Brasil precisa definir quais matrizes energéticas serão utilizadas nos próximos anos
Automotive Business -
Representantes da Anfavea, AEA e Sindipeças defendem a necessidade de se ter mais clareza quanto as rotas tecnológicas que o país vai seguir
SUELI REIS, AB
Os representantes da Anfavea, AEA e Sindipeças defenderam a necessidade de se ter mais clareza quanto à rota tecnológica que o Brasil vai seguir quando o assunto é o futuro da mobilidade sustentável, guiada pela redução das emissões. As entidades que reúnem diferentes empresas da cadeia automotiva avaliaram o papel do setor e também do governo no desenho de uma política integrada que defina qual ou quais matrizes energéticas o País deverá adotar nas próximas décadas.
O debate realizado de forma virtual foi organizado e mediado pelo diretor da consultoria Bright Consulting, Paulo Cardamone, na segunda-feira, 14, e contou com o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, do presidente do Sindipeças, Dan Ioschpe, do presidente da AEA, Besaliel Botelho, e de Adriano Pires, diretor da CBIE, consultoria especializada em infraestrutura e energia.
"Países como a China, Coreia do Sul e a Alemanha, por exemplo, possuem políticas de Estado - e não de governos, porque estes são passageiros - que determinam qual a matriz energética dentro da rota tecnológica que o país vai prioriza a partir de 2040, 2050 etc. Nós da indústria defendemos que o Estado, independentemente do governo, tem um papel muito maior do que ser só um regulador. E nós queremos saber qual será a nossa matriz energética no longo prazo; com qual velocidade vamos sair do combustível fóssil, porque isso requer grandes investimentos", disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.
“Temos uma matriz forte que são os biocombustíveis e temos que aproveitar isso”, acrescentou Moraes. Ele lembrou que o setor estima um investimento total no Brasil de R$ 12 bilhões pelos próximos cinco anos em diversas tecnologias e produtos cujo principal objetivo é a redução cada vez maior de emissões. O dirigente defendeu ainda que o Brasil deve criar condições para traçar uma rota tecnológica visando a mobilidade sustentável e que isso passa por revisão tributária.
“Sabemos que não há capacidade para incentivos, mas é pelo menos necessário um sistema tributável que não penalize; precisa construir um ecossistema que seja sustentável e o setor automotivo não é o único responsável por isso, dependemos de infraestrutura de distribuição de gás veicular, de qualidade dos biocombustíveis, de conectividade adequada, incluindo o campo; tudo isso requer envolver mais agentes para criar uma solução sustentável economicamente para a cadeia e que não atenda só o Brasil”, completou Moraes.
Por sua vez, Dan Ioschpe reforçou que o papel do governo é dar tranquilidade institucional para que todos os agentes desse ecossistema possam participar. “Não se pode esquecer de que é necessário considerar os impactos sociais, sejam eles ambientais ou socioeconômicos, bem como atacar o custo Brasil, que impacta diretamente a nossa competitividade. Temos que fazer a lição de casa que ainda não fizemos nas questões equitativas”, disse.
Os executivos não comentaram sobre o Rota 2030, se o programa auxilia de alguma forma com a definição desse ecossistema ou se atende as necessidades que a cadeia produtiva considera como prioritárias para seguir uma rota tecnológica visando a mobilidade sustentável.
Besaliel Botelho, presidente da AEA (Associação Brasileira da Engenharia Automotiva), lembrou que a engenharia brasileira vem trabalhando há décadas em soluções de mobilidade sustentável principalmente com os combustíveis alternativos, incluindo o etanol.
“Talvez não tenhamos tido força política internacional para mostrar esse esforço do Brasil e isso tem tirado o brilho dessas últimas décadas em termos de desenvolvimento. Acredito que após a pandemia, essa mobilidade deverá ser pautada por uma globalização das diversas alternativas que vão dominar as diferentes rotas tecnológicas pelo mundo”, declarou Botelho. “Se não colocar claramente uma política de Estado de forma pragmática com os governos não chegaremos lá.”
TECNOLOGIA PARA BRASILEIRO VER
O diretor da CBIE, Adriano Pires, concordou ao dizer que certamente não haverá uma única matriz energética dominante global e que no Brasil deverá haver diferentes níveis de participação de várias matrizes, desde os combustíveis alternativos, como biocombustíveis e gás até a eletrificação, consolidando um modelo híbrido de matrizes energéticas.
“A reforma tributária – que só se ouve falar e nunca vem – será muito importante para essa rota tecnológica brasileira que vai estar muito ligada à questão de preço e poder de consumo da população: é preciso definir rotas de acordo com as características econômicas da população – aqui não é a Noruega, a Alemanha ou a Califórnia, onde o carro elétrico tem incentivos e preços reduzidos.”