fim do ano, sazonalmente mais aquecido por causa do período de férias. O executivo afirmou na terça-feira, 3, durante uma coletiva de imprensa, que há o risco de não ter carro suficiente para atender a demanda no período.

"Sabemos que a indústria enfrenta problemas com aumento dos custos por causa do câmbio; da cadeia de fornecimento que também não consegue acompanhar a demanda; além da baixa produtividade por causa das medidas restritivas sanitárias. Mas exatamente por causa da crise gerada pela pandemia as montadoras mudaram sua postura e estão priorizando a rentabilidade, focando sua produção no varejo", afirma o presidente da Abla, Paulo Maiguel Jr.

A situação atual da indústria dificulta a entrega de veículos para a venda direta, modalidade de negócio em que a montadora vende diretamente para o cliente final, o que inclui as locadoras. Neste ano, o setor de locação também paralisou completamente suas atividades ao longo de todo o segundo trimestre por causa da pandemia. No período, registrou uma série de devoluções de veículos e com os pátios cheios e sem operar, muitas empresas optaram pela venda de seus ativos, tanto para criar fluxo de caixa quanto para equilibrar os espaços dos estacionamentos.

Segundo Miguel, as vendas pelas locadoras durante a falta de operação chegaram a 81 mil veículos, diminuindo a frota de 997 mil (dado de dezembro de 2019) para uma frota atual que opera com 916 mil veículos. O presidente da Abla reforça que as locadoras não têm mais condições de vender seus veículos porque não há carros novos para repor e revela ter dificuldades para prever um volume de vendas para as locadoras neste ano.

"Em 2019, as locadoras foram as responsáveis pelo emplacamento de 540 mil veículos; em 2020, até setembro, nosso volume de compras estava em 236 mil. É difícil fazer qualquer projeção para o ano por causa do problema das entregas. As montadoras não colocaram o quanto vão entregar para o nosso setor neste ano, não sei se chegaremos a 350 mil, essa é uma mera suposição e muito otimista, estou brigando com a indústria para chegar neste número", declara o presidente da Abla.

Por conta disso, ele acredita que pode haver uma redução da venda direta no médio prazo, uma vez que a prioridade tem sido o varejo. “Só precisamos ver o quanto o varejo vai aguentar, porque já passamos por isso antes, é cíclico: quando o varejo vai bem, as montadoras restringem as vendas diretas e vice-versa.”

DEMANDA AQUECIDA NAS LOCADORAS

Segundo Miguel Jr., a grande surpresa foi a retomada em V no setor de locação que vem sendo registrada desde agosto. Os negócios de aluguel de veículos têm sido impulsionados por todos os segmentos, desde serviços até turismo, que voltaram 100%, incluindo trabalhadores de aplicativos, que hoje representam 20% dos negócios. Além disso, houve ainda o ingresso de novos clientes, que por causa da pandemia, optaram pelo aluguel de veículos em detrimento do transporte público.

Com a demanda em alta, as locadoras repassaram o aumento dos custos e elevaram a tarifa, que inflou entre 10% e 20% em média. No entanto, segundo o presidente da Abla, não há indícios de queda dos negócios. “Mesmo com o aumento da tarifa, a locação continua sendo barata e isso não vai impactar na demanda”, aponta.

O executivo conta que nesta demanda aquecida, há uma nova tendência de viagens curtas por causa da pandemia, o que deve se intensificar no fim do ano; novos perfis ingressando no setor de locação; operadores de aplicativos que já voltaram 100% e representam cerca de 200 mil veículos alugados.

“O próprio Uber vem incentivando a locação, facilitando a contratação de novos operadores, existe uma lista de espera neste sentido em várias locadoras, elas só não têm mais veículos para alugar.”

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