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Grupo Daimler concorda em dividir a corporação em duas empresas totalmente independentes

Empresa pretende separar o controle dos negócios e lançar novas ações da fabricante de caminhões e ônibus até o fim de 2021


PEDRO KUTNEY, AB

O Grupo Daimler planeja implementar novas e importantes alterações em sua estrutura organizacional ainda este ano, segundo informou em teleconferência com investidores na quarta-feira, 3. Os conselhos de supervisão e administração concordaram em dividir a corporação em duas empresas totalmente independentes, com o lançamento de ações próprias da unidade de caminhões e ônibus Daimler Trucks, que assim ficará definitivamente separada da Mercedes-Benz, que hoje concentra as operações de automóveis e vans.

A intenção é que o plano seja aprovado pelos acionistas em uma assembleia extraordinária ainda a ser agendada no terceiro trimestre, para lançar a fabricante de veículos pesados como companhia independente na Bolsa de Frankfurt, Alemanha, até o fim de 2021. Também foi informado que um pouco mais adiante o grupo pretende mudar seu nome de Daimler para Mercedes-Benz.

SEPARAÇÃO TOTAL

Em 2018, a companhia já havia feito uma divisão operacional do grupo em três unidades: Mercedes Benz Cars & Vans, que concentra os negócios de automóveis e comerciais leves da marca; Daimler Trucks, que produz caminhões e ônibus das marcas BharatBenz, Freightliner, Fuso, Mercedes-Benz, Setra, Thomas Built Buses e Western Star; e a divisão financeira e de serviços de mobilidade Daimler Mobility. Mas ao contrário do que está sendo proposto, não houve separação de capital, todas as divisões permaneceram sob uma única identidade acionária e controle do Grupo Daimler. A ideia agora é lançar ações próprias da Daimler Trucks.

Segundo a empresa, a transação é relativamente independente das condições de mercado e não deverá enfrentar obstáculos de órgão reguladores, porque não requer investimentos adicionais, as ações da nova companhia independente, a Daimler Trucks, serão apenas distribuídas aos atuais acionistas do Grupo Daimler, que pretende manter participação minoritária na companhia e ceder o controle ao mercado.

Após a separação acionária, Mercedes-Benz e Daimler Trucks terão concelhos e administração completamente independentes. As duas empresas vão absorver cada uma a parte que lhes cabe da Daimler Mobility, criando divisões internas de operações financeiras e de serviços de mobilidade.

Para Ola Källenius, presidente do conselho de administração do Grupo Daimler e da Mercedes-Benz, a proposta de separação vai criar duas empresas mais eficientes, a Mercedes-Benz focada no mercado global de carros de luxo comprometida em liderar o desenvolvimento de automóveis elétricos premium e sistemas de computação veicular, e a Daimler Trucks como maior fabricante mundial de caminhões e ônibus que busca acelerar a aplicação de tecnologias para reduzir emissões e ampliar a segurança ativa dos veículos.

Mercedes-Benz Cars & Vans e Daimler Truck & Buses são negócios diferentes com clientes específicos, tendências tecnológicas próprias e necessidades de capital distintas. Acreditamos que ambas estão maduras para operar de forma mais efetiva como entes independentes, com forte liquidez e livres das limitações estruturais de um conglomerado”, afirmou Ola Källenius.

DIVISÃO SÓLIDA

A empresa que deverá ser formalmente separada do Grupo Daimler até o fim do ano, a Daimler Trucks, atua em 35 mercados no mundo com 100 mil empregados e cinco marcas de caminhões e duas de ônibus, que juntas somaram vendas globais perto de meio milhão de veículos pesados em 2019. No último balanço anual divulgado em 2019 a operação de caminhões faturou € 40,2 bilhões e a de ônibus € 4,7 bilhões, apurando lucro antes de impostos e despesas financeiras (Ebit) de € 2,5 bilhões e € 283 milhões, respectivamente.

“A independência traz mais oportunidades, visibilidade e transparência. Vamos crescer e consolidar nossa liderança em propulsão alternativa e automação. A Daimler Trucks tem base financeira sólida e modelo de negócios robusto. Vamos continuar a trabalhar na administração de nosso fluxo de caixa e sabemos como lidar com os ciclos do mercado, provamos isso com a retração relacionada à Covid-19. Vamos usar nossas bem-conhecidas marcas globais, escala e tecnologias para entregar os melhores retornos da indústria”, afirmou Martin Daum, membro do concelho de administração do Grupo Daimler e atual presidente da Daimler Trucks.

NEGÓCIOS INCOMPATÍVEIS

Nas últimas décadas os negócios de veículos leves e pesados parecem ter se tornado incompatíveis dentro de um mesmo grupo automotivo. A Daimler está entre as últimas do setor a seguir a estratégia de separar as divisões de automóveis das de caminhões e ônibus.

O antigo Grupo Fiat (depois FCA e agora Stellantis) fez o mesmo em 2010, quando criou a Fiat Industrial para abrigar a Iveco e a fabricante de motores FPT, depois incorporadas na hoje CNH Industrial. Mais recentemente, o Grupo Volkswagen criou o Traton Group para alocar de forma independente as fabricantes de veículos comerciais pesados MAN, Scania e VWCO.

Outras, como Ford e GM, simplesmente fecharam suas unidades de caminhões de grande porte. Há mais de 20 anos Volvo Group e Volvo Cars são corporações diferentes, enquanto algumas empresas venderam as operações de caminhões a companhias especializadas – como foi o caso da Nissan Diesel vendida à Volvo e da Mitsubishi que vendeu a Fuso à atual Daimler Trucks.

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