Publicidade

Segmento de veículos pesados de carga foi menos afetados pela pandemia

Primeiro ano sem produção da Ford tem distribuição de participação aos concorrentes


PEDRO KUTNEY, AB

O ano de pandemia afetou menos o segmento de veículos pesados de carga, que se alimentou do crescimento do agronegócio, construção civil e entregas urbanas, registrando queda nas vendas de 12% em relação a 2019 – menos da metade do tombo porcentual do mercado total, que recuou 26%. Nesse cenário, os fabricantes de caminhões com leque mais amplo de produtos aproveitaram melhor as oportunidades, como é o caso de Mercedes-Benz e Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), que registraram pequeno declínio nas vendas anuais (ambas -4,2%) e ampliaram em mais de cinco pontos sua liderança geral no ranking de vendas de caminhões, com domínio de quase 64% dos negócios em 2020.

Entre as dez fabricantes que mais venderam caminhões no Brasil no ano passado, duas sequer registraram recuos nos negócios – muito pelo contrário, cresceram significativamente em comparação com 2019. Foram os casos únicos de Iveco e DAF, que aumentaram as vendas em 30% e 18%, respectivamente. Com isso, ambas galgaram um degrau cada no ranking nacional, a Iveco subiu da sexta para a quinta posição e a DAF da sétima para a sexta, fechando assim o bloco de seis marcas que venderam acima de mil unidades no ano.

Foi o primeiro ano sem produção da Ford Caminhões no Brasil, que em 2019 desistiu do negócio e fechou a fábrica de São Bernardo do Campo (SP). Com isso, a fabricante que por muitos anos teve a terceira marca de caminhão mais vendida do País, em 2019 caiu para a quinta posição e em 2020 desceu para a sétima com o emplacamento residual de apenas 575 veículos produzidos no ano anterior. Assim foram cedidos 5,5 pontos porcentuais de participação de mercado que a concorrência tomou, principalmente as líderes Mercedes e VWCO e a emergente Iveco, todas com linhas de produtos que cobrem os mesmos segmentos em que a Ford atuava.

MAIS CONCENTRAÇÃO DE MERCADO

A saída da Ford aumentou a concentração de mercado entre as duas líderes. A Mercedes-Benz seguiu no topo do ranking com pouco mais de 30 mil unidades emplacadas em 2020 (considerando os dados do Renavam consolidados e divulgados pela Fenabrave, que soma as vendas das divisões de caminhões e de vans Sprinter chassi-cabine semileves, que em 2019 se tornaram empresas independentes). Com esse resultado, as vendas da marca caíram apenas 4,1% sobre o ano anterior e houve expansão de 2,66 pontos porcentuais na participação de mercado, que saltou para 32,5%. Mais da metade dos negócios da Mercedes em 2020 ficaram concentradas nos segmentos de caminhões pesados e semipesados, com bom desempenho das linhas Axor e Actros, enquanto as Sprinter semileves anotaram crescimento de 8,8%.

A VWCO/MAN vem logo atrás com quase 29 mil emplacamentos (aqui também estão consideradas as vendas do VW Delivery Express, ou DLX, que embora seja classificado oficialmente como um modelo comercial leve, tem 3,5 toneladas de PBT e está mais próximo de ser um caminhão semileve). A fabricante teve queda anual de 4,1% nas vendas, mas ganhou 2,56 pontos de participação, para 31,3%, com crescimento de 10% no segmento de semipesados com os modelos Constellation e pequeno declínio de 3,3% nas compras do DLX, que vem ganhando força nas operações de entregas urbanas.

DISPUTA DOS PESOS-PESADOS MAIS ACIRRADA

As duas suecas Volvo e Scania, que costumam dominar o segmento de caminhões pesados no País, em 2020 tiveram convidados mais fortes para disputar o mercado: a Mercedes-Benz apoiada no sucesso do novo Actros e a DAF que já vinha crescendo como boa opção e apresentou o novo XF. A VWCO também entrou na concorrência com o lançamento do Meteor, mas ainda não teve tempo de ampliar a base de clientes para o novo concorrente no ano passado.

No ano a Mercedes liderou novamente as vendas de caminhões pesados no País, seguida de perto pela Volvo com seus FH (mais uma vez o pesado mais vendido do mercado). No total a fabricante sueca emplacou quase 15 mil unidades (contando também as vendas do semipesado VM) em 2020, anotando queda de 11,1% sobre 2019, mas se consolidando no terceiro lugar do ranking nacional de caminhões com participação de 16,2%, mesmo disputando em apenas dois segmentos.

Com produtos e pegada de mercado similares, a Scania se manteve no quarto lugar do ranking com 8,7 mil emplacamentos em 2020, mas teve o pior desempenho entre os fabricantes líderes, com expressiva queda nas vendas de 31,7% e perda de 2,7 pontos de participação, que caiu a 9,4%.

Parte do terreno cedido pela Scania parece ter sido tomado pela DAFcom seu novo XF. A marca holandesa pertencente ao Grupo Paccar emplacou 3,8 mil caminhões no País, em crescimento de 18% sobre 2019 e ganhou 1 ponto porcentual de participação, que subiu a 4,1%, colocando a fabricante que começou a produzir no Brasil em 2013 na sexta posição do ranking nacional de caminhões.

Por fim, entre as seis marcas de maior relevância que dominam 99% das vendas de caminhões no País, a Iveco foi de longe a que obteve o melhor desempenho porcentual. Os 5 mil emplacamentos da marca em 2020 representaram expressivo crescimento de 30% e ganho de 1,77 ponto de participação, que subiu a 5,5% e colocou a fabricante italiana com planta em Sete Lagoas (MG) na quinta colocação do ranking.

A Iveco aproveitou bastante o terreno deixado pela Ford, abriu 12 novas concessionárias em 2020 e ampliou sua rede para 77 pontos. A marca também fez lançamentos importantes e cresceu 111% nas vendas de modelos leves com os novos Daily, 280% em médios e 59% em semipesados com os novos Tector, o que compensou a performance negativa entre os pesados, segmento em que anotou queda de 21% sobre 2019 com os Hi-Road e Hi-Way.
 

Publicidade