Interesse por automóveis cresce porem preços não favorecem aquisição
Automotive Business -
Pesquisa indica crescimento na escolha das pessoas por automóveis no lugar do transporte público
PEDRO KUTNEY, AB
Das várias mudanças de comportamento provocadas pela pandemia de coronavírus, entre as mais evidentes está a aversão ao uso do transporte público pelo alto risco de contágio. Já havia a percepção que isso deveria aumentar o interesse pela aquisição de um veículo próprio, o que foi comprovado por recente pesquisa realizada pela recém-criada unidade de negócios do setor automotivo da Globo, divulgada na quarta-feira, 18, em uma apresentação on-line promovida pela Anfavea, a associação dos fabricantes (confira mais abaixo os principais resultados do estudo).
A pesquisa feita em outubro com 400 pessoas que não têm carro das classes A, B e C, de todas as regiões do País, aponta que 39% dos entrevistados, cerca de quatro em cada dez, disseram que têm intenção de comprar um automóvel, 22% entre o fim deste ano e no decorrer de 2021 e 17% só a partir de 2022.
Para a grande maioria dos entrevistados, 55%, que tem intenção de comprar um veículo, o principal fator motivador é trocar o transporte público pelo individual, enquanto 14% querem um carro para trabalhar com aplicativos ou entregas de mercadorias, e outros 14% avaliam que é um bom momento para comprar.
PREÇO LIMITA COMPRA DE CARRO ZERO
Um fator limitador é a falta de recursos. Entre os que querem comprar, a pesquisa aponta de 62% pretendem investir no máximo R$ 50 mil – valor hoje muito abaixo da maioria dos carros zero-quilômetro disponíveis no mercado. Por isso, 38% dizem que “com certeza” têm intenção de adquirir um modelo usado, 29% afirmam que será um novo e 32% ainda não decidiram.
Nesse sentido, a pesquisa revela outro dado importante: entre 61% das pessoas que disseram não pretender comprar um carro, 57% não mudariam de ideia por nenhum motivo, mas todos os outros passariam a considerar fazer o negócio se recebessem algum estímulo, e o principal, para 16%, seriam condições mais favoráveis de financiamento, enquanto 13% afirmaram que a redução de impostos ou algum outro incentivo seria um fator que poderia promover a intenção de compra, e para 4% uma promoção de um modelo que atrai poderia alterar sua opinião em favor da aquisição de um veículo.
Para Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, a pesquisa indica uma oportunidade e um desafio: existem pessoas que querem comprar um carro no momento, mas ele admite que a indústria produz atualmente poucas opções dentro do valor máximo que se pretende gastar em um automóvel.
"A pesquisa mostra que existe a oportunidade de vender mais veículos e ajuda a direcionar a estratégia da indústria, mas também existe uma limitação econômica para isso. Um fator que pode compensar isso é a oferta de financiamento atraente, algo que também ficou demonstrado no estudo", destaca Moraes
Outra forma de mitigar o elevado preço dos carros novos é a oferta de aluguel de longo prazo, uma estratégia de venda que alguns fabricantes já começaram a explorar e que a pesquisa da Globo também abordou. Dos 39% que pretendem ter um veículo, 38% disseram que preferem um serviço de assinatura do que a compra, mostrando aqui uma outra oportunidade de ampliar os negócios.
Para Thiago Mariano, líder de estratégia para os setor automotivo da Globo que coordenou o levantamento e sua análise, a pesquisa também demonstra que a comunicação é uma ferramenta primordial para endereçar as muitas dúvidas e ganhar os consumidores que ainda não têm um veículo e começaram a considerar a compra de um. Ele cita, por exemplo, que 19% dos entrevistados ainda não sabem que valor vão investir, outros 23% não decidiram a marca, 27% não escolheram o modelo e 32% nem sequer definiram se será um carro usado ou zero.
“O setor automotivo demanda mais investimentos em construção de marca do que em campanhas de ativação/varejo para conquistar clientes”, atesta Mariano. Ele aponta que 47% dos entrevistados na pesquisa preferem buscar informações sobre veículos em sites especializados e 44% acolhem recomendações de amigos e parentes para escolher um modelo. Propagandas na internet motivam 36% dos ouvidos a procurar informações sobre um carro, enquanto os comerciais na TV motivam 35%.
IMPACTO NO TRANSPORTE PÚBLICO
Na mesma apresentação, a Anfavea também convidou a Moovit, aplicativo de serviços de mobilidade pública, para demonstrar dados de como a Covid-19 afetou o transporte público – e o impacto foi grande, como era de se esperar. Dados da empresa demonstram que o uso do carro próprio triplicou durante a pandemia como forma de evitar o transporte coletivo.
Em pesquisa feita em agosto com 9,5 mil usuários do app em sete capitais brasileiras, 85% disseram que usavam o transporte público antes da pandemia, porcentual que caiu para 68% durante a pandemia e 70% nos próximos seis meses.
Em porcentuais que variam de 55% a pouco mais de 60%, dependendo da cidade, os pesquisados que disseram que preferem usar o próprio carro porque é mais seguro ou porque o transporte público não foi normalizado.
Entre as principais motivações para usar mais transporte público durante a pandemia, 77% disseram que seria o aumento da frota, 63% a localização em tempo real (para saber quando e onde exatamente usar o ônibus), 45% querem informações sobre quais linhas estão operando, 44% querem saber se os veículos estão lotados e 39% usariam somente em horários alternativos às horas de pico.
“De todas essas questões, somente uma não é possível resolver: nenhum operador de transporte vai aumentar a frota se a receita é menor, essa conta não fecha. Mas todos os outros pontos podem ser endereçados com maior uso de tecnologia”, aponta Pedro Palhares, gerente geral da Moovit no Brasil.
A Moovit, originalmente fundada em Israel, hoje opera seu aplicativo em 3,5 mil cidades (500 no Brasil) de 114 países, com 900 milhões de usuários. Este ano a Moovit se tornou uma das empresas do grupo Intel, de olho em aproveitar as oportunidades criadas pela fusão entre tecnologia da informação e mobilidade.
Confira no infográfico abaixo as principais conclusões da pesquisa realizada pela Globo