Lideranças precisaram reformular abordagens com a pandemia

Lideres tiverem que se preocupar com a saúde dos negócios, mas acima de tudo, com a saúde dos colaboradores


ERICA MUNHOZ, PARA AB

Como as lideranças das empresas manejaram o desafio da pandemia de coronavírus foi tema abordado por, Marcos Calliari, CEO da Ipsos (empresa pesquisa e inteligência de mercado), e Patrice Lucas, presidente do Grupo PSA América Latina, durante o último dia de lives do #ABX20 – Automotive Business Experience na sexta-feira, 13.

Para Calliari, num primeiro momento, quando foi preciso parar tudo em função da Covid-19, houve a necessidade de enfrentamento, reorganização e sobrevivência, e todos os líderes precisaram pensar na saúde do negócio e também das pessoas: “Naquele momento, vimos enorme dedicação dos líderes, de tempo e de recursos, para se adequar à imprevisibilidade. Depois, veio a fase de adaptação com as medidas de segurança e preservação. Agora, é tempo de se antecipar às mudanças”, indicou.

Segundo o CEO da Ipsos, são três os grandes desafios dos líderes daqui para frente: necessidade de crescimento, rever os processos da empresa para entregar relevância ao mercado e gestão de talentos. Para tanto, será mandatório ouvir mais os clientes, praticar mudanças contínuas sempre em busca de eficiência e integrar os talentos, com um novo olhar da área de recursos humanos para a questão do sistema híbrido de trabalho (empresa e remoto/home office). A comunicação precisará ser clara e reforçada e a gestão mais técnica, mais voltada para desempenho e autonomia.

Na PSA os desafios foram igualmente intensos. A primeira providência foi proteger colaboradores, com fechamento da produção e áreas administrativas, e também a empresa, estabelecendo protocolos de segurança contra a Covid-19, dando continuidade aos negócios, simplificando processos e buscando vendas para resistir à baixa do caixa: “A comunicação foi essencial nesse processo todo para seguir com um bom e eficiente contato as pessoas, informando a todos os passos que daríamos de maneira clara e objetiva”, lembrou Patrice Lucas.

Em julho, após três meses de paralisação, a PSA retomou a produção na fábrica de Porto Real (RJ) e, passada a fase mais aguda da pandemia, mais uma vez precisou se reorganizar para o rebote de mercado, não só com a demanda que havia ficado represada, mas com a mudança de necessidade do clientes, que partiram em busca dos carros de modo a evitar o transporte público. Com isso, a empresa precisou aumentar os volumes de produção, mas com parcimônia porque empatar recursos em estoque é algo muito complicado para as montadoras neste momento, segundo o executivo.

Semana passada, a parte administrativa voltou ao trabalho no escritório, mas sem a exigência da PSA de presença maciça. Houve quem preferiu manter o home office. E a partir dessa experiência a empresa está fazendo uma revisão das atividades para aproveitar o melhor dos dois mundos que se desenharam no período. A meta, contou Lucas, é baixar dos 100% para 30% a presença no escritório.

Na opinião de Calliari o que aconteceu foi um isolamento com várias cargas emocionais, portanto, o que está se vivenciando é algo diferente do simples home office, porque as pessoas não estavam acostumadas, mas precisaram se adaptar e isso pode gerar várias implicações. Quando a pandemia arrefecer, como será lidar com a distância sem perda? E a cultura corporativa vai se perder? Inovação está ligada à convivência e troca de ideias: como criar esse ambiente com as pessoas distantes? “Por isso digo que a gestão de talentos deverá ser mais técnica de modo a afinar os objetivos dos colaboradores com os da empresa”, afirmou o CEO da Ipsos.

Ambos os executivos concordam que integração será um grande desafio. Por outro lado, também acreditam na capacidade do ser humano de ser adaptar. Para o presidente da PSA, o desafio trouxe consigo grandes aprendizados e um dos mais importantes foi entender que simplificação é essencial.

"Quanto mais objetivos formos em nossas orientações e mais claros em nossos planos de ação, melhor. É onde a comunicação entra para dar sentid, explicar, cuidar, escutar e dar os passos necessários. Assim conquistamos agilidade, trabalho coletivo e eficiência, que nos guiará para o futuro e nos ajudará a viver nesse mundo caótico, que não gostamos, mas que é realidade e temos que enfrentar", frisou Patrice Lucas.

CLIENTE NO CENTRO DA TRANSFORMAÇÃO

Se os clientes voltaram da jornada da pandemia com um milhão de perguntas, paciência, não há resposta para tudo, mas há como fazer diferente e, para isso, será preciso estar ainda mais perto do cliente, com um olhar de personificação, entendê-lo de verdade.

"Indiscutivelmente houve e haverá mudança de comportamento. Será precisa reavaliar a jornada de compra do cliente e bolar novas estratégias. As famílias estarão mais conscientes dos gastos e isso pode afetar o setor automotivo. Por outro lado, a pandemia motiva a compra do carro. São questões antagônicas, mas ao mesmo tempo, complementares para a construção dos próximos passos. E é bom as empreas se atentarem que a responsabilidade social está no radar das pessoas e será fator de decisão", destacou Marcos Calliari.

E Lucas reforçou que essa mudança de comportamento do cliente obriga as montadoras não só a fabricar e vender, mas entregar serviços: “A nova geração não tem a mesma relação com o automóvel que a passada. Veículo hoje é um objeto de conexão, depois será autônomo, uma virada tecnológica que mudará essa relação. Temos que trabalhar com essas visões para elaborar o futuro”, finalizou.
 

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