Iochpe-Maxion comemora a retomada global do setor automotivo em um nível melhor do que o esperado

Resultados da empresa no País apresentam menor ritmo de recuperação com relação a demais regiões do mundo


SUELI REIS, AB

Após o impacto severo da crise gerada pela pandemia nos resultados do segundo trimestre, a Iochpe-Maxion, fabricante de rodas e estruturas metálicas para veículos leves e comerciais, comemora a retomada global do setor automotivo em um nível melhor do que o esperado. Contudo, a companhia de origem brasileira, que possui forte presença nas principais regiões do mundo, vê no Brasil um ritmo mais lento de recuperação com relação aos demais mercados em que atua.

Hoje, o Brasil responde por praticamente toda a receita gerada na América do Sul e atualmente representa 26,8% do faturamento global da companhia, atrás de Europa (33,8%), América do Norte (30,4%) e Ásia mais outras regiões (9,1%). A receita da empresa recuou 19,6% na América do Sul no terceiro trimestre com relação ao mesmo período do ano passado, ao atingir R$ 581 milhões. Embora o índice seja muito menor que a queda de 76% registrada no segundo trimestre, é o pior resultado para o terceiro trimestre entre as demais regiões. Na América do Norte, a companhia saiu de uma retração de 58,3% no segundo trimestre para -0,6% no terceiro, com R$ 797 milhões.

Por outro lado, a recuperação na Europa e na Ásia se mostram mais robustas, com aumento das receitas em 14,7% e 0,4%, respectivamente, para o equivalente a R$ 921 milhões e R$ 215 milhões. Abrigando dez de um total de 32 plantas da Iochpe-Maxion espalhadas no mundo, o Brasil chegou a representar 40% das receitas antes da crise de 2014. Nos anos seguintes, os ganhos locais diminuíram, representando menos de 20% do faturamento global até 2017.

Segundo o CEO da Iochpe-Maxion, Marcos de Oliveira, uma combinação de fatores faz com que o País apresente um desempenho menos favorável do que outras regiões. Ele cita, por exemplo, a chegada da própria pandemia, que se estabeleceu por aqui depois de se consolidar primeiro na Ásia e depois na Europa e Estados Unidos.

“A recuperação do Brasil começou mais tarde porque o País entrou mais tarde no radar da pandemia. A Ásia já iniciava os primeiros sinais da recuperação enquanto o País ainda enfrentava os picos da doença. Mercados como Europa e Estados Unidos começaram a retomar gradualmente em meados de julho; por aqui, esse efeito começou em agosto”, afirma o presidente da Iochpe-Maxion, Marcos Oliveira.

Além disso, a forte desvalorização cambial, que impactou toda a cadeia industrial, continua gerando efeito negativo na recuperação das empresas neste ano. Soma-se a isso o fato de algumas organizações ainda possuírem uma estrutura e capacidade preparada para um mercado que emergiu anos atrás, em 2013, mas que enfrentou uma das piores crises entre 2014 e 2017, e que ainda não recuperou os volumes. “Ainda há herança dessa ineficiência. No entanto, a indústria automotiva vinha se recuperando como um todo desde 2018 e de repente, em 2020, fomos surpreendidos pela pandemia”, pontuou.

NO BRASIL, A RECUPERAÇÃO É LENTA, MAS HÁ MENOS DEMISSÕES

Apesar do Brasil demonstrar letargia na recuperação dos números da Iochpe-Maxion, o País, por outro lado, demonstra que se saiu melhor do que outros países no aspecto demissões: em todo o mundo, a fabricante dispensou 8% de sua força de trabalho, que atualmente conta com 15 mil empregados. No Brasil, onde a companhia contabiliza mais de 7 mil funcionários, o efeito foi reduzido por causa da adoção de medidas de manutenção do emprego.

“O Brasil foi pouco afetado [com as demissões] porque utilizou os programas de flexibilização da jornada, sabendo que o mercado voltaria em algum momento. A maior parte desses 8% de demissões foram na Ásia, América do Norte e Europa. Por aqui, felizmente, a retomada está em nível melhor do que o esperado e estamos utilizando horas extras para acompanhar o nível de recuperação, mas isso varia de fábrica para fábrica”, explica Oliveira.

Embora a empresa não faça previsões financeiras para 2020, no acumulado até setembro, o faturamento global diminuiu 23% com relação aos mesmos nove meses do ano passado, passando de R$ 7,7 bilhões para R$ 5,9 bi. Em seu balanço de 2019, a companhia registrou receita (operacional líquida) global de R$ 10 bilhões.

“Acredito que os mercados apresentando uma estabilidade, o Brasil possa voltar a representar até 30% das receitas globais, mas não voltará a ser 40% como foi um dia”, acrescentou Oliveira. “Existe uma expectativa de segunda onda da Covid-19 e seus efeitos. Na Europa, a sinalização é de que seja apenas um ‘soluço’ nos negócios. Com isso, até agora, nossos clientes da Europa e Estados Unidos indicam que estão mantidos os seus programas de produção para os próximos meses. Concordamos com a projeção mais recente da IHS de que a produção global de veículos deverá crescer 14% em 2021, mas só retomará aos níveis pré-pandemia (de 2019) em 2023.

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