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Volkswagen avalia as dificuldades e espera um mercado abaixo de 2,4 milhões de veículos vendidos para 2021

Análise foi feita pelo presidente da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si


PEDRO KUTNEY, AB

Pablo Di Si, presidente da Volkswagen América Latina, fez um balanço do desempenho da empresa em 2020 e adiantou que em 2021 o mercado brasileiro deverá fechar abaixo de 2,4 milhões de veículos vendidos, que segundo ele seria a estimativa da Anfavea, a associação dos fabricantes instalados no País – a entidade só deverá tornar pública sua projeção para o próximo ano em janeiro. Para Di Si, as fábricas ainda enfrentam muitas restrições à produção impostas pela pandemia de coronavírus, o que tona difícil atingir o volume projetado.

"Temos muitas limitações ainda, como falta de componenetes e insumos para produzir e pressão de custos em toda a cadeira. Mas vamos começar o ano com planejamento de mercado de 2,3 milhões a 2,4 milhões. Caso não seja possível teremos tempo para revisar", afirma Pablo Di Si.

Em meio aos muitos desafios impostos pela pandemia em 2020, o executivo avalia que a Volkswagen conseguiu bom desempenho diante das circunstâncias adversas. Nas vendas acumuladas de janeiro a novembro, a marca está em segundo lugar no Brasil, com 290 mil emplacamentos, o que representa queda de 22% (inferior à retração média de 28% do mercado total de veículos leves) e participação de 16,8%, com ganho de 0,4 ponto porcentual sobre o mesmo período de 2019. A Volkswagen também segue líder na Argentina por 16 anos, agora com market share de 17,4%, 1,8 ponto maior do que o registrado um ano antes. Nos demais mercados latino-americanos (exceto o México) a participação de 4,3% é a melhor já registrada na história da companhia na região.

“Foi um ano muito difícil, sem precedentes, com a crise do coronavírus impactando todo o mundo. Ainda assim, superamos muitos obstáculos, conseguimos resultados melhores que a média, ganhamos market share, aceleramos nossa digitalização e fizemos de forma totalmente virtual o lançamento mais importante do ano, o Nivus, modelo desenvolvido pela equipe brasileira de engenharia, que vendeu mais de 12 mil unidades e já começou a ser exportado para Argentina, Paraguai e Uruguai, e no ano que vem vai para outros mercados e começa a ser produzido também na Europa”, elencou Di Si.

A Volkswagen vai encerrar 2020 muito próxima de tomas a liderança do mercado da GM, com diferença que até novembro foi de apenas 6 mil veículos abaixo da rival. Embora reconheça com alguma alegria que isso de fato pode acontecer ao longo do próximos ano, Di Si afirma que esse não é o objetivo final: “Queremos continuar a crescer e ganhar participação com rentabilidade e produtos sustentáveis, o que estamos fazendo até agora”, sustenta.

REDUÇÃO DE PESSOAL E PROBLEMAS NA PRODUÇÃO

Apesar do cenário melhorado nos últimos meses e mesmo com alguns gargalos produtivos que surgiram devido ao aumento da demanda, a Volkswagen está levando adiante seu plano anunciado no começo de setembro para reduzir em cerca de 35% seu quadro de pessoal, o equivalente a cerca de 5 mil pessoas, por meio de programas de demissão voluntária (PDVs) que foram negociados com os sindicatos de trabalhadores de todas as suas quatro fábricas no País. “Claro que não fico satisfeito com isso, não foram conversas fáceis que eu gostaria de ter, mas precisamos de fazer a redução. Abrimos o PDV faz duas semanas e o acordo que fizemos está dentro das nossa expectativas”, afirmou Di Si.

O principal desafio agora, escala o presidente da VW, é lidar com a falta de alguns insumos e componentes para produzir, bem como a alta acelerada dos custos de produção. “Esperava que essa escassez de suprimentos fosse acontecer em junho ou julho, quanto retomamos o trabalho nas fábricas. Mas não ocorreu na época e está acontecendo agora, quando o mercado brasileiro e argentino estão voltando com mais força e não conseguimos atender a demanda tão rápido. É um problema global. A China voltou forte e tem problemas para abastecer as linhas. Creio que vamos ter de administrar esses problemas pontuais por mais 30 a 40 dias”, avalia.

Sobre a alta dos custos, Di Si confirma que “essa é uma luta diária, mas não há muito o que fazer com preços internacionais de commodities”. Mas contra a desvalorização cambial que também implica em elevação de gastos com componentes importados, o presidente da Volkswagen indica que o caminho é nacionalizar: “Trabalhamos para nacionalizar mais e assim eliminar os riscos cambiais. Já nacionalizamos bastante e vamos fazer muito mais nos próximos três anos”, revela.

OFENSIVA “SUVW”

O plano de 20 lançamentos iniciado em 2017, que deveria ter sido encerrado este ano, termina 2020 quase concluído. A estratégica ofensiva no mercado de SUVs, o segmento que mais cresce no País e no mundo, está quase completa. Na transmissão do balanço do ano, chamada sintomaticamente pela Volkswagen de “SUVW Day”, Di Si posou ao lado dos quatro utilitários esportivos produzidos sobre a plataforma global MQB que já compõem o portfólio da marca por aqui: Tiguan Allspace produzido no México e lançado em 2018, o T-Cross fabricado em São José dos Pinhais (PR) que chegou em 2019 e o Nivus feito em São Bernardo do Campo (SP) desde o meio deste ano.

Também estava exposto no estúdio montado dentro da fábrica de São Bernardo o Taos, que está entrando em produção na Argentina, onde foram feitos investimentos de US$ 650 milhões para introduzir a plataforma MQB na planta (leia aqui). A previsão era lançar o SUV médio agora, mas com as paralisações e o atraso nas obras de modernização da fábrica de Pacheco, a chegada do modelo ao Brasil precisou ser adiada para o segundo trimestre de 2021.

A esse portfólio em 2021 também deve ser integrado o novo Touareg, SUV de grande porte importado da Europa que já foi lançado na Argentina. E a picape média-compacta a ser produzida sobre a MQB, que foi apresentada no Salão de São Paulo em 2018 como o conceito Tarok, ainda não tem data confirmada. “Teremos novidades sobre isso em 2021, ao lado de outros lançamentos”, indicou Di Si.

Segundo o executivo, com o impacto inicial da pandemia sobre os negócios, todos os investimentos foram congelados, mas boa parte já foi “descongelada” e está retomando seu curso agora. Di Si espera anunciar em 2021 um novo ciclo de investimento da empresa no Brasil, após o encerramento do programa de R$ 7 bilhões entre 2017 e 2020.

Os planos anunciados recentemente pelo Grupo VW de investir € 73 bilhões para nos próximos 10 anos lançar 70 carros elétricos e 60 híbridos, com o objetivo de se tornar um fabricante neutro em carbono até 2050, também terá reflexos no Brasil, onde a empresa participa junto com Porsche, Audi e EDP da instalação de 30 eletropostos de recarregamento e promete introduzir cinco modelos Volkswagen eletrificados nos próximos cinco anos – depois de já ter lançado este ano o Golf GTE híbrido plug-in.
 

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